A destruição da educação: uma ferramenta de limpeza étnica
Henrique Caixeta Moreira
Nos últimos meses fomos assolados com notícias sobre a guerra travada entre Israel e Palestina, protagonizada pela IDF (Israel Defense Force) e o grupo terrorista Hamas. Guerras são sempre eventos complicados de se noticiar e de se manter atualizado por sua complexidade política e material. No caso da atual guerra a situação é ainda mais complexa. O conflito não se inicia agora, mas em 1948 com a tomada de território palestino para a criação do estado de Israel pela ONU. De lá pra cá, muita coisa aconteceu e o conflito na região cresceu a níveis exponenciais, com o estado de Israel tomando a maior parte do território palestino. Incluindo a antiga capital e cidade de extrema importância religiosa para judeus e muçulmanos, Jerusalém.
Em outubro do ano passado, um ataque do Hamas deu início a um novo momento da crise na região. O grupo terrorista promoveu um ataque a postos militares, colônias agrícolas e a um evento de música. Como resultado, estima-se que cerca de 1200 pessoas foram mortas e 240 feitas refém pelo Hamas. Logo após o ataque Israel começou uma ofensiva militar devastadora sobre a Palestina sob o pretexto de desmantelar o grupo terrorista e assim se instaurou a atual guerra que vemos nos jornais e nas redes sociais.
Como eu disse, guerras são sempre mais complexas do que parecem, por isso, precisamos olhar para os eventos com uma certa complexidade no olhar. Logo no começo dos ataques de Israel à Palestina fomos pegos de surpresa por notícias que apontavam que Israel teria destruído universidades, escolas, hospitais, estradas e diversas infraestruturas civis através de bombardeios. Do começo da guerra até agora estima-se que mais de 35 mil palestinos foram mortos no conflito, a maioria mulheres e crianças. Nota-se um padrão nos ataques que é marcado por aparentemente nunca atingir o Hamas, mas sempre desmanchar algo de importante pra cultura palestina.
Em 17 de janeiro deste ano Israel destruiu a última universidade que estava de pé em Gaza, dali pra frente não existiria mais estrutura de ensino superior em Gaza. Das escolas da região, um terço também tinham ido abaixo com os ataques de Israel e, até o momento, 87% das instituições de ensino teriam sido destruídas ou danificadas. Essa situação se soma a diversas denúncias de descumprimento aos direitos humanos que já recaiam sobre Israel antes mesmo da guerra. Se soma também a denúncias formais de crimes de guerra e tentativa de genocídio feitas pela África do Sul contra Israel, em Haia e a tristes imagens de jornalistas e civis que estiveram nas áreas de guerra mostrando o sofrimento da população palestina, em especial de crianças e jovens.
Com o andamento da guerra fica cada vez mais difícil de não enxergar uma proposta de ocupação da faixa de gaza por Israel e um projeto político imperialista que visa não só a tomada de território palestino mas também o apagamento de sua história, sua cultura e das condições do povo palestino de se reerguer após mais de sessenta anos de guerra. Além da África do Sul, outras nações chamam a atenção da comunidade internacional para a limpeza étnica que Israel produz na Palestina sob a desculpa de guerra contra o Hamas. O ataque a escolas e universidades ganha destaque nessa disputa como uma forma de impedir as crianças e jovens palestinos de estudarem, de perseguirem seus sonhos, de aprenderem sobre sua história e sua cultura. Com a última universidade de Gaza no chão fica a pergunta: qual futuro espera os jovens palestinos? Destituídos de suas casas, suas famílias, sua pátria, sua paz e agora, destituídos de suas condições de estudar.
Nessas circunstâncias, caso nada mude, às crianças que se salvaram resta a fuga. Resta sair de sua terra natal em busca de estudo e condições de vida já que os ataques não cessaram, já que os hospitais também caíram, já que o futuro foi retirado dali. A limpeza étnica não se dá apenas no genocídio das vidas de palestinos que ali viviam, se dá também no roubo do futuro dos que ali ficaram.
E a nós educadores? O que nos cabe numa situação dessas? Nos cabe, como sempre, ensinar. Precisamos ser críticos e ensinar as complexidades e horrores da guerra. Ensinar o que é injustiça e o que é injustificável. Ensinar a interpretar a história, para que então, as coisas não voltem a se repetir. Ensinar a ter compaixão, para que justificativa nenhuma seja suporte para um genocídio. Ensiná-los a serem duros, mas sem jamais perder sua ternura e compaixão.