As escolas e suas dores. O que fazer?
Paulo Henrique de Souza
Os métodos clássicos de tortura escolar como a palmatória e a vara já foram abolidos. Mas poderá haver sofrimento maior para uma criança ou um adolescente que ser forçado a mover-se numa floresta de informações que ele não consegue compreender, e que nenhuma relação parece ter com sua vida? (Rubem Alves)
Um dos maiores desafios da escola contemporânea enquanto espaço de socialização é a coexistência pacífica, ou aquilo que Jacques Delors e sua equipe no documento da Unesco – “Educação: um tesouro a descobrir” – nomeou como “aprender a conviver”. Coexistir requer escuta, diálogo, interação e respeito às diferenças.
Trata-se do que os especialistas conceituam como competências socioemocionais para o enfrentamento das dores presentes nas instituições educacionais. Perceba a seguir que a dor está presente em palavras que ecoam nas ambiências escolares de todo o mundo:
EducaDOR
CoordenaDOR
AvaliaDOR
OrientaDOR
IndicaDOR
FormaDOR
Evidentemente, para lidar com as dores da escola é preciso de formação continuada da comunidade educativa em todos os seus papéis da zeladoria e diretoria, em torno dos quatro pilares: aprender a aprender; aprender a fazer; aprender a conviver e: aprender a ser.
No cenário do século XXI, todos devemos nos colocar no papel de aprendizes, afinal, segundo estudos da ANCIB (Associação Nacional de Pesquisa e Pós Graduação em Ciência da Informação), diante do fluxo de informações, o grau de desatualização atinge patamares gigantescos, convidando a todos para a busca de novos conteúdos, novas abordagens, novas atitudes e novos procedimentos. Isso causa fobias, ansiedades, manias e expectativas frustrantes com a tecnofobia e o tecnocentrismo da “sociedade líquida” com saciedade instantânea.
Segundo o pesquisador David Deming, professor de Políticas Públicas, Educação e Economia na Universidade Harvard e autor de um estudo chamado “A crescente importância de habilidades sociais no mercado de trabalho”, o aprender a fazer transversaliza com as novas tecnologias, IAs., com a robótica, com a neurociência, com a nanotecnologia, com as inteligências múltiplas, coletivas e computacionais.
O contexto exige do ser humano vencer as dores através de sete comportamentos que visem autoconhecimento e autodisciplina para tornar-se:
AprendeDOR
EmpreendeDOR
CapacitaDOR
ColaboraDOR
SabeDOR
VenceDOR
CriaDOR
As escolas do século XXI necessitam de redesenhos institucionais, arquitetônicos, conceituais, atitudinais e procedimentais. As crianças e adolescentes vão para as mesmas com visões distintas de famílias, de temporalidades, de sociedades e de rotinas. Novas demandas exigem novos comportamentos e novas intervenções.
Temas como pré-requisitos, gestão dos tempos, gestão das salas de aulas, ensino híbrido, metodologias ativas, inteligência emocional e espiritual, necessitam estar nos currículos e nas pautas das formações continuadas e nas semanas pedagógicas.
Etimologicamente, o termo radical significa ir às raízes das situações-problema. Portanto, é hora de olhar para as dores das escolas e encaminhar procedimentos radicais.
O educador do século XXI deve articular as habilidades e competências que o torne:
PesquisaDOR
FacilitaDOR
DesenvolveDOR
A escola contemporânea sofre “dores de parto” por ter de gerar um novo paradigma para atender e entender os estudantes que são “nativos digitais” e transitam pelas informações na maioria das vezes de forma superficial. Isso exige dos educadores uma profundidade capaz de auxiliar na transmutação de informações em conhecimentos aplicados, devido ao pragmatismo reinante nos meios sociais locais e globais. No imaginário estudantil existe o desejo de aprender no seu tempo e do seu jeito.
Os gestores e educadores têm o papel curaDOR para elevar as instituições educacionais a patamares de excelência acadêmica, e sensibilidade humanizante frente às dores escolares. Quem educa deve ter um papel humanizaDOR.