E agora José, Maria, Enzo e Valentina?
Paulo Henrique de Souza
Com o final de mais um ciclo eleitoral, a expectativa dos debates sobre Educação se dissipa, restando a incerteza sobre quais promessas realmente se materializarão em ações efetivas.
No eco do poema de Drummond, “E agora, José?”, o retrato da pós-eleição se desenha com as luzes das campanhas que se apagaram e as multidões que antes apoiaram o discurso educativo agora se dispersam.
A festa dos compromissos verbais e promessas de todo o tipo acabou, e nos deparamos novamente com um cenário onde a valorização dos professores, a qualidade e quantidade da merenda, o fornecimento de material básico e a estrutura física das escolas tornam perguntas sem respostas claras.
O que restará das pessoas interessadas em nossos palanques? No calor dos debates, foi falado sobre a inclusão, mas a realidade nas salas de aula segue clamando por recursos e apoio adequados para atender todas as crianças.
As promessas de valorização dos professores – tantas vezes aplaudidas – precisam enfrentar o desafio cotidiano de gestão justa e de condições dignas de trabalho que, por vezes, são deixadas de lado após o término das campanhas.
De acordo com Agência Brasil, os desafios específicos para o próximo (atual) prefeito de Belo Horizonte, um dos fundamentais é qualificar o ensino fundamental. Contudo, isso vai muito além das propostas; inclui, antes de tudo, uma transformação que deve atingir a infraestrutura das escolas, onde tantas obras permanecem inacabadas e reformas básicas aguardam por atenção.
No palco e cenário gestores, professores e funcionários precisam se desdobrar para suprir a falta de recursos, e é a comunidade escolar que luta, muitas vezes sozinha, para garantir um ambiente minimamente acolhedor e protetor para as crianças e adolescentes.
Assim como no poema, nos resta perguntar: “E agora, José?”, pois a luz dos holofotes já não ilumina essas questões como nas promessas de campanha, e a realidade persiste, esperando por soluções que possam, de fato, transformar o cenário educacional.
Um exemplo prático é a trajetória do Ideb em Belo Horizonte, uma vez que entre 2007 e 2017, a capital testemunhou uma evolução significativa, saltando de 4,4 para 6,3 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para os primeiros anos do ensino fundamental. Esse progresso trouxe reconhecimento: em 2017, Belo Horizonte liderou entre as capitais do Sudeste e figurava em quinto lugar no ranking nacional. Esse desempenho positivo foi resultado de esforços consistentes e, sem dúvida, contribuíram para elevar o padrão de qualidade do ensino fundamental nas escolas municipais.
Entretanto, essa ascensão começou a se inverter nos últimos anos. Em 2019, o Ideb caiu para 6,0, e em 2021, desceu para 5,8, posição que se manteve estável em 2023. Essa queda fez com que Belo Horizonte perdesse a liderança regional e caísse para o décimo lugar no ranking nacional, sendo superada pelas capitais Rio de Janeiro e Vitória. A estabilidade no índice, contudo, não representa uma retomada do crescimento, mas sim uma estagnação que indica a necessidade de compensar as políticas e práticas educacionais, buscando soluções que evitem um retrocesso ainda maior.
Cabe agora refletir sobre a importância de se debater o Ideb e os desafios da educação básica nos municípios após o festivo e propositivo período eleitoral. Os candidatos (agora os eleitos) apresentaram propostas, agora é hora de reverter essa queda qualitativa no chão de cada escola. Afinal, a Educação precisa de investimentos que vão além das promessas. É necessário compensar a formação continuada dos/as professores/as, garantir a infraestrutura que acolha e motivar os alunos e investir na valorização de todos os envolvidos no processo educacional.
Voltando ao questionamento do poema de Drummond, “E agora, José?”, a Educação em Belo Horizonte está à espera de respostas. Será que os próximos gestores conseguirão recuperar e até superar o índice conquistado em 2017? A população anseia por ações que restabeleçam a qualidade do ensino fundamental, superando os discursos e alcançando a tão prometida qualidade para Josés, Marias, Enzos e Valentina…
Uma cidade inteligente e educadora não se limita a adotar tecnologia ou infraestrutura avançada, mas, sobretudo, deve investir em processos inclusivos e formativos que empoderem seus cidadãos, tornando-os agentes ativos de transformação. A Educação, nesse contexto, é estratégica para a construção de um espaço urbano que responda aos desafios contemporâneos de forma sustentável e com justiça social.
Para que Belo Horizonte se torne essa cidade descrita no marketing, é necessário estabelecer um planejamento integrador que vá além do tradicional. Políticas de valorização do professorado, formação continuada, modernização dos espaços escolares e investimento em tecnologias educacionais devem ser prioridade. Ao mesmo tempo, a educação deve dialogar com outras áreas essenciais, como o desenvolvimento sustentável, a inclusão digital, o incentivo à cultura e a saúde preventiva, criando uma rede de proteção e promoção do bem-estar para todas as faixas etárias.
E agora?