Um sistema judiciário que foi feito pelos donos do poder e age para manter a mesma lógica de opressão que há séculos dá o tom das relações sociais deste país – Brasil.
Uma polícia que protege os interesses da, cada vez maior, acumulação das riquezas ligadas às propriedades privadas e às terras (foi criada pra isso).
Uma educação que não consegue, minimamente, cumprir condições interculturais e dialogar nos métodos, conteúdos e objetivos com as centenas de etnias que formam as culturas manifestadas no Brasil.
Um Estado neoliberal que, no frigir dos ovos, garante a acumulação de capital e diz oferecer o mínimo (ou menos que o mínimo) de condições de vida para a maioria da população.
Uma parceria público privada que garante que as pessoas não tenham soberania alimentar e fiquem refém das parcas políticas públicas sociais… sem território, sem reforma agrária, sem demarcação de terras, sem moradia.
Ongs e pesquisadoras(es) que fazem um apelo social para beneficiar-se de causas indígenas, quilombolas, das favelas e tantos outros temas sensíveis que se revertem em cifrões ou em reconhecimento acadêmico, pouco importando a situação real das pessoas e comunidades.
Empresárias e empresários que usam da “pegada” indígena ou ambiental para vender mais, para acumular dinheiro, explorando a cultura, a imagem e o talento de verdadeiras(os) artistas plásticos, cantoras(es), sábias(os) e tantas(os) outras(os) consideradas(os) exóticas(os).
Partidos políticos que, somente agora, oferecem candidaturas a negras e indígenas, preferencialmente como vice… para cumprir uma cota moral, digamos assim.
Não caberia em um artigo de opinião, nem mesmo em um livro, a quantidade de exemplos de formas de exploração dos que dizem importar-se e defender causas de imigrantes, de ribeirinhos, de indígenas, de crianças doentes, de idosos, enfim, de todas(os) que são fragilizados pela violência genocida do sistema empresarial e depredador que se coloca como hegemônico.
Fica como sugestão uma profunda necessidade de refletir sobre mudanças que derrubem a burocracia racista das instituições formais colonizadoras e colonizantes, que se colocam violentamente como gestoras da vida e da cultura alheia.
Pequenas ações, mesmo dentro do sistema, podem ser um ponto de início de reflexão, como os ministérios na Bolívia que estão, ao menos no nível formal, orientados para a superação do patriarcado, para o reconhecimento de várias nações dentro de um mesmo território nacional e para o fim dos mecanismos de colonização privados e públicos.
Imagem de destaque: Vista da Favela da Rocinha. Foto: Alicia Nijdam