Que pressa é essa?

Jacqueline Caixeta

Nas minhas andanças pela educação infantil que, pra mim, será sempre chamada de Jardim de Infância porque vejo a infância como um verdadeiro jardim, onde tudo que se semeia brota, me deparo com crianças que vão para a aula maquiadas. Primeiro levo um susto danado e, sendo uma jovem senhora do século passado, já vou logo perguntando se aquilo não vai fazer mal para aquela pele tão novinha e sensível. Escuto mil explicações de como a indústria da beleza é moderna e seus produtos são fantásticos, todos antialérgicos e com mil vitaminas para a pele, etc. Bem, fico até um pouco mais tranquila.

Frequentando restaurantes, bares, shoppings, enfim, perambulando por aí, esbarro em crianças usando roupas que fogem ao que eu, bem, novamente, tento me lembrar que sou uma jovem senhora do século passado, não considero adequado para essa idade. Mas também me questiono sobre o “meu adequado” para o adequado da época de hoje.

Estou eu em um conflito de gerações ou apenas sendo chata mesmo?

Na verdade, acho que a maquiagem e a roupa “inadequada, ao meu olhar”, sejam pano de fundo para uma coisa muito mais séria, muito mais complexa e que talvez a psicologia possa me ajudar a responder.

Por que será que os pais estão com tanta pressa em que seus filhos cresçam? 

Sim, os pais, porque a criança não vai e compra sua roupa ou sua maquiagem, quem faz isso é o adulto.

Curiosa e pesquisadora que sou, saio em busca de justificativas para as maquiagens e roupas de adultos em criança. Escuto de tudo. A maioria das mães dizem que a filha é muito vaidosa e exige fazer unha toda semana e se nega a sair de casa sem maquiagem. Qual idade da filha? 4 anos. Outras dizem que a filha gosta de parecer igual a mãe e não vê problema nenhum nisso, imita seus penteados, suas roupas ousadas e estilosas, enfim, palavras de uma mãe “minha mini piriguete”. Ela diz isso numa alegria imensa, como se estivesse ali reproduzindo sua cópia para o mundo e contribuindo bastante com o desenvolvimento da autonomia de sua criança.

Muitos sustos vou levando em minhas andanças e conversas em busca de saber o motivo que levam pais a vestirem suas crias como se já fossem maiores de idade. Se eu for contar aqui tudo que escutei, vocês teriam que separar uns três dias para ler. No entanto, contudo, todavia, o que quero mesmo é provocar uma reflexão no meu leitor.

Por que será que muitos pais querem se livrar da infância de seus filhos tão rápido? Será que uma criança com uma sandalinha, lógico que de alguma marca muito famosa, e com um saltinho, terá a mesma liberdade para se comportar como uma criança? Será que aquela maquiagem, muito bem feita, irá permitir que aquela criança não se preocupe com ela e corra, pule, se permita sujar e suar, como todas as demais? Será que, ao se olhar no espelho, aquela criança maquiada estará de fato lhe enxergando como uma criança?

E as redes sociais? Hum, será que pais de crianças bem maquiadas e vestidas como adultas, ao postarem suas fotos, estão levando em consideração o perigo que estão expondo seus filhos? 

Permitir uma maquiagem e uma roupa que não é de sua faixa etária diz muito de pais que querem logo se livrarem da infância de seus filhos, e isso é muito triste.

Criança precisa ser criança, tem que se vestir com roupas que permitem todos os movimentos que elas precisam para que seus corpos infantis e cheios de energia explorem ao máximo o universo de possibilidades que têm para se desenvolverem de maneira saudável e equilibrada.

Criança pode se maquiar? Se for para brincar, criar personagens, dar asas à sua imaginação, lógico que sim. Mas se for para se parecer com um adulto, lógico que não. A criança não é um adulto em miniatura, ela é um ser que merece respeito, afeto e cuidado o tempo todo. Ela precisa de pais responsáveis e adultos que assumam a parentalidade com todas as responsabilidades que lhes cabem.

É triste ouvir e perceber que um pai se refere a uma filha de três anos de idade como minha mocinha. E se isso ficasse só na fala, menos mal, o pior é que isso vai para o comportamento e relacionamento com a criança. Ela não é sua mocinha, ela é sua criança. Pais falam de filhos com seis, sete anos de idade como meus adolescentes. Não, não são adolescentes, são crianças.

Não queiram se livrar da infância, não tenham medo dos desafios de se criar uma criança como criança. Dá muito trabalho, eu sei, mas é muito gostoso curtir suas falas, brincadeiras e bagunças. A criança nos surpreende o tempo todo porque é carregada de uma inocência linda, aproveitem isso.

Parem de ter tanta pressa e comecem a curtir a infância com mais calma. A vida passa muito rápido e, se vocês atropelam as fases, não vão saborear o que cada uma tem de encanto. Não tenham pressa, tenham consciência de que seus filhos não são brinquedos em suas mãos para vocês reproduzirem imagens suas. São crianças, só isso.

Com afeto,

Jacqueline Caixeta

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