Sobre ipês amarelos e sobre professores
Paulo Henrique de Souza
Oriunda da cultura indígena tupi, a palavra ipê significa casca dura e era usada para confeccionar arcos para caça e defesa. A madeira dessa árvore é resistente, pesada, difícil de ser serrada, resiliente aos roedores e à umidade. Resumindo, os ipês são fortes e belos, quando florescem, deixando sua marca no horizonte e na memória de quem os contempla.
Os estudiosos afirmam que os ipês são nobres, mas, mesmo com essa característica, são utilizados após cortados para construções de pontes, móveis, pisos, escadas, instrumentos musicais, portais e janelas. Traduzindo, o ipê é multitarefa. Mas a função mais lembrada, na proximidade da primavera e durante essa estação, é embelezar a paisagem. Eles fazem marketing sendo extremamente naturais. Os professores e professoras deveriam ser assim. O simples é sofisticadíssimo, sempre.
Em tempos de tecnologias diversas e tantas metodologias ativas, é necessário convidar as crianças e adolescentes ao simples. Lembra daquela aula que nunca esqueceu, por que o/a professor/a falou sobre vida, rotina, situações-problemas reais e sobre antifragilidade – ficar melhor depois de uma crise, traduzindo.
Metaforicamente, o que os ipês podem ensinar para atores educacionais? Essa pergunta nos auxilia a pensar sobre a importância do ser “casca dura”, para enfrentar as críticas recorrentes de estudantes, colaboradores, famílias, vizinhança e comunidade do entorno quando as decisões são impopulares, mas necessárias, para garantir a excelência do ofício de facilitar aprendizagens.
Uma coisa é certa! Quem ocupa o papel de liderança é sempre visto e julgado pelas suas atitudes, se assemelhando aos ipês que, ao florir, não passam despercebidos, seja pelas flores e pelo chão que fica marcado pela sua presença. Professor e professora é assim… Se parar para tomar uma “cervejinha” é logo visto/a, kkk. E nas redes sociais? Todos querem comentar sobre um modelito, como se fôssemos extraterrestres…
Na verdade, bons educadores são “caçadores” de estratégias para garantir ambientes de aprendizagens, utilizando seus “arcos” para caçar táticas e operações capazes de garantir um clima organizacional focado na defesa da missão, visão e valores institucionais. Os professores, como os ipês, necessitam ser corteses, elegantes, belos e fortes para dar limites e possibilidades ao time de estudantes e à comunidade educativa.
Os ipês levam, em média, quatro anos para começar a dar as primeiras flores. O professor depende dos ciclos para apurar resultados e indicadores, relativamente precisos. A metodologia de avaliação interna e externa é fundamental. Durante a maior parte do ano, os ipês são módicos e sóbrios, e na hora certa encantam a todos com sua beleza. Encantar famílias, estudantes e colaboradores é uma jornada quase impensável.
Como os ipês, os professores devem se defender de quem tenta cortar, serrar e amputar a árvore que são as práticas pedagógicas participativas. Uma instituição deve resistir à fragmentação e se constituir em uma comunidade de aprendizagens, fértil e florida. Os estudantes, seus comportamentos, sentimentos não podem ser ignorados, sem a “seiva” de sua identidade e de sua visão de mundo.
Os professores e professoras necessitam entender e serem entendidos, pois na maioria do tempo devem agir no sentido de não serem personalistas, mas facilitadores do espírito de equipe, da inteligência coletiva e das aprendizagens colaborativas. No lugar da tentação do “eu-equipe” é necessário fomentar a equipe.
É interessante observar como o vento espalha as sementes do ipês, fazendo-os florir numa sequência maravilhosa que enche os olhos e transborda a estética das cidades e dos campos, onde crescem. As escolas precisam florescer e para isso precisam de todos, mas não sobreviverão sem os mestres. Por isso: carinho!
Interessante pensar que mesmo ao ser cortada, a madeira do ipê se transforma em pontes. O professor, mesmo ausente da escola, deve delegar poderes e papéis ao seu time, criando pontes e conexões entre os estudantes para que se comuniquem com assertividade e respeito.
Gostei de descobrir que a madeira do ipê pode se tornar piso. O professor e a professorassão como uma estrutura que dá suporte e base para a equipe de educandos, de maneira elegante, mas firme para suportar a gestão de crises, não se deslumbrando com os elogios frente a sucessos. O ipê com seu florescer esplêndido é breve. Isso pode ajudar o professor a pensar que o sucesso do passado não pode ser cultuado. O ipê dá a sua florada e, depois, se torna sóbrio até a próxima oportunidade. Muitos se lembrarão de nós, outros não. Faz parte!
A madeira do ipê pode ser usada de maneira flexível, se permitindo tornar, mesmo apesar de dura e forte, instrumento musical. No trabalho educacional, o professor ora carece ser o escultor e o maestro que constrói instrumentos de avaliação e ferramentas para atender e entender com excelência seus diversos públicos com gostos e expectativas distintas.
Os ipês constituem uma família diversa e constituída por flores belas e de várias cores, neste aspecto, os professores necessitam respeitar as vozes múltiplas, as nuances de cada pessoa envolvida no processo de ensino aprendizagem da escola e, respeitosamente, as várias interpretações sobre a rotina e o cotidiano. Todos devem florir da forma que são.
Ipês são pedagógicos. Aprendi isso nas Primaveras da vida. Quando surgirem, contemple-os e aprenda a ser como eles ao gerir sua existência. Abra as portas e as janelas. Seja e encontre beleza no dia a dia. Até as flores no chão são belíssimas. Assim são os professores e as professoras!