Há alguns anos visitei as unidades em Natal e Macaíba do Centro de Educação Científica do IINN-ELS cujo principal objetivo é promover a educação científica para alunos do ensino fundamental II da rede pública que não está ao alcance de todos os setores da sociedade. Essa iniciativa oferece novas oportunidades de aprendizado contribuindo no processo de inclusão social. Nesses locais os conceitos da ciência moderna e o método científico servem como pilares para um projeto pedagógico no qual os alunos se transformam em protagonistas da própria educação. Nesse centro não existem salas de aulas e as atividades são realizadas em oficinas, nos laboratórios, na biblioteca e nos espaços de convivência.
Acompanhado pela diretora Dora Montenegro visitei as oficinas de: história, robótica, ciência e tecnologia, invenções, ciência e arte e os laboratórios de física, química, biologia e informática. Em todos esses ambientes educacionais procurei manter um diálogo com os jovens aprendizes que frequentavam a escola de ciências no contra turno da escola pública. Antes de me despedir de cada turma fiz a seguinte indagação: “Vocês gostam mais da escola tradicional ou da escola de ciência?”. Sem exceção todos respondiam que gostavam mais da escola de ciência. Em seguida pedi que justificassem a resposta. Vários pronunciamentos me tocaram, entre eles: “aqui somos tratados como gente”, “aqui somos tratados com carinho”, “aqui somos acolhidos”. No entanto a resposta que mais me tocou foi dada por uma estudante que suponho tinha 10 anos. Ela assim se pronunciou: “na outra escola eu estudo, aqui eu aprendo”, que inspirou o título desse artigo.
Esse sábio depoimento merece uma profunda reflexão sobre o processo educacional. Na maioria das escolas de ensino básico no Brasil predomina uma postura passiva dos estudantes. A experimentação na escola de ciências tira o estudante da passividade e o coloca como protagonista no processo de aprendizagem. Para Paulo Freire o sujeito da ação de estudar é o estudante, valorizado em sua individualidade, de quem se exige uma postura crítica e uma inserção na realidade. O estudante deve ser protagonista tomando decisões e agindo, fundamentado na análise que transcende os limites tradicionais como a escola e o professor. Na escola de ciências de Natal e Macaíba esse princípio é um paradigma ao contrário do estudo aquisitivo, onde o aluno recebe o conhecimento como algo permanente e pronto, incorporando ideias e teorias que precisam ser armazenados. Por outro lado, no estudo interativo e experimental, o estudante percebe o conhecimento como resultado de um processo de interação entre as informações que são processadas passando por uma análise e questionamentos usando o raciocínio para compreendê-lo. É importante provocar os estudantes para apresentarem soluções a desafios reais. O aprendizado viria naturalmente, como consequência do processo.
O depoimento dos estudantes de Natal e Macaíba aponta também para a importância da emoção no processo de aprendizagem que é um processo complexo que começa com a curiosidade. O ambiente escolar deve ser acolhedor proporcionando um estado emocional tranquilo e um ambiente que estimula a alegria e o entusiasmo que são pilares no processo de aprendizagem.
É importante para uma revolução educacional do ensino básico brasileiro estarmos atentos a experiências nacionais e internacionais. Nesse contexto, destaco a Escola da Ponte em Portugal que foi implantada pelo educador José Pacheco, que atualmente se dedica a projetos que visam o aperfeiçoamento do ensino básico no Brasil. Nessa escola não há salas de aula, os conteúdos não são distribuídos em disciplinas, não há demarcação de horário para iniciar ou terminar uma atividade e onde os estudantes gerem, quase com total autonomia, os tempos e os espaços educativos.
Nossas escolas, em sua maioria estão ultrapassadas. Vamos olhar com carinho e atenção o sucesso da escola de ciências de Natal e Macaíba e da Escola da Ponte para construirmos de forma inteligente um novo sistema de ensino adequado que seja uma ponte para o futuro, transformando o Brasil em um país mais justo onde todos possam conquistar seus anseios e sonhos.
Isaac Roitman é professor emérito e coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília e membro da Academia Brasileira de Ciências.