Ou ainda: o que está por trás das nossas aulas? Ensinar a partir de uma visão ampliada de sociedade parece ser algo cada vez mais necessário e, também, cada vez mais distante. Penso eu, que isto ocorre porque quanto mais se busque significados para a prática docente, menos se compreende o que está por trás de nossas aulas.
Podemos, por acaso, compreender ‘por que ensinamos o que ensinamos?’ Estariam os conteúdos condicionados a ‘mentes brilhantes’ que definiram o que é importante para ser ensinado e a ênfase que se dará em cada possível contextualização dos temas e conteúdos?
Ser professor parece ser um ato de professar algo que foi sistematizado e que, consensualmente (ou não), foi indicado como uma das ‘verdades’ a serem trabalhadas nas situações pedagógicas.
Quer queira, quer não, a atuação docente está impregnada por conceitos de sociedade. Quer queira, quer não, a atuação ocorre a partir de abordagens pedagógicas condicionadas a estes conceitos de sociedade. Existem ‘regras’, quase imutáveis, que direcionam o que se espera que um professor da disciplina x ou y ensine e a/as abordagem/abordagens ideal/ideais.
É certo que por trás de nossas aulas há um arcabouço de conceitos e preconceitos construídos e que, em muitos dos casos (a maioria, eu diria), destina-se a manter ou (por que não) melhorar o status quo.
A necessária discussão que não é feita diz respeito ao porquê de ensinarmos o que ensinamos. O imprescindível debate deve ocorrer em torno de que tipo de sociedade estamos falando. De quais poderes e quais sistemas regem/definem nossa prática. O fato é que muitos reclamam (entre professores, alunos, pais, gestores) e poucos conhecem as alternativas, pois, imersos na sociedade (nos moldes em que ela se apresenta) não conhecem algo diferente do que é tradicionalmente executado.
Fazer ‘mais do mesmo’ significa ter os mesmo resultados. Fazer diferente sem ampliar a visão, pode significar retrocesso. Termos claros conceitos como o das ‘cidades educadoras’ ou os projetos alternativos de organização social, certamente são caminhos a serem aventados.
Sempre há uma ideologia por trás do ato de ensinar, mesmo que o professor ou gestor educacional não perceba. Aventar ensinar algo diferente significa ter que saber para onde caminhar. Questionar o poder e os sistemas que regem a sociedade é algo muito bem feito pelas linhas críticas que existem na educação (em especial, as marxistas). No entanto, no momento de definir as alternativas e as rupturas, muito se fala sobre as mudanças em um âmbito geral, pouco se conhece sobre as mudanças específicas que os professores (cada um em sua área) podem começar a realizar.
‘Desenvolver o espírito crítico’ ou ‘uma visão crítica’ são jargões largamente utilizados.
‘De qual espírito crítico estamos falando’ ou, ainda, ‘onde quero chegar com este olhar crítico’, são jargões muito pouco utilizados e, menos ainda, colocados em prática.
Afinal, o que está por trás do que ensinamos?
Nunca saberemos se não nos perguntarmos… nunca iremos melhorar se não mudarmos…