Quando me vi professora

Yolanda Assunção

Conhecer os sentimentos e pensamentos da categoria que conduz a educação e a formação cidadã da sociedade é um caminho para compreender as realidades, percalços e felicidades da docência. Para muitos, professoras e professores personificam, muitas vezes, os sistemas de ensino, as escolas e até a educação em si. Mas quem são essas pessoas? Desde 2018 a Revista Brasileira de Educação Básica busca jogar luz sobre esta questão e apresentar um pouco dessas diversidades de histórias na Série Documental “O pão nosso de cada dia”. Contando a história de 3 professoras e um professor, em diferentes momentos da carreira docente e em espaços diferentes, os 4 episódios da série falam do “ser educadora” além da sala de aula, nos caminhos, físicos e narrativos, que trilham todos os dias.

A série, dirigida e produzida por Thiago Rosado e Vanessa Macêdo, expõe as possibilidades da docência em várias perspectivas, desde as expectativas e percepções da recém-formada Isabella Assis, até as muitas histórias dos 26 anos de carreira de Vanderleia Reis de Assis, passando por Angélica Ferreira e seu cuidado com as identidades dos alunos e o exigente Helder Junio de Souza que ocupa seu lugar na formação cidadã de jovens em Sabará.

Mas na última semana, a contação desta(s) história(s) ganhou um capítulo extra: um encontro, frente a frente com esses educadores, reunidos, num ambiente de pesquisa e formação, a Faculdade de Educação da UFMG. No dia 01 de outubro, a equipe da Revista Brasileira de Educação Básica realizou uma exibição da série, seguida de uma roda de conversa coordenada pela professora da Universidade de Brasília Edileuza Penha de Souza, especialista em Cinema Negro no Brasil e no Continente Africano. Com o auditório Luiz Pompeu de Campos lotado, a sessão conduzida por Thiago Rosado, propiciou um diálogo direto entre todas aquelas vozes, para além de leituras isoladas dos 4 episódios.

Logo no inicio do evento, a Diretora da Faculdade de Educação, Daisy Cunha, destacou o grande significado daquele encontro: ouvir a voz de professores, do chão da escola, dentro da Universidade. Para a professora isso deve ser constantemente considerado no processo de formação e por isso, ações como esta devem ser valorizadas. Já os produtores da série lembraram que aquele era um momento para observar os resultados dos encontros com as professoras, mediado pela câmera. Thiago Rosado destacou como o processo de falar e aprender com os professores nesses encontros evidenciou as potências de aprendizagens nas mais diversas circunstâncias. Já Vanessa Macêdo apontou o esforço de promover o reconhecimento do papel de autoria dos professores da Educação Básica, de que suas próprias vozes narrem suas vivências, um dos princípios da Revista Brasileira de Educação Básica.  E as personagens da série usaram bem este espaço de fala. Se vendo no vídeo, vendo uns aos outros e diante de um grande número de outros professores, estudantes e pesquisadores, Vanderleia, Helder, Angélica e Isabella falaram sobre os sentidos e efeitos de ter suas histórias contadas na série.

Com seus vários anos de experiência, Vanderleia relembrou as muitas pessoas que caminharam com ela. Nos ônibus, nas escolas, em casa, na universidade… sempre pessoas diferentes que fazem parte da história que ela narra. Helder, que odeia ser filmado, refletiu sobre como o seu “estar” na tela e dividi-la com outras professoras expõe a potencialidade de reunir trabalhos, projetos e vivências no dia a dia da escola. Mas do que isso, ele reforçou sua crença na ação dos estudantes. “Continuo acreditando e vou acreditar por muito tempo. Estejam abertos para os alunos!” declarou. Já Angélica comentou como a série a tornou mais gentil consigo mesma. Sempre muito exigente, ela contou de como os comentários de outras pessoas, os incentivos e elogios, a fizeram reconhecer os próprios méritos e conquistas como professora. Isabella, a mais nova entre os 4, apontou as diferenças e semelhanças dos discursos dela e de seus colegas. Ela reforçou que esses processos de trocas são parte da sua formação permanente.

A professora Edileuza de Souza, que conduziu o debate com a participação dos presentes, encerrou o evento falando da importância do professor se manter sempre disposto e atento à comunidade escolar, ao dar aula, à sua atuação e à recepção dos alunos. “O professor morre quando perde o tesão de dar aula. A alegria de ir pra escola. Quando perde a territorialidade do saber” afirmou.

O encontro com os professores serviu, ao menos para mim,  para rever a série, e fazer isso com frequência. Ouvir os docentes deve ser um exercício constante de todo mundo que lida com a educação. Uma escuta sensível, pessoal, delicada, como a proposta pela série e pelo encontro no dia 01. Fica então o convite para ver e ler, de novo e de novo.

 

Para saber mais
O pão nosso de cada dia no YouTube.


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