Marcela Anastácio*
No livro, As rosas que o vento leva de Xandra Lia, tem emoção, aventura, memória e pertencimento. Mas se tem algo que define se é que algo define, é ancestralidade e oralidade. Foi emocionante do início ao fim, ler e conhecer a história de tia Rosa. Uma mulher negra firme, a frente do seu tempo, que não teve medo de viver sua vida e terminar de criar sua filha só. Uma mulher que carregou consigo uma vida de conhecimentos e saberes que curavam não somente o corpo mas sobretudo a alma e as memórias de quem vencia o preconceito, encarava o medo e ia até ela para ouvir suas histórias, tomar suas rezas, apanhar com suas ervas, trocar afetos e sentir-se acolhida.
É importante ressaltar e me rouba a atenção do fato de que um sapato uniu tantas histórias, Xandra Lia traz a memória um fato que ocorreu e que a teria deixado bastante envergonhada e até mesmo marcaria sua infância, de quando ela quase vai a escola com os sapatos sujos de lama. Como um objeto pode ser de tamanha importância em épocas diferente e distantes? Só me deixa a certeza de como o nosso imaginário está interligado, como o passado interfere mesmo que involuntariamente no presente e futuro. Me fazendo entender, relembro aqui a história também citada por Xandra Lia, Na escravidão, todos os escravizados faziam questão de ter um sapato quando eram libertos, pois isso os diferenciavam dos que ainda eram escravizados. Me traz a memórias alguns rap ou Mc’s que assim que começam a ascender economicamente compram pares e pares de sapatos, também me traz a memória a série cidade dos homens onde um menino que vive no morro sonha com uma vitrine, onde ele compra o seu próprio tênis de marca. As memórias são uma ferramenta para o nosso povo é algo que nos reconecta voluntária ou involuntariamente.
* Pedagoga e professora.