O Caos e o Lucro.

Se há uma palavra que tem sido utilizada recorrentemente para a definir a situação brasileira no momento é “caos”. Não há dúvida que vivemos em tempos caóticos, afirmam as análises. No entanto, o que nem sempre se explicita é que este quadro caótico é fruto do investimento de certos agentes sociais e políticos para os quais ele resulta em muitos ganhos. 

Não deixa de ser esclarecedor para entendermos a situação brasileira atual, o fato de que a imprensa noticia com regularidade que vários grupos econômicos que apoiaram e apoiam o governo Bolsonaro tiveram (e têm) ganhos astronômicos com até mesmo durante a pandemia. Do mesmo modo, não é segredo para ninguém, nem mesmo para os grupos bolsonaristas, os enormes ganhos de grupos empresariais, políticos e religiosos que fazem da corrupção e do uso ilegal das verbas públicas a razão de suas riquezas. 

Se, de um modo geral, no conjunto da sociedade, produzir o caos sempre foi uma ótima saída para a concentração de renda e de poder, o mesmo pode-se dizer que ocorre no campo da educação escolar. Aqui, também se observa que o caos é lucrativo e bem-vindo para vários setores.

As aparentes lambanças que o Ministério da Educação vem fazendo, nos órgãos e nas políticas públicas educacionais, nunca foram em vão ou aleatórias. Elas resultaram não apenas no enfraquecimento do Estado Nacional em prover a educação pública, mas também no empoderamento de grupos privados que lucram com isso, seja do ponto de vista estritamente financeiro, seja do ponto de vista político e cultural. No mais das vezes, no entanto, estes ganhos estão intimamente entrelaçados.

A entrega da administração da educação pública para grupos privados e conservadores, notadamente cristãos evangélicos e católicos e empresariais, resultaram, até o momento, não apenas da retirada do Estado de algumas de suas funções precípuas, mas também criaram terreno para  um  avanço  ainda maior de tais grupos sobre o cotidiano da escola e sobre a vida de professoras, alunos(as) e suas famílias.

É evidente que todo este investimento no controle da educação pública, de sua gestão, financiamento e direcionamento político-pedagógico, não começou com a ascensão do bolsonarismo. É uma luta secular e mundial  por uma das mais importantes e capilares instituição de formação das novas gerações para o mundo social. No entanto, não resta dúvida que nesse jogo secular, está a prenunciar uma das mais contundentes, desleais e avassaladoras derrotas dos grupos defensores da democracia brasileira.

Quando milicianos e grupos reacionários e oportunistas, de diversos matizes e origens, se unem e lucram com o genocídio do povo brasileiro, não seria de se esperar que a escola pública fosse ficar ilesa. E, diante deste cenário caótico, nosso olhar de esperança e nossas forças para a luta têm que mirar e apoiar as lutas cotidianas daqueles e daquelas que, apesar de tudo (e colocando a própria vida em risco) continuam a nos indicar que há de amanhecer. 

A estes e a estas, as nossas saudações e agradecimento!


Imagem de destaque: Fotos Públicas / Carolina Antunes

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O Caos e o Lucro.

Editorial da edição 317 do Jornal Pensar a Educação em Pauta

Se há uma palavra que tem sido utilizada recorrentemente para a definir a situação brasileira no momento é “caos”. Não há dúvida que vivemos em tempos caóticos, afirmam as análises. No entanto, o que nem sempre se explicita é que este quadro caótico é fruto do investimento de certos agentes sociais e políticos para os quais ele resulta em muitos ganhos.

Não deixa de ser esclarecedor para entendermos a situação brasileira atual, o fato de que a imprensa noticia com regularidade que vários grupos econômicos que apoiaram e apoiam o governo Bolsonaro tiveram (e têm) ganhos astronômicos com até mesmo durante a pandemia. Do mesmo modo, não é segredo para ninguém, nem mesmo para os grupos bolsonaristas, os enormes ganhos de grupos empresariais, políticos e religiosos que fazem da corrupção e do uso ilegal das verbas públicas a razão de suas riquezas.

Se, de um modo geral, no conjunto da sociedade, produzir o caos sempre foi uma ótima saída para a concentração de renda e de poder, o mesmo pode-se dizer que ocorre no campo da educação escolar. Aqui, também se observa que o caos é lucrativo e bem-vindo para vários setores.

As aparentes lambanças que o Ministério da Educação vem fazendo, nos órgãos e nas políticas públicas educacionais, nunca foram em vão ou aleatórias. Elas resultaram não apenas no enfraquecimento do Estado Nacional em prover a educação pública, mas também no empoderamento de grupos privados que lucram com isso, seja do ponto de vista estritamente financeiro, seja do ponto de vista político e cultural. No mais das vezes, no entanto, estes ganhos estão intimamente entrelaçados.

A entrega da administração da educação pública para grupos privados e conservadores, notadamente cristãos evangélicos e católicos e empresariais, resultaram, até o momento, não apenas da retirada do Estado de algumas de suas funções precípuas, mas também criaram terreno para  um  avanço  ainda maior de tais grupos sobre o cotidiano da escola e sobre a vida de professoras, alunos(as) e suas famílias.

É evidente que todo este investimento no controle da educação pública, de sua gestão, financiamento e direcionamento político-pedagógico, não começou com a ascensão do bolsonarismo. É uma luta secular e mundial  por uma das mais importantes e capilares instituição de formação das novas gerações para o mundo social. No entanto, não resta dúvida que nesse jogo secular, está a prenunciar uma das mais contundentes, desleais e avassaladoras derrotas dos grupos defensores da democracia brasileira.

Quando milicianos e grupos reacionários e oportunistas, de diversos matizes e origens, se unem e lucram com o genocídio do povo brasileiro, não seria de se esperar que a escola pública fosse ficar ilesa. E, diante deste cenário caótico, nosso olhar de esperança e nossas forças para a luta têm que mirar e apoiar as lutas cotidianas daqueles e daquelas que, apesar de tudo (e colocando a própria vida em risco) continuam a nos indicar que há de amanhecer.

A estes e a estas, as nossas saudações e agradecimento!


Imagem de destaque: Fotos Públicas / Carolina Antunes

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