Desafios da educação contemporânea: modelo educativo do século XIX, discentes do século XX e alunos do século XXI

Carmem Rodrigues Chaves
Vagner Luciano Coelho de Lima Andrade

Cognitivamente, versar sobre o século XXI é confabular sobre um planeta em um constante desenvolvimento que se constrói e desconstrói, numa escala muito rápida. O professor tem um contexto com tantas demandas, que precisa ser rediscutido. Como é a sala de aula atual? O que está acontecendo nela, hoje?  Discentes são educados por dois atores: pais e docentes. Duas constatações: em primeiro lugar, um professor desmotivado, que não teve a valorização da sua profissão. E alunos, onde seus pais não tiveram escolaridade e são desmotivados. As crianças estão nas escolas, no ensino primário, mas não estão aprendendo, e como garantir que todos esses discentes aprendam? Tem uma questão importante: uma criança pode aprender muito, se sua trajetória foi marcada pela equidade.

Algumas políticas públicas se referem ao Banco Mundial (BM), que por sua vez é uma instituição que atua com investimentos públicos voltados para melhorar o desenvolvimento de diferentes políticas. No caso específico da educação, ajuda o governo com aconselhamento técnico, com empréstimos, e em alguns casos, doações, para que de fato, melhorias aconteçam. O mundo em desenvolvimento estabeleceu metas globais para que a educação transforme crise em oportunidade. Se a coletividade não desenvolver urgentemente políticas públicas, a desigualdade cultural, educacional, política, social, não aumentará. Como garantir que todas, e cada uma delas aprendam de acordo com seu potencial, que é ilimitado. O desafio está posto: por um lado, as limitações políticas e por outros as demandas e desafios do tempo presente.

O processo de ensino precisa ser adaptado para garantir que cada criança do século XXI aprenda, de acordo com seu projeto societário. A desigualdade aumenta, quando aborda-se a política educacional um raciocínio degradador: a segregação, o preconceito, a estereotipação, a exclusão, o desfavorecimento. Por que investir apenas nos mais “brilhantes”, ou seja, os que estão mais adaptados aos rótulos e padrões do mundo vigente? Se fizer somente isso e não pensar em apoiar a todos sem distinção, o direito básico da educação é violado, tornando-se um crime para com a humanidade. Se todos forem acolhidos e motivados, sem distinções, haverá o desabrochar de muitos talentos, pois todos os alunos aprenderão. Estamos no século XXI e o desafio que a humanidade já colocou tem de sair do tradicionalismo (processo onde o professor escreve e os alunos copiam). Deve-se iniciar toda uma revolução de uma maneira igual, envolvendo todas as crianças nas escolas.

Temos de somar o que a humanidade aprendeu com a educação em massa, transformando num processo de personalização com colaboração para a mudança da realidade. Ir para um processo educativo já ultrapassado implica no que aconteceu na Idade Média, e no Brasil Colônia, quando preceptores trabalhavam de uma maneira isolada com os filhos dos nobres. Nos tempos antigos, apenas os elitizados recebiam o ensino primário, depois seguiam para colégios particulares internos. Parece fácil dizer, mas não é, temos áreas no mundo, que o desafio anterior não foi cumprido, onde as crianças saem das escolas, sem aprender. Estatísticas da PROVABRASIL apontam que 250 mil crianças passaram alguns anos na escola, mas não sabem ler, escrever, e fazer contas básicas na matemática.

São indícios de que precisamos cumprir uma tarefa: mudar o que está aí: modelo educacional do século XIX, professores do século XX e alunos do século XXI. Isso é possível hoje, no limiar do século XXI, com as novas tecnologias, com professores se preparando, atuando mais como um facilitador de um processo de aprendizagem do que um fornecedor de conteúdo vazio. Por mais doloroso que seja, ainda não temos todos os educadores alinhados com o tempo presente. Precisamos alcançar os educadores que ainda ensinam como no século XX. Mesmo com a modernização na velocidade do trem-bala, ainda não se inventou nada que substitua um docente de qualidade. O professor tem um papel chave na educação contemporânea, dada a quantidade de desafios, demandas e dilemas impostas pela sociedade.

Na educação de adultos, temos mecanismos que criam um processo de autodisciplina que leva o discente a ver a realidade de cada aula, levando-o a aprendê-la, para poder aplicá-la. Isso demanda um forte investimento no professor, em sua base de sustentação ética e teórica, em sua trajetória de formação de cidadãos engajados. O professor é o cerne e precisa ser reiniciado todos os dias, como chave mestra do processo. Um processo moderno de formação inicial distinta na universidade completamente reconfigurado tem que chegar à escola. Em termos de licenciaturas, a universidade, tanto pública, quanto privada, no Brasil, forma teoricamente apenas enfatizando fundamentos da educação: filosofia, sociologia, psicologia, e não prepara o professor para uma sala de aula.

Quando o educador era formado no ensino Normal Superior, tinha-se uma relação com a prática, porém com sua extinção, perdemos o caráter profissionalizante (Prática de ensino). Deixamos para trás essa técnica abrindo os cursos de licenciatura, ampliando as formações e perdendo a formação técnica. Números importantes, aqui no Brasil mostram o aumento gradativo das licenciaturas, com múltiplas habilitações, em sua maioria ofertadas na modalidade EAD. Hoje, o professor entra para sala de aula, sem a prática, sendo preciso recuperar o caráter profissionalizante do docente, na abordagem, trato, condução, filiação, fidelização do ensino com as crianças.   Temos de ter consciência dos erros e acertos que estão nas salas de aula. Buscar avanços e inovações. como mais da metade dos negros jovens estão no ensino médio, que é uma grande vitória.

É algo a ser comemorado, o Brasil foi o que mais avançou no teste educacional internacional, com 58 lugares em matemática, 65 em economia. De 2012, para cá, o Brasil, foi um dos países que mais evoluiu em termos de aprendizagem, então tivemos algum acerto sim, estamos evoluindo, mesmo que para alguns pareça a passos lentos. Estamos avançando de uma maneira correta, ao avaliar se as crianças estão aprendendo. Sabemos que, no 5º ano e 9º ano, a cada dois anos, a qualidade de avaliação, expressa em resultados de aprendizagem, é revelada ao país. É a partir daí, que constatamos os avanços na 1ª etapa do ensino fundamental, porém ainda não estamos avançando na 2ª etapa do ensino fundamental e piorando no ensino médio.

Pode-se dizer que 68 % do sucesso escolar, depende da escolaridade da família dessa criança. O que se discute em casa, a importância que os pais dão ao sucesso escolar, as viagens, ida a museus? O exemplo dos pais lendo. O ambiente que ele frequenta em casa. Isso contribui. Quando a criança vai para escola, ela tem um repertório que aprendeu em casa e vai conseguir usar dentro do colégio. E o professor, caso o aluno não tenha esse repertório, terá que recompensar.  Se o educador tiver uma postura fabril ensinando a todos de maneira igual, voltaremos ao modelo do século XIX: aprendeu, aprendeu, se não aprendeu é reprovado. Esse educando acumula frustações e acha que é incompetente, porque o próprio docente não contribuiu. Os pais retiram esse estudante da escola, porque ele não conseguiu provar seu potencial (evasão). Uma consequência da realidade de cada família, para não perceber o desenvolvimento e o potencial desse aluno evadido.

O próprio o educador vira vítima do processo por ter uma formação inicial (licenciatura), muitas vezes, inadequada. As formações posteriores (especializações) também são inadequadas. Sendo idealista, o que não mudou, ainda pode mudar, a dificuldade de algumas universidades de perceber o importante papel de formar o novo professor do século XXI. O docente que perceba a importância de intermediar o ensino com seu aluno, que apoie o processo de cada educando. São relevantes o que o professor passa dentro de sala de aula, como ele usa o tempo, como engaja a sua turma no processo de conteúdo que ele aborda. A escola do século XXI, tem desafios tão gigantescos para vencer e conseguir intencionado formar um cidadão crítico. Não basta falar em escolarização, é preciso garantir que a criança tenha os 12 anos de escolaridade de forma inovadora e transformadora, rompendo com o tradicional e que revelem resultados concretos em uma trajetória de melhoria. Uma prática educadora diferenciada mostra onde e como estão aprendendo efetivamente fazendo com que a equidade seja consolidada, sem discriminação. Cuidar da educação para que aconteça a efetivação do conhecimento das crianças e jovens de nosso mundo, principalmente no nosso país é garantir que possam desenvolver todo seu potencial no fim do desafiador século XXI.

 

Sobre a autora
Graduada em Arte-Educação pela Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, Especialista em Educação Especial e Inclusiva. Licenciada em Letras, com habilitação em LIBRAS, Especialista em LIBRAS. Bacharel em Letras, com habilitação em LIBRAS, Especialista em Docência em LIBRAS e Tradução em LIBRAS. Especialista em Gestão Escolar e Mestranda em Ciência da Educação. E-mail: carmemrchaves@yahoo.com.br

 

Para saber mais
https://direcionalescolas.com.br/como-preparar-educacao-para-o-seculo-xxi/

https://brasilescola.uol.com.br/historiag/relacoes-sociais-no-seculo-xxi.htm

https://blog.institutosingularidades.edu.br/o-novo-papel-do-professor-no-seculo-xxi-novos-conceitos-e-tecnologia/

https://fundacaotelefonicavivo.org.br/acervo/viagem-a-escola-do-seculo-xxi/


Imagem de destaque: Istock

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *