Boca para comer
Ivane Laurete Perotti
A besteira consterna e quase não dá vontade de rir. Antes, ela entristece e nos torna bestas por contágio. (Cocteau)
Quadrava o mundo em tempo integral. Do antepasto à sobremesa. Pospasto ininterrupto. Famélico de adesão: afiliamentos.
Pertencia-lhe projeto encimado na “plosão” de furtivas consoantes. Subterrânea articulação. Dentes à mesa. Mãos nos bolsos vazios de bem. Do bem? Cresceu longe. Do bom? De mal a pior. Sustentava carapaça de ventríloquo. Graduado em manipulação. Mestre em demagogia. Financista na bolsa das mentiras empreendidas a rodo e rede. Em rede. Multiplicou adeptos. Proliferou patetices. Patifes e patifarias.
Do real, reinam prevaricações. Da realidade dos acontecimentos…
_ A realidade é uma só!
_ Qual delas?
Tomando-se o perímetro da filosofia realista, há de se entender que a realidade independe da perspectiva. Realista?
_ A realidade é uma percepção ideal…
_ Você é um fenômeno!
_ Sou realista.
_ No mínimo, confuso.
_ É o que temos.
_ É o que escolhemos.
_ Recursos linguísticos, tão somente!
_ Da boca ao beco.
_ Ao bueiro.
_ Refiro-me à capacidade de discernir.
_ O real?
_ A realidade.
Quando a boca serve o servido do prato de vilipêndios, as migalhas são espólio. De projeto. De investimento. Acreditar que as fomes e os infortúnios tabulam a pauta da sorte atende ao im/plantado. Ao subterrâneo espaço da nefasta ideologia evocada. Planejada. Subjacências nutrem olhos. Especialmente, os da ignorância. Besteiras não são inocentes. Ainda menos quando orquestradas por bestas.
O que um dia foi chamado de realidade exige filtro. Filtro de conhecimentos e vacina contra a bestialidade. Tanto contagiam as besteiras que acreditamos no que vemos. Ouvimos. Repetimos. Digam-nos as subcamadas da ionosfera. Boca para comer…