Angu de um dia não engorda cachorro

Jacqueline Caixeta

Quero começar explicando que não estou chamando ninguém de cachorro, até mesmo porque alguns cachorros não merecem ser comparados a algumas pessoas, estou apenas usando o bom e velho ditado da minha avó.

O que quer dizer este ditado sendo citado numa plataforma de educação? Bem, vamos lá!

Ele serve para alunos e pais nesta época do ano.

Sabem aqueles alunos que brincaram o ano inteiro, não levaram nada a sério, não entregavam trabalho porque só valia 3 pontos, não estudaram porque tinham mais coisas pra fazer na vida, enfim, passaram pelo ano letivo indo à escola fazer o que mais gostam: o social! Bem, este determinado grupo de alunos, nesta época do ano, resolvem estudar, decidem mudar de postura e correr atrás do prejuízo no segundo tempo da prorrogação, quando o time já está perdendo. O mês de novembro é marcado por almas querendo ser salvas. A sala da supervisão ou orientação fica lotada de arrependidos dizendo que “agora a ficha caiu” e querem ser aprovados, que uma reprovação seria a pior coisa do mundo, que o emocional deles não está preparado para tal fracasso, enfim, o emocional esteve bem o tempo todo, quando o assunto era se divertir na escola, agora que estão se deparando com uma possível reprovação, apelam para o emocional. E porque apelam para o emocional? Porque sabem que pais e escolas ficam todos mobilizados quando o assunto é o bem estar emocional de seus alunos e filhos.

Ora bolas, seu cara de pau! Não fez seu “dever de casa” como aluno e agora quer ser salvo a qualquer preço? Até mesmo mexendo com algo tão importante que é o seu emocional? Como assim? A vida não pode ser tão fácil assim não! Alguém precisa te avisar que “ser aprovado” em uma escola, diz de um ano inteiro de dedicação para tal, que não é com um mês que você decidiu que quer mudar sua postura e vai ficar tudo bem não. Assuma o que você escolheu pra você lá em fevereiro, quando decidiu tocar o ano do seu jeito, na sua falta de responsabilidade e compromisso, não queira colocar essa conta na porta de ninguém não, ela é sua. O seu emocional esteve a todo vapor de fevereiro até outubro, quando percebe que vai ser reprovado, apela pra isso? Bora crescer! Crescer dói, mas é necessário. Se você não fez o que deveria ter feito o ano inteiro, trate de fortalecer seu emocional e apenas colher o fruto do que você plantou. Toda ação tem suas consequências e a consequência de não ser o bom estudante, é a reprovação, simples assim, seja, no mínimo, honesto com você mesmo e não queira preocupar e descabelar seus pais com ameaças de que seu emocional está destruído não. Assuma, apenas assuma que não fez o que deveria ter feito.

Quanto aos pais, é bem comum serem chamados e não comparecerem para as reuniões pedagógicas que são convocados para falar sobre as dificuldades de seus filhos e, bem, não tão diferente dos adolescentes citados acima, agem da mesma maneira. Querem, a todo custo que a escola encontre estratégias pedagógicas para aprovar seus filhos, simplesmente porque durante um ano inteiro, que a escola chamou para exatamente falar de suas estratégias, não compareceram. Não compareceram quando a escola, preocupada com o desenvolvimento de seu filho, chamava para pedir ajuda, acompanhamento, discutir questões tão próprias e específicas de seus filhos, enfim, não deram as caras e agora, no último minuto da prorrogação, aparecem! Aparecem cheios de saberes pedagógicos, críticas relacionadas ao processo da escola durante todo o ano, mas que, só agora, apontam, só no mês de novembro, quando acordam para uma possível reprovação, querem ser ouvidos e, pior, atendidos em seus pedidos. 

 São anos e anos da mesma história, pais que não acompanham seus filhos, não comparecem quando são chamados e só surgem nesta época. Surgem carregados de suas razões, carregados de seus conhecimentos pedagógicos e alguns, com a ajuda de alguns péssimos médicos, (sim, péssimos, porque os bons, jamais aceitam dar diagnósticos tão rápido assim), surgem com laudos tão sérios, mas que só aparecem nesta época. Infelizmente.

Onde estavam estes pais? Onde estavam quando foram chamados incansavelmente pela escola e não aparecerem? Onde estavam os que não perceberam a dificuldade de seus filhos e, antes de serem chamados, procuraram a escola? Onde estavam os que aparecem no final do ano como se fossem os melhores pais do mundo querendo mudar tudo, inclusive o sistema avaliativo e o regimento da escola, só para que seus filhos não sejam reprovados?

Ah, educação, quantas brigas travamos no decorrer do ano querendo apenas que alunos e pais assumam seus papéis e se responsabilizem por eles. Como corremos atrás! Como nos desdobramos em conversas, orientações, solicitações que nos deixam, como dizem os adolescentes, no vácuo. E eis que chega o final do ano e de repente, do nada, todos querem se fazer ouvir, todos querem, em apenas um único mês de aula, suprir tudo o que não fizeram no decorrer de um ano inteiro. 

Ano letivo é para ser vivido em sua plenitude, desde fevereiro até dezembro, se isso não acontece, não adianta querer resolver tudo em tão pouco tempo, pois, como bem dizia minha avó: “ANGU DE UM DIA NÃO ENGORDA CACHORRO”.

Com afeto, 

Jacqueline Caixeta

1 comentário em “Angu de um dia não engorda cachorro”

  1. Arlete de Faria Capelari

    Parabéns pela matéria Jaqueline! Este beliscão na orelha faz os citados questionar sua autenticidade ao praticar suas ações e escolhas. Elevando o atual cenário para a diversidade de momentos transformadores das realidades específicas…

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