Descolonizar nossas práticas e as políticas

Tiago Tristão Artero

Olhem para ver se a granada não está no bolso. O sistema está botando granadas nos bolsos de quem vivia em seus territórios, na América Latina e na África, mas não só.

Governadores e youtubers bebendo leite, também.

Áreas do conhecimento, como Filosofia, Sociologia, História, Artes e tantas outras que se propõem a refletir e dar a chance do ser humano ressignificar suas práticas são veementemente atacadas. Aliás, quando algum(a) professor(a) de qualquer área atua de forma coerente com a totalidade do conhecimento, saberes e culturas, também é atacada(o).

A sensibilidade do nosso país encontra-se no desrespeito a soberania dos povos que aqui já habitavam e nos que foram separados do seu continente africano. O avanço do agronegócio e da tentativa de transformar os povos indígenas em pobres trabalhadores da área urbana não cessaram nem mesmo nos governos de esquerda.

As políticas públicas acompanham a hegemonia das classes que só colocaram no poder uma falsa crença de liberdade, estendendo os mecanismos coloniais.

Autoritarismo, racismo, patriarcado e tentativa constante de aniquilação de culturas são validados como se isso pudesse ser naturalizado. Isso fica claro quando vemos a opressão dos povos da área rural, urbana e opressão da natureza também – desrespeitando os direitos da Madre Tierra.

Estamos caminhando a passos largos para a própria extinção dos humanos. Não é a toa que vemos queimadas sem controle na Amazônia e no Pantanal, mineração em ricos ecossistemas, opressão das culturas que não se dobram aos processos produtivos e ao trabalho alienante exigido pelo sistema.

Não… o problema não é o presidente da República. Ele é parte do problema. Não podemos cair na dualidade de que há um homem mau e que há outros que não são. Logo virá uma “direita cheirosa e sofisticada” para continuar com as opressões.

O que gera opressão, morte e destruição do planeta é o capitalismo.

Temos que pensar diferente de outros governos de esquerda que faziam apologia ao desenvolvimentismo e criavam a falsa crença de que era possível avançarmos o capital em direção ao BEM ESTAR SOCIAL. Os governos de direita e extrema direita também pensam assim (este último, sem disfarçar o descompromisso com o bem-estar do pobre e negras, negros, povos indígenas).

A luta não pode ser para que as brasileiras e brasileiros tenham o direito de comer carne todos os dias, ter automóvel, empregar-se nas indústrias, desenvolver tecnologias para a exportação daquilo que chamam de RECURSOS NATURAIS – ainda que não sejam recursos, pois este termo desconsidera que somos parte da natureza e ao destruí-la, destruímos a nós mesmos.

Para que isso aconteça (o bem estar social que até as esquerdas defendem) é preciso mineração, garimpo, queimadas, extermínio da população negra e indígena, superexploração do solo, divisão internacional do trabalho e a objetificação de todo tipo de vida (inclusive a humana). Aliás, para que isso ocorra, querem que os índios deixem suas culturas para se tornarem pobres nas cidades, no contexto urbano. O Ecocapitalismo é uma forma cruel travestida de boa que continuará a oprimir, matar e colonizar (a Lua será a próxima).

A América Latina possui uma história de luta que deve ser considerada e devemos estudar nossa ancestralidade e os processos que se deram neste território, entendendo que o antropocentrismo leva à opressão (inclusive das epistemologias), novas Pandemias e escassez.

Convido a todas e todos a terem um olhar ecossocialista sobre a sociedade, em alternativa a política genocida apresentada, indicada por alguns como Necropolítica. Descolonizar as nossas mentes é preciso… escolas e instituições precisam ter seus currículos e suas práticas baseados em um pensamento decolonial.

Convido para que aprimoremos as táticas de luta, utilizando-se de mandatos coletivos (advogo aqui pelas mulheres, negras(os) e indígenas neste protagonismo) e conhecendo as tecnologias e a história dos povos brasileiros, negros e indígenas (não contadas nos livros).

*Sobre os mandatos coletivos, Thiago Ávila nos explica no canal “Bem Vivendo”.

**Sobre o conhecimento dos povos indígenas, o professor da UFGD Mário Sá nos presenteou com a palestra “Deu branco no preto”, no IFMS.


Imagem de destaque: Vika Aleksandrova / Unsplash

 

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