Nudez verbal – opróbios
Ivane Laurete Perotti
Cada história tem dois lados. E o inferno permanece vazio, esgotando-se reservas para os homens de bem e seus campos de centeio. Baixo glúten dentro e fora da bruaca.
Bruacas, para não pecar no singular. Por que farinhas trocamos nossa alma? Que alma? Platão negou discurso. Deu linha à figura pareada com o medo construído em altar de paus, bem-colocada acima e à frente dos opróbios atuais. As farinhas? A Anátema: propedêutica a serviço da excomunhão do pensamento racional. Científico. Mínimo. Ah! Gentes! Gentes! Entre o barro e a ameba, o rascunho, se divino, deitou-se borrão. Desdouro. Mácula na saliva da criação.
– Vi o braço levantar-se em oferenda. De entre os dedos, saltaram versos de veneno e fel. Fiel.
O deus da misericórdia arrolhou os ouvidos. Exausto. Esgotado pelo fruto das bocas que serpenteavam o jardim da língua.
_ E o coração, meu deus? E o coração?
_ O coração? Desposou o intestino. E, na primeira …
“Anathemas” obram nuas. Cavalgam, como se amazonas fossem, no flanco da palavra. Ávidas, operam “likes”, “des/likes”. Revitalizam maldições. Quantas. Sempre. Muitas. Todas. Furam a saca: cevadura. Ferem a verve: rapina dos tipos. Rezam a senda dos algoritmos, agora sanguíneos. Plasmáticos. Numéricos: carmesim.
Desejei ofertar um impropério imaculado. Divergente, por que neutro. Puro, por que novo. Vivo, por que povo. Nada! Todos ocupados de antemão. Marcados pelos braços ideológicos da anátema agarrada ao dizer: palavras atualizadas no calor das verdades individuais. De “Porsche ao ponche”! Ou do último para o primeiro.
Quantos lados têm uma história? Se lados, em pelo e pele. Mesmo que silenciados. Apagados. À bala. Na sala. Mesmo que.
O verbo entrega-se a descoberto. À “peladez” colam-se farinhas. Cevaduras. Tipos. Afinal, a história é uma ficção embrulhada em memórias arquivadas em palhas. Tementes ao fogo do esquecimento.
Diante do altar, dedos enluvados apontam para longe de si.
_ O real. O real. O real.
_ Impossível!
_ Improvável!
O real se nos escapa. Por que simbólico. Por que verbal. E no lugar dele, vamos construindo uma realidade de anátemas. Eclesiástica. Religiosa. Antropológica. Política. Gentes!
Desejei impropérios.