Biografias Negligenciadas: uma homenagem a Marielle Franco (1979-2018) em Belo Horizonte

Vagner Luciano Coelho de Lima Andrade

O objetivo deste texto é discutir as biografias negligenciadas na cidade de BH, ou seja, pessoas mineiras e brasileiras que contribuíram para o desenvolvimento da cidade, do estado ou da nação e não receberam nenhum reconhecimento, tendo seu nome dado à uma avenida, escola, parque, praça ou rua. Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco, nascida no Rio de Janeiro, aos 27 de julho de 1979, filha de Marinete Francisco e Antônio da Silva Neto, foi uma ativista, socióloga e política brasileira. Filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), elegeu-se vereadora do Rio de Janeiro para a Legislatura 2017-2020, durante a eleição municipal de 2016, com a quinta maior votação.

Na Coligação “Mudar é possível (PSOL/PCB)” obteve 46.502 votos, tendo como bandeiras, os direitos humanos, o feminismo, e reprovava a intervenção militar, tendo apontado múltiplos episódios de abuso de autoridade por parte de militares versus habitantes de comunidades carentes. Foi a segunda mulher mais votada na função de vereadora em todo o país, atrás somente de Rosa Fernandes. Com educação católica,  cresceu no Complexo da Maré, no bairro da zona norte carioca. Em 1990, aos 11 anos de idade, iniciou a trabalhar com os pais como vendedora ambulante, acumulando dinheiro para pagar sua formação educacional. Aos dezoito anos abandonou a função de camelô e passou a exercer o cargo de educadora infantil em uma creche, onde permaneceu por dois anos. Na adolescência, dos 14 aos 17, foi bailarina do conjunto de funk Furacão 2000.

Em 1998, nasceu sua única filha, Luyara, decorrente de um relacionamento temporário. Naquele mesmo ano, inscreveu-se na primeira turma de pré-vestibular comunitário oferecido aos jovens das favelas da Maré. Em 2000, começou a lutar pelos direitos humanos, após sua amiga ser fatalmente acertada numa troca de tiros entre traficantes e policiais. Em 2002, entrou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), graduando-se em Ciências Sociais com uma bolsa integral de estudos adquirida pelo Programa Universidade para Todos (PROUNI). Posteriormente concluiu mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde dissertou sobre a temática “UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro”.

Na eleição estadual carioca de 2006, Franco se agregou ao conjunto de campanha que elegeu Marcelo Freixo à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Com a posse de Freixo, foi designada assessora parlamentar do deputado, trabalhando com ele por dez anos. Adotou a coordenação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da ALERJ, onde proporcionou ajuda psicológica e jurídica a familiares de vítimas de assassinatos. Na Câmara Municipal, presidiu a Comissão de Defesa da Mulher e associou-se à uma comissão de monitoramento da intervenção federal no Rio de Janeiro, sendo selecionada como relatora em 28 de fevereiro de 2018. Era crítica da intervenção federal, assim como recriminava e acusava firmemente violações aos direitos humanos e abusos policiais.

Eleita vereadora, trabalhou na coleta de informações sobre a violência contra as mulheres, pela garantia do aborto nos eventos assegurados por lei e pela ampliação na participação feminina na política. Em pouco mais de um ano, escreveu e firmou dezesseis projetos de lei, dois dos quais foram acatados: um que regulamentou a ocupação de mototáxi e a Lei das Casas de Parto, propondo a constituição desses ambientes objetivando efetivação de partos normais. Suas proposições legislativas procuravam cobrir apoio aos direitos das mulheres, à população LGBT, aos negros e moradores de favelas.  Em 14 de março de 2018, Marielle chegou à Casa das Pretas, na rua dos Inválidos, na Lapa, para mediar um debate promovido pelo PSOL com negras, por volta das dezenove horas.

Por volta das vinte e uma horas, Marielle deixou a Casa das Pretas com uma assessora e o motorista, Anderson Pedro Mathias Gomes. Por volta das vinte e uma horas e trinta minutos, na Rua Joaquim Palhares, no Estácio, região central da urbe, um automóvel acopla com o carro de Marielle e perpetra treze disparos. Quatro alcançaram o vidro e nove atingiram a lataria. A vereadora foi atingida na cabeça por três tiros e um no pescoço, e o motorista levou ao menos três tiros nas costas, o que ocasionou o extermínio dos dois. A assessora foi atingida por estilhaços, levada a um hospital e liberada.  Após o corpo ser velado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, com o comparecimento de milhares de pessoas, ela foi sepultada em 15 de março, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.

Em Belo Horizonte a ideia é homenageá-la, dando seu nome ao Parque das Nações, instituído em 2002, por pedido da comunidade adjacente, em prol da salvaguarda e conservação do lugar. Localiza-se entre a Rodovia BR-356 (altura do Ponteio Lar Shopping) no Santa Lúcia e a Avenida José Maria Alkimim, Belvedere. Com um espaço aproximado de 110 mil m², sua vegetação exibe espécies distintas de herbáceas (gramíneas), arbustivas e arbóreas (pequenos grupos de árvores). A fauna é composta por espécies da avifauna, como andorinhas do temporal, anus-preto, bem-te-vis, gaviões carijó, rolinhas e tizius. Também se empreenderá um projeto de lei para que seu nome seja dado à Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio, no Bairro Novo Horizonte, em Ibirité, Grande BH.


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