Falar de uma obra é dizer do autor. Ao dizer dele, abraçamos a obra. Entre mulheres, da Editora Caravana (2020), nos pega antes da primeira página. A capa nos detém. Provoca sucção. O tempo e a estética, o fato e a tradição abrigam a memória. O atual. O visto, o avistado. Evoca e mostra mais. Linda. Resgata. Adianta o escrito. Paramos na graça.
Entrelace de crenças e demandas. Lugares da obra e do autor. Lugar do narrado. Ar de parecença. Semelhança. Referência. Ar dos pulmões abertos pela história dizendo a que vem. Para quem. Luciano Mendes, reinaugura a escrituração. A dele. A nossa.
A produção reconstrói a conversa ao pé da mesa. Aproxima os ouvidos da alma. Compartilha o interdiscurso. Abre para os silêncios do leitor, leitora. Convida a completá-los. Preenche as nossas ânsias de compreensão. Entendimento. Respeito.
Entre Mulheres está para além da narrativa ficcional. Instantes de vida salpicam o mundo narrado como se dele dependessem. Dependem. Dependemos. Dizer do universo feminino é complexo. Interpretar o conhecido é romper o posto. O dado. O escondido. A obra verte lágrimas. Encharca a leitura dobrando-se, dobrando-nos. A simplicidade na vida é conquista trabalhosa. Na escrita, é produto de exercício sensível. Efeito da competência, da empatia, do respeito. Trabalho aplainado na superfície da compreensão. Entendimento. Perdas. Lutos. Lutas.
Entre Mulheres têm o fôlego da negrura viva. Da pele que exala confidências perdidas na memória das injustiças. Confidências que rasgam o verbo e o choro. Que desfazem a linha da indiferença. Que libertam o espírito amarfanhado e puído. São narrativas de vitórias. Encontros dentro e fora das cercas que a sociedade levanta. Vozes femininas buscam outras vozes. Representam-nas. Somos representadas. A mãe. A filha. Somos nós. Os traumas e as armadilhas dos afetos. Dos mitos de amor e ódio.
Dona Isaura sou eu. Somos todas, todos, todas. Mulheres falam e se deixam falar nessas histórias de rosto e gosto mineiro. Sem engano para quem pensa que as histórias são daqui. São do mundo. Do universo feminino. Memórias do autor e do leitor, da leitora. O encontro é de todes. Ficção que jorra do sensível, do perceptível, do apurado pela sensibilidade e vivência do narrador. São histórias que passeiam sobre a pele e nos encontram.
Não se sai a mesma, o mesmo, dessa leitura. Morte e vida têm peso. Cheiro. A obra de Luciano Mendes alcançou o lugar fundante do autor que escritura o mundo. E o reparte. Oferece. Entre Mulheres é um estado de reconhecimento de quem somos. Tem a leveza da vida e da literatura consagrada. Ambas ditas e vistas nessa coletânea de excelência máxima.
Para saber mais:
A obra “Entre Mulheres” de Luciano Mendes pode ser encontrada aqui.