Um ano atrás

Aleluia Heringer 

Completou um ano que passei, pela última vez, nas salas do Ensino Médio para explicar que as aulas seriam suspensas do dia 18 a 22 de março de 2020. Ainda não sabíamos que, em seguida, viria o decreto que suspenderia as aulas por tempo indeterminado. Foi a primeira vez que expliquei sobre a necessidade do isolamento ou distanciamento social, o porquê do uso de máscaras e a necessidade de lavar as mãos. Três ações simples, acessíveis e possíveis e com efeito eficaz contra o vírus. Era o que podíamos fazer. 

Esperávamos que esse tempo sacrificado fosse muito bem utilizado por aqueles que ocupavam cargos decisórios, afinal, cada dia parado era um dia de contribuição dos cidadãos, com um alto preço social e econômico. Perdia-se algo: clientes, vendas, socialização, afeto, empregos. Ainda assim, entendíamos que salvar vidas era o mais importante. 

Passaram-se os dias, os meses, completou um ano. Assistimos atônitos à ausência de coordenação nas ações, a falta de liderança, de planejamento conjunto entre os entes federados, de um plano antecipado e logística nas compras de vacinas. No lugar, ouvíamos mensagens dúbias, descoladas da realidade e em descompasso com aquilo que a ciência alertava. Tudo isso confundiu a população, dividiu as pessoas e instalou a desunião.

Essa história no futuro será contada. Imagino que teremos um capítulo para agradecer aos pesquisadores que, nos seus laboratórios, criaram uma vacina em tempo recorde. Enalteceremos os médicos, enfermeiros, técnicos, coveiros, motoristas de ambulância e todos os que estão na linha de frente. Agradeceremos ao cidadão comum que cuidou de si e foi responsável com o próximo. Não faltará, contudo, o capítulo para falar daqueles, sejam cidadão comum ou autoridade constituída, que não colaboraram, criaram o caos, aglomeraram e deixaram de cumprir a sua responsabilidade.  

Hoje, o Brasil está amargando a situação mais crítica e dramática. Uma sombra paira sobre nós. Para além dessa vergonha, o Brasil está encharcado com as lágrimas de filhos que choram a perda dos pais e de mães que choram a morte dos seus filhos. Se você chegou até o fim deste breve desabafo, faça um minuto de silêncio e reflita: nos livros que contarão sobre essa pandemia, em qual capítulo estará o seu nome? O que dirá aos seus netos. Feito isso, levante-se e vamos recomeçar. Não podemos perder a esperança. 


Imagem de destaque: Ignat Gorazd / Flickr

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