O jornal na escola e aformação para a cidadania

Antonio Carlos Will Ludwig

O trabalho com jornais nas escolas não é um acontecimento recente. Janusz Korczak (1878-1942) foi um médico polonês que utilizou o jornal impresso no trabalho com crianças pobres que viviam na periferia de Varsóvia. O famoso pedagogo francês Célestin Freinet (1896-1966) também fez o uso dele na escola por o considerar um elemento relevante de sua concepção educacional baseada na aproximação do aluno com a comunidade e de sua preparação para a vida democrática. Nos primórdios do século XX, professores norte-americanos passaram a utilizar o The New York Times nas salas de aula.

Parece que a iniciativa original de trabalhar com informações de jornais nas escolas brasileiras partiu do destacado educador Paulo Freire (1921-1997), que, assim como Freinet, acreditava na prática pedagógica comprometida como forma de reduzir a evasão escolar e formar educandos críticos. Uma das técnicas que defendeu foi a elaboração do jornal escolar como um dos instrumentos que considerava essencial para motivar a escrita e contribuir para o desenvolvimento social e cultural do educando.

Em nosso país, o uso do jornal na sala de aula vem ganhando espaço significativo. De um lado, existem as iniciativas mantidas por empresas jornalísticas; do outro, uma rede independente de ações realizadas em escolas a partir da iniciativa pioneira de professores, jornalistas e estudantes. Em todos os casos percebe-se nitidamente a existência de um movimento cujo objetivo é utilizar o potencial dos meios de comunicação, democratizando-os e oferecendo oportunidade de expressão a crianças, jovens e adultos.

Alguns grupos de mídia, principalmente os relacionados a jornais e revistas, desde algum tempo, começaram a distribuir as sobras de seus exemplares e a elaborar versões destinadas à sala de aula. Este movimento pela inserção do jornal e da revista nas classes, como prática pedagógica, ganhou força no início da década de 1990 e ainda hoje continua conquistando novos adeptos, como é o caso da revista Carta Capital, que lançou em outubro de 2005 sua versão pedagógica. Ao anunciar sua inserção no mundo da escola, essa versão da revista passou a disputar um importante espaço e atuar diretamente no processo educativo pertinente à formação de professores e alunos com base nos acontecimentos da área.

Ressalte-se que o pioneirismo empresarial teve origem no jornal Zero Hora duas décadas após a iniciativa de Freire. Na sequência vieram o Globo e a Folha. Passados mais dez anos, o Correio Popular e o Diário do Povo de Campinas também foram para as escolas, assim como o Estado de São Paulo que instituiu o Estadão na Escola. Em Campinas, foi editada uma lei voltada ao uso da leitura de jornais e revistas nos estabelecimentos de ensino. Na Câmara dos Deputados, continua tramitando um projeto relativo à obrigatoriedade dessa leitura. Atualmente, algumas dezenas de jornais da maioria dos Estados brasileiros estão seguindo o mesmo caminho.

Cabe mencionar que alguns dos jornais brasileiros mais importantes tomaram a decisão de criar versões voltadas ao público de pouca idade, tais como a Folhinha e o Estadinho, que teve seu término no ano de 2013. Com a mesma intenção, foi lançado o Joca, semelhante aos publicados na Europa dentre os quais podem ser citados o Le Petit Quotidien e o Mon Quotidien. Ele é um jornal escrito especialmente para os mais jovens, pois usa uma linguagem apropriada e contém notícias, reportagens, entrevistas, curiosidades e assuntos interessantes e atuais sobre o Brasil, o mundo e o universo juvenil.

Também vale lembrar um estudo realizado pelo Observatório Nacional da Imprensa o qual revelou que o uso de jornais nas escolas melhora os hábitos de leitura, inclusive de jornal; as notasdos alunos; a assimilação dos conteúdos escolares; amplia o vocabulário e a expressão verbal/escrita; a imaginação, a interpretação e a criatividade; favorece o trabalho em grupo; o acesso ao jornal para os alunos e seus familiares; a concentração e a disciplina na sala de aula; a aproximação com a família; motiva o aluno a ir para a aula; gera impacto positivo em avaliações nacionais e internacionais, como SAEB e PISA; serve de apoio ao livro didático; promove a interdisciplinaridade e a socialização entre os alunos e professores e uma integração dos discentes com necessidades especiais; e muito mais.

Para não ser enganado e agir da maneira mais acertada possível diante do aumento crescente das propagandas enganosas, é preciso estar bem informado. A leitura de jornais e revistas contribui para elevar o nível de consciência das pessoas não só pelo contato com informações recentes, mas também por favorecer o desenvolvimento das capacidades de analisar, interpretar, formar opiniões e refletir sobre as implicações e consequências do que acontece diariamente.

Parece não haver dúvidas, portanto, de que o uso de jornais e revistas na sala de aula é muito importante para a formação do cidadão ativo. Com efeito,este  indivíduo que se empenha a favor do bem comum por meio de iniciativas como fazer cobranças aos políticos, participar de campanhas e movimentos sociais, propor soluções para os problemas comunitários e apresentar denúncias nos meios de comunicação, dentre outras atividades, necessita possuir um amplo repertório de informações atualizadas.

Dentre os jornais anteriormente citados cabe inserir o Pensar a Educação em Pauta. Este periódico semanal destinado aos educadores, que comemora a memorável edição de número trezentos, vem se aperfeiçoando no decorrer de muitos anos e tem trazido em suas páginas eletrônicas um elevado número de saberes dotados de qualidade marcante. É certoacreditar que ele esteja contribuindo significativamente para o contínuo empenho dos professores na luta pela defesa do ideal de educação que almejam ver concretizado. Tal ação os mostram como sujeitos que optaram atuar como governantes e influenciadores das decisões políticas, duas características essenciais do cidadão ativo.


Imagem de destaque: Bank Phrom / Unsplash

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