Teia de relacionamentos. Como criar uma cultura da paz na escola?
Paulo Henrique de Souza
Você não consegue harmonia quando todo mundo canta a mesma nota. (Doug Floyd)
Cuidar do clima escolar de uma escola pressupõe um planejamento escolar onde precisa ser levada em consideração pelos gestores educacionais: a teia de relacionamentos que se estabelece nas comunidades escolares. Afinal, somos resultados dos contatos que travamos com as pessoas diariamente, que oscilam dos conflitos emocionais à interação sistêmica e alegre. Paulo Freire dizia: “Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. (…) Nada de ilha cercada de gente por todos os lados” O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente”.
Escola é lugar de tensão. Onde não existe monotonia e cada dia é diferente do outro e tudo o que se planejou pode cair por terra devido aos humores, vaidades, armadilhas comunicativas, perda do equilíbrio entre razão e emoção, busca de realizações e satisfações pessoais.
Nos processos de consultoria com gestores e educadores, percebemos que, muitas vezes, os projetos da escola e de sua gestão não levam em conta os humanos que dela fazem parte. Sobretudo, no que tange a avaliação. As pessoas não gostam de receber críticas, e isso cria uma barreira na teia de relacionamentos, o que é facilmente sentido pelos alunos. Isso ajuda a degringolar com o clima organizacional.
A indisciplina, na maioria das escolas, resulta, entre outros fatores, na ausência de capacidade dos gestores de criar espaços de sinergia e de investir em momentos de confraternização dentro da comunidade educativa. Fazemos parte da mesma teia de existência e a escola precisa de sensibilização, humanização e troca de afetos. E não se trata de ser piegas, mas precisamos espalhar amor para crianças e adolescentes que educamos, e para os colegas de trabalho.
Não há uma receita específica para a criação de uma equipe harmônica, uma vez que o duelo de comportamentos, personalidades e prática são distintos, mas investir em humanização na educação é urgente. Isso requer das lideranças educacionais uma análise transacional e a capacidade de intuir e planejar intervalos e pausas na ambiência da escola do século 21.
As pessoas que integram a comunidade educativa vêm para ela com sua bagagem existencial e papéis sociais – pais, filhos, maridos, esposas, colegas de trabalho, superiores hierarquicamente transitam pelo universo psicopedagógico das instituições. Existe um imaginário que os gestores precisam ler, interpretar, decifrar, agir e avaliar para gerar qualidade sistêmica de vida na escola. Isso requer adaptação, ensaio e erro e, sobretudo, transparência. Parafraseando Edgar Morin, necessita-se desenvolver uma “inteligência da complexidade” e da completude.
Na mudança de época e época de mudança que as sociedades e culturas vivem no século 21, sobretudo após a pandemia, as unidades de referências valorativas de 30, 40 anos atrás sofreram mutação e a escola é a primeira instituição social a lidar com as ressonâncias dessas mudanças após as famílias. E ambas precisam se entrelaçar.
Cabem às escolas criar momentos de interação com as famílias da geração C para, juntos, criarem uma linguagem assertiva para dialogarem como “adultos da relação” com os alunos, sobre alinhamento sistêmico de comunicação. A vida não é só clicar e resolver. Nem somente digitar. A vida é uma eterna arte de escolher entre omitir e agir.
Na escola é necessário o exercício da escolha entre controlar, ser submisso ou criar a sinergia que gera equilíbrio. Gestores escolares autênticos investem na criação de espaços de comunicabilidade onde a cultura da paz e da solidariedade consiga crescer nas instituições.
Valores pessoais, coletivos, religiosos e éticos transitam em um espaço que precisa se preparar para os desdobramentos ocasionados pelas relações humanas e pela febre tecnológica. A coragem e a autenticidade dos gestores são fundamentais para a criação de um clima organizacional de partilha, respeito e com uma ecologia humana saudável. Todo trabalho em educação implica a ação de liderança. Nesse aspecto, a liderança “constitui na capacidade de influenciar positivamente pessoas, para que, em conjunto, aprendam, construam conhecimentos, desenvolvam competências, realizem projetos e promovam melhorias em alguma direção” (LUCK, 2008, p. 1).
Como está a teia de relacionamentos em sua escola?
Esse pode ser um tema para sua formação continuada nos próximos dias?
Vamos pensar sobre essas questões?