É possível invadir a própria casa?
Alexandra Lima da Silva
Estudantes que lutam pelo direito a uma existência digna em universidades públicas não podem ser tratados como invasores. Quando pactuamos que a universidade pública é plural e diversa, precisamos coexistir e reconhecer que o direito ao sentimento de pertencimento é para todos.
Conforme tenho aprendido a partir da escuta atenta e sensível de estudantes negros, pobres, periféricos, é impossível falar em pertencimento quando não há o sentimento de acolhimento. E para que de fato a universidade seja um lugar de acolhimento praticado, precisamos, por um lado, de políticas públicas decentes, que compreendam a assistência estudantil como direito e não como “ajuda”.
Por outro lado, o acolhimento está também nas práticas, nos gestos, na escuta sensível e atenta. Está nos pormenores, nas sutilezas das palavras, nas entrelinhas dos documentos.
Educadoras/es que pensam a educação como prática de liberdade, reconhecem o protagonismo estudantil como legítimo e genuíno. Não demonizam as escritas dissidentes e as manifestações tidas como transgressoras e insurgentes, quando elas nascem da dor causada por injustiças, opressões e desigualdades históricas e estruturais. O grito dos vulneráveis não deve ser jamais sufocado, uma vez que é legítimo.
Como educadores e educadoras, precisamos garantir o direito à permanência estudantil como um direito essencial para nossa própria existência e ofício. Estudantes com dignidade é condição básica para um ambiente pedagógico de qualidade e excelência.
Lugar de estudante é na escola, na universidade. Eles pertencem a este lugar, portanto, estudantes jamais devem ser vistos ou tratados como invasores, pois é não é possível invadir a própria casa.