Parem de fingir que não existem!
Jacqueline Caixeta
É impressionante como a educação, mesmo em pleno século XXI, insiste em não incluir em suas leis e ações as diversidades que existem.
É triste falar de uma educação excludente e elitista, mas é urgente e necessário reconhecer que a educação protagoniza situações de exclusão que, onde era para ser espaço de libertação, é, ainda, espaço de exclusão. E tantas são as exclusões que me nego a pensar na educação como algo democrático, de acesso a todos. Todos quem? Aquele velho grupinho de crianças e adolescentes “perfeitos”, que estão dentro dos “padrões da normalidade”? E o que é normalidade? O que é padrão? Ora bolas, alguém aí tem a receita disso? Do que seja perfeito e normal? Quanta diversidade um ser humano carrega em si!
A educação, que deveria ser a primeira a propiciar momentos de encontros e acolhidas, é cega às diversidades e finge que não existem alunos que necessitam de um olhar mais complexo, colocando-os sempre à margem de atividades e negando-lhes o direito a um desenvolvimento pleno.
Não são apenas os alunos ditos “atípicos” cognitivamente, temos também os que não se reconhecem e identificam com o sexo biológico, temos os que vivenciam situações de vulnerabilidades sociais absurdas e necessitam de outros olhares, temos os órfãos de pais vivos, os filhos de duas mães ou dois pais, os alunos com questões emocionais oriundas de abusos, e tantas outras situações que fogem da dita e querida normalidade desejada pelo sistema. O que fazer com tanta diversidade que chega às escolas? Varrer para debaixo do tapete e insistir em anunciar que a educação no Brasil é perfeita, que os índices de alfabetização vivem em decréscimo? Que há igualdade nas relações no ato de educar? Que a educação ofertada nas redes privadas é da mesma qualidade das públicas? Que todos os alunos são filhos de famílias dignas de comerciais da “Margarina”?
Negar toda a diversidade que entra pelos muros da escola e fingir que tá tudo bem não diz de educação, diz de exclusão, e educar não pode ser um ato isolado em si. Educar tem que ser um ato de coragem e amor. É preciso ter coragem para admitir que o mundo mudou e a educação precisa estar à serviço de todos, até mesmo porque ela precisa cumprir a constituição, que o direito à escola é garantido em lei e que as leis precisam também mudar para atender esta nova realidade.
Pensar a educação numa perspectiva justa e equânime é pensar em criar movimentos e ações que nos direcionam a novos caminhos, novas maneiras de educar, de fazer com que o espaço escolar seja, de fato, democrático.
Fingir que questões como as citadas não existem é decretar falência ao ato educativo. Não podemos ser tão incompetentes a ponto de negar as realidades. Não é negando que vamos educar, não é fingindo que não existem, que serão resolvidas ou mesmo deixarem de existir.
Discutir a educação e buscar estratégias de inclusões, sejam elas sociais, cognitivas, emocionais, de raça ou gênero, é saber que a educação não pode estar à serviço da exclusão, isso nunca, de forma alguma. A discussão deve ser sempre dialética, deve abrir-se para que as questões sejam visitadas e revisitadas por diversos olhares e fazer da troca, uma grande sacada para avançar de maneira inteligente em processos educativos mais acolhedores e humanos.
Não cabe ao ato de educar a ação de excluir, eles são antônimos, nunca sinônimos quando está em jogo a vida das pessoas. Todo aquele que se sente ou percebe diferente por condições tão específicas, deve ser acolhido e abraçado pela educação. Não consigo conceber o ato de educar desvinculado do ato de amor e justiça. Posso ser romântica ao citar o amor, sentimento tão singular, mas o faço por acreditar na humanidade como grupo de pessoas que buscam o amor e a justiça. Não serei educadora se me calar diante de tantas exclusões.
Com afeto,
Jacqueline Caixeta
Sensacional Jacqueline. Você continua muito competente e super clara nas suas falas. Eu fiz minha parte, divulguei entre colegas de profissão. Apesar de aposentada, gosto de ler tudo que vc fala sobre educação. Parabéns
Obrigada pelo retorno. Que bom que gostou e divulgou. Beijos
Perfeito o Artigo.
Você está certíssima.
Parabéns,Deus te abençoe
Muito obrigada.
Beijos