Por educação pública de qualidade

Melissa Oliveira

Já ouvi várias vezes por aí que os professores não querem trabalhar, e por isso fazem greve. Mas a verdade é outra. Os professores até querem trabalhar, mas querem fazer isso com dignidade, recebendo um salário justo que é do direito deles. Fico triste e indignada quando ouço alunos da universidade dizendo que os professores já recebem muito para pedir aumento, quando a realidade é que os servidores federais estão com o salário defasado há muitos anos. 

A reivindicação dos professores não se trata de um aumento, mas da recomposição de um salário visto a inflação e o custo de vida cada vez mais altos. E, para além disso, as pautas levantadas pela greve dos trabalhadores envolvem muito mais do que só o aspecto salarial. A verdadeira luta está na defesa da educação pública, indo contra um sucateamento das universidades federais que já vem acontecendo há muito tempo. 

E, se as universidades estão sendo sucateadas, é justamente porque isso favorece as faculdades privadas e, consequentemente, os ricos que lucram em cima delas. Enquanto o lucro for uma prioridade, a educação estará sempre em segundo lugar, e é por isso que devemos nos mobilizar e fortalecer a luta pela educação pública e de qualidade. 

Nós, estudantes e professores de faculdades federais, devemos pensar em qual universidade queremos. Neste momento, devemos lutar pela ampliação dos programas de assistência estudantil, pela restauração do orçamento das instituições federais, pela revogação do novo ensino médio e por várias outras coisas.

Há também aqueles que acreditam que esse não é o momento ideal para a deflagração da greve, visto a situação política delicada em que nos encontramos atualmente. O Brasil enfrenta uma onda de extrema-direita preocupante, que conseguimos vencer com muito esforço na última eleição, e parte da população tem medo de que as greves e reivindicações dos servidores enfraqueçam o governo Lula que tanto lutamos para eleger. 

Entretanto, fico pensando: se não foi para que tivéssemos espaço democrático o suficiente para lutar pelos nossos direitos, então para que elegemos esse governo? Durante o governo Bolsonaro, a situação era tão absurda que não havia abertura para luta ou reivindicações dos trabalhadores, já que estávamos sob constante ataque. Quando elegemos Lula, sempre soubemos que nada seria dado facilmente à educação; a esperança era de que houvesse brecha para negociação, onde pudéssemos ao menos lutar por melhores condições de trabalho e de estudo.

A verdade é que os ricos estão pressionando o governo, buscando cada vez mais dinheiro para eles, e onde vamos parar nós, a classe trabalhadora, se não buscarmos melhorias também? 

O momento certo para a greve é justamente esse. 

E a mobilização não deve ser apenas dos professores e técnicos, mas também dos estudantes, que são mais afetados do que todos pela qualidade da educação. A falta de recursos, de infraestrutura adequada, de professores que atendam a todas as matérias é cada vez pior, e os estudantes sofrem diariamente com isso.

Como estudante, vejo muitas pessoas indo contra a greve porque isso vai atrasar o calendário anual e a formatura. Um pensamento egoísta, que coloca as necessidades individuais acima das coletivas. É preciso lutar não só pelos seus objetivos, mas pelos direitos de toda uma classe. É necessário ter em mente que só estamos aqui porque outros antes de nós lutaram pela educação, e que as próximas gerações só terão seus direitos garantidos se nós lutarmos por elas.

Precisamos construir uma mobilização unificada, porque só assim vamos conseguir conquistar nossos direitos e barrar o sucateamento do ensino público. 

Ela

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