Quando começar?
Jacqueline Caixeta
É muito interessante algumas perguntas quando se trabalha com educação. Nós, que estamos na lida diária, temos nossas dúvidas, imagina os pais, que não são da área da educação? Gosto sempre de ter um bate papo bem assertivo quando o assunto diz sobre quando começar a desenvolver algo na criança ou adolescente.
Estudamos sobre vários aspectos relacionados ao cognitivo e emocional das pessoas e isso nos capacita a dar nossos bons e certeiros palpites. Brinco que são palpites, mas, na verdade, são orientações baseadas em estudos e comprovações científicas. A escola tem grande responsabilidade na formação das crianças e adolescentes que trafegam em seus corredores durante tanto tempo da vida deles.
Geralmente é comum os pais perguntarem sobre questões relacionadas à responsabilidade e compromisso. Perguntas simples como: quando cobrar que meu filho tenha condições para guardar os brinquedos sozinhos? Ou, quando exigir que meu filho ajude e colabore com alguma tarefa da casa? Ou, quando esperar que meu filho tenha autonomia para arrumar sua pasta sozinho, fazer seu dever de casa sem precisar alguém mandar? Perguntas como estas transitam as salas de reuniões de pais e escola.
Costumo sempre responder: o quanto antes! Isso enlouquece os pais. Eles falam: mas ele só tem 3 anos de idade, como querer que organize os brinquedos. E eu respondo: ele já tem 3 anos de idade, já passou da hora de aprender a organizar seus brinquedos. A criança, como já relatei em artigos anteriores, é uma máquina de aprendizado! Ela aprende rápido e fácil, principalmente com exemplos. No caso dos brinquedos, por exemplo, os pais devem começar a trabalhar a organização desde bebês. Seu bebê, de 1 ano, por exemplo, até mesmo para estimular a coordenação motora fina, deve ajudar a guardar os brinquedos. Nesse primeiro momento, o adulto terá toda administração da tarefa e será responsável por acompanhar de perto para ensinar e garantir a segurança da criança. Aos poucos, o adulto vai saindo de cena e deixa que a criança se responsabilize por suas tarefas.
Arrumar uma pasta com o material do dia, parece algo tão simples, mas infelizmente muitas crianças não dão conta. Elas não dão conta pelo fato de que alguém sempre fez por elas. Aí, chega lá no quarto ou quinto ano e a mãe reclama que o filho não sabe arrumar uma pasta, colocar os materiais do dia, vive esquecendo livro, caderno, trabalho para entregar, e eu pergunto, desde pequenininha, lá na educação infantil, quem arrumava seu lanche, sua mochila? Bem, a resposta é rápida e fatal: alguém fazia isso. Se naquela fase, que é onde a criança mais aprende e apreende, ela não teve a oportunidade de aprender fazendo, o que esperar agora?
Uma briga entre família e escola é na entrega de trabalhos com data marcada. A maioria das escolas tem a regra de que, se entregar depois do prazo, valerá a metade dos pontos. O que mais aparece são pais questionando a regra e, o que é pior, alegando que não foi “culpa” da criança, eles que esqueceram de lembrá-las ou mesmo de colocar na pasta. Ora bolas, de quem é mesmo o trabalho? E o fato de perder metade da pontuação diz de algo urgente de se aprender, que é cumprir prazos e entregas. O exercício da responsabilidade nasce em situações assim. Se um aluno simplesmente não entrega algo na data estipulada e tá tudo bem, como é que nós, escola, vamos conseguir educar para a responsabilidade? Quando é que eles vão aprender que suas ações têm consequências? Quando, de fato, se transformarão em adultos responsáveis? Da noite para dia é que não será. A responsabilidade deve ser trabalhada desde sempre na educação.
Quando uma criança tem um conflito com o coleguinha, nada de ir à escola para resolver. Ao saber do conflito, pergunte a seu filho o que houve e se procurou um adulto para resolver. Se não procurou um adulto na escola, oriente que procure e resolva. Potencialize seu filho a resolver seus problemas, não tente resolver por ele. Quando os pais procuram a escola para resolver questões que os filhos podem resolver sozinhos, estão dizendo ao próprio filho que não acreditam no potencial deles, que eles não são capazes. Deixar a criança ou adolescente resolver seus problemas é ensinar-lhes que são capazes, que dão conta, que têm autonomia. Se os pais estão sempre a resolver os problemas para os filhos, vão se deparar com filhos adultos totalmente dependentes deles, sem autonomia e confiança, pois foram criados com alguém sempre tomando frente e resolvendo tudo por eles. É claro que tem situações que a família deve e precisa procurar a escola, mas, por favor, conflitos rotineiros e situações do dia a dia, deixem por conta deles. Nada mais gratificante do que presenciar os filhos resolvendo suas questões. Isso diz de uma formação equilibrada e carregada de confiança.
Outro exemplo em que pais buscam na escola respostas para suas dúvidas é quando se exige algo do aluno que eles pensam ser além de suas potencialidades. Um exemplo básico: a escola tem um trabalho para o aluno fazer e coloca, como uma das rubricas, que seja feito dentro das normas da ABNT. Nossa, parece que o mundo acabou! A escola escuta: “Nossa, dentro das normas da ABNT, mas ele só tem 11 anos”!. Não, ele já tem 11 anos. Se não for aprender agora, quando será? Quando estive na faculdade, quando todos os trabalhos são exigidos neste padrão?
Quando se trata de educar para compromissos, responsabilidades, autonomia, quanto antes, melhor.
Uma criança que é educada com todos fazendo tudo por ela, certamente vai crescer insegura. Vai ser aquele adolescente que quer questionar uma correção de prova ou uma nota e pede aos pais que façam isso por ele, pois não aprendeu ter autonomia, não sabe resolver problemas que são seus.
A vida adulta vai mostrar que o mundo não é tão bonzinho, que compromissos com horários, prazos, produções bem feitas, etc, vão determinar o sucesso ou fracasso de nossos filhos. Precisamos educar para tais questões o quanto antes. Na dúvida de “quando começar”, pergunte-se : “Por que não começar agora?” . O que impede você, pai, mãe, de começar a trazer a vida para seu filho como ela é?
Com afeto,
Jacqueline Caixeta