Diversas classificações a respeito das fases de aprendizagem e do desenvolvimento da inteligência foram feitas ao longo dos anos e, ultimamente a neurociência tem abordado aspectos relevantes quanto à formação de memórias e a ação docente. Sem entrar no mérito específico das concepções de aprendizagem, mas direcionando a discussão para a área prática, muitos demonstram (talvez não na fala, mas na prática) que quando um indivíduo ou grupo de indivíduos (no caso de um grupo de alunos em sala de aula) alcançam uma fase mais formal, com uma maior capacidade reflexiva, as operações anteriores e as fases dependentes dos estímulos concretos acabam. Cientificamente, um grande engano.
Há muitos exemplos, inclusive cotidianos, que demonstram que o ser humano precisa de estímulos e ações concretas, visto que nossos sentidos não acabam quando o período sensório-motor deixa de predominar. O aprendizado, a formação de memórias e a capacidade de utilizar as informações com um fim prático dependem de uma série de associações, pois a aquisição de conhecimento se dá por um processo associativo. Dessa forma, é primordial lembrar que os sentidos fazem parte deste aprendizado, bem como as situações prático-reflexivas, já que refletir por horas, sentado em uma cadeira, sem aplicar aquilo que está sendo visto, limitam as mudanças positivas no sistema neurológico.
Portanto, a estrutura atual das escolas e das universidades, muitas das vezes, mostra-se ultrapassada, uma vez que estão dimensionadas para um tipo de ensino que valoriza uma transmissão de conhecimento voltada a uma concepção de aluno passivo; podem mostrar-se também defasadas quanto às suas metodologias, no momento em que os professores articulam junto às coordenações experiências educativas voltadas ao acúmulo de conteúdos desarticulados com a prática. Experiências positivas estão espalhadas aos montes, provando que não estamos falando de recurso financeiro, mas de embasamento científico e coerência com o que se ensina.
Partir do abstrato para o prático, ou, muito pior que isso, partir do abstrato para o “nada”, contribuem imensamente para uma legião de alunos desestimulados pela escola. Anulados em sua criatividade.
Partir do prático, do concreto, do sensório para a ação reflexiva, isto sim, produz mudanças sociais e cerebrais positivas, se o processo for bem conduzido.
O que tenho visto são escolas onde a biblioteca e os laboratórios não são os locais de destaque (pelo menos, não na prática). O que tenho visto são alunos dentro das salas, em um processo passivo de aprendizagem, sem pelo menos fazer uma EXPERIÊNCIA daquilo que está aprendendo. É direito do aluno colocar seu conhecimento em prática, sob a penalidade do assassinato da sua inteligência e criatividade.
Biblioteca serve para o aluno ficar de castigo ou fazer a prova que perdeu no dia anterior.
A Educação Física (que trabalha com o corpo) é permitida ou proibida de acordo com o comportamento do aluno (ou seja, é utilizada como prêmio ou castigo, como diz Suraya Darido).
Pátio é local de brincar, mas não serve para aprender, pois lugar de aprender é entre 04 paredes. Grandes contradições.
A ação pedagógica que considera o aluno a partir de uma concepção integral, dotado de um corpo e de necessidades de aprendizagem, necessariamente precisa produzir um ensino significativo.
Como diz José Pacheco, basta provar que o ensino falido (em seus métodos, não em dinheiro) dá resultados e podemos investir nele. Definitivamente os recursos estão indo água abaixo, bem como a criatividade e inteligência de professores e alunos. Uma força divina não há de iluminar e salvar as gerações, é preciso sair da zona de conforto e entendermos que vivemos em sociedade, por isso, o ensino deve propiciar mudanças positivas no nosso meio. Como diz Morin, somos seres planetários e a educação deve acompanhar este conceito.
Enquanto isso não mudar, continuaremos escutando: “Para que tenho que aprender isso, se não serve para nada na minha vida?”.
OS ALUNOS TÊM RAZÃO!!!