Espécie em extinção
Jacqueline Caixeta
Parando para observar um pouco os cursos de licenciatura, vendo uma oferta maior que a demanda, começo a pensar sobre o futuro da profissão de professor no Brasil.
Dos jovens que saem do ensino médio, perguntados sobre o que irão cursar, poucos se inclinam para as licenciaturas. É uma geração que não se interessa, nem tampouco se encanta, pela sala de aula. Não querem ser professores!
Quando recebo estudantes de licenciaturas para estágio, fico mais triste ainda. Muitos só estão cursando porque foi “o que a nota do Enem deu pra fazer”. Essa fala me entristece muito. Os poucos que entram, entram porque não tiveram outra opção? A escolha por ser professor, na verdade, não foi uma escolha, mas sim uma falta de opção?
Por que será que a licenciatura não está encantando e nem atraindo os jovens para os bancos das faculdades?
Várias análises podemos fazer para tentar responder tal pergunta, e eu começo com a questão salarial.
Temos uma lei de piso salarial para professores que não é cumprida! Esse piso é muito pouco. Para todo o trabalho e responsabilidade de um professor, o que se oferece é muito pouco. Um professor, para ter uma certa tranquilidade financeira, precisa trabalhar em dois ou até três turnos. Em termos de qualidade de vida e de trabalho, isso é impossível. Ninguém consegue falar em qualidade se desdobrando tanto, tendo que se locomover de uma escola para outra sem tempo para se alimentar, por exemplo. Sem contar a carga de trabalho que um professor leva para casa. Final de etapa, provas e trabalhos para corrigir, lançar notas, conteúdos, lidar com planilhas e registros, mantendo tudo em dia, tudo isso demanda tempo e muito esforço do professor. Para fazer tudo isso com qualidade, um turno apenas de trabalho poderia ser possível, o que, na maioria dos casos, não é a realidade do professor que precisa de mais de uma escola para dar conta de pagar suas despesas. Então, definitivamente, financeiramente, não é uma profissão que atrai mesmo.
Saindo da questão salarial, vamos para a questão de respeito e reconhecimento da sociedade.
Não precisa desfilar muito por sites, jornais e pesquisas, as notícias de agressões a professores saltam as páginas de qualquer jornal diariamente. As agressões vão de físicas a morais. Infelizmente, é muito comum ler o quanto o professor é desvalorizado e desrespeitado. Não só por um governo que parece nunca querer reconhecer a importância da educação para a construção de uma sociedade em todos os aspectos, mas por pais e alunos que pouco se importam com os professores. Em uma sala de aula, o professor está sendo agredido diariamente com falas e ações de crianças e adolescentes que não têm, em casa, a primeira formação, que é aquela que minha avó chamava de educação que vem de berço. Algumas famílias estão empoderando seus filhos para desafiarem seus professores, questionando e duvidando sempre de suas atuações. Nada contra crianças e adolescentes empoderados que questionam tudo, pelo contrário, quem me conhece sabe muito bem que adoro esse tipo de atuação. O que questiono é a falta total de educação e respeito com que fazem isso. A falta de embasamento teórico para questionar um professor, sempre tudo muito raso, baseado em vi no tik tok, minha mãe viu no WhatsApp , meu pai falou que não é assim, etc. Os alunos estão vindo para suas salas de aula cobertos de razões que não têm e querem questionar tudo. Da regra da escola à fala de um professor e, o que é pior, com respaldo de suas famílias que não se dão ao luxo de comparecer em uma reunião de pais para tomarem ciência do que se faz na escola. O professor está sendo vigiado em suas falas e ações por alunos que mal sabem interpretar uma fala ou notícia, que, ao menor sinal de desagrado, questionam o professor sem o mínimo de respeito e educação. Muitas famílias só comparecem às escolas para questionarem o que “acham” que está errado, nunca participam de reuniões para saber como serão as ações da escola, quais são suas regras, condutas, pedagogia, seus processos avaliativos, enfim, tudo o que lhes interessa e deveriam estar atentos para saber como funcionará, mas, na hora que algo desagrada seus filhos, chegam com pedras nas mãos mirando sempre o professor.
Não, definitivamente, não está fácil ser professor…
Nós que estamos no chão das salas de aula e vivendo todos esses desafios, permanecemos lutando por melhores salários e mais respeito e dignidade. É uma luta constante da educação. Mas, convencer quem ainda não entrou a entrar, com este cenário que narrei aqui, tem sido desafiador.
Se não pararmos para pensar tais questões que envolvem a profissão do magistério em todos os seus setores, seremos uma espécie em extinção.
Haja amor, haja idealismos, haja coragem! Eu sou apaixonada pelo que faço, a sala de aula é meu palco para a vida, mas não posso ser tão romântica a ponto de não gritar por questões tão importantes quanto a valorização salarial e o reconhecimento e respeito de pais e alunos a nós que acreditamos que a educação é a melhor e maior maneira de transformar vidas.
Vale refletir, vale rever posturas, vale pensar um pouco mais em tudo que um professor representa na vida de uma pessoa. Vale mais respeito!
Com afeto,
Jacqueline Caixeta