Ygapó – por uma xícara de café
Ivane Laurete Perotti
Todos os dias derramava a rua, fixa no repetido movimento da água que se deixava sorver. Sorvida. Morta. Morrida. Tão só! Sobre o peitoril esburacado, a nervosa xícara de café. Não fosse a pressão nas têmporas, tomaria chás. De gengibre. Pimenta-verde. Padroeira. Mas, enamorara-se da borra no fundo da peça. Corria frinchas, dizia visões. Destinos. Dos outros. Não dela. Vela? pouco preço. Preferia as voltas da vida nas mechas do cabelo. Escuro. Feito a borra teimando sintaxes.
da água ao pó
inteiros,
um só
derrame de veias
cola submersa
floresta,
igapó
bêbado de cinzas,
Zeus
cortou-se em meios:
muitos lugares
Amava. Por uma semana e alguns cafés. Amava. Fiel ao verbo. Livre nas mãos da posse. Leve nas favas da entrega. Início e fim. Sete dias de amor,
no site
na cama
na rua,
na fama,
canoa sem pé
caminho de proa
igarapé
Para além de sete? fingia demência. Sete dias. Deixara chegar aos nove. Pura curiosidade. Dois de arrependimentos. Uma semana de amor profundo. Líquido. Suarento. Fuga e penitência. Ardência. Perdição.
Agora, por uma semana e alguns cafés, ela procura a Serra da Mantiqueira. Em fuga dos Kaiapós, investe na Rio-São Paulo, atrás da “gota da chuva”– Ygapó. A mesma gota que derrama a rua,
todos os dias,
no peitoril da janela,
na xícara de café:
borrado
trincado
passado sem fé.