Ainda é sobre respeito

Jacqueline Caixeta

Anos e anos vivendo a rotina de escolas e ainda venho aqui, pedir licença para meu leitor, pra falar do mesmo, pra cansar vocês com a minha insistência, pra gritar um grito que nunca ficou preso na minha garganta, mas que também nunca ecoou tão alto e forte que pudesse mudar tudo.

Venho, de novo e mais uma vez e, talvez sempre, falar sobre respeito ao professor.

Na educação infantil, esperamos respeito dos pais, pois as crianças são uma delícia e toda e qualquer ação que diz de falta de educação e respeito, sabemos que são reflexos de seus pais, da não educação que recebem em casa. Os pais de crianças pequenas não valorizam tanto os professores enquanto agentes de conhecimento e transformação na vida dos filhos, enxergam apenas a parte, que também é muito importante, do cuidado com os filhos. Com isso, confundem os papéis e delegam aos professores funções que não são nossas, são deles.

Trabalhar com crianças requer cuidado constante, mas o trabalho mais importante da educação, é o de contribuir e proporcionar que eles desenvolvam suas habilidades físicas, motoras, cognitivas, criativas, sociais, emocionais, com diversas ações pedagógicas que vão muito além do que cuidar para que o suco que derramou na merendeira seja limpo.

Perceber, valorizar e respeitar um professor de educação infantil, tem que passar pelo conhecimento de sua função, do tanto que ele é importante para o desenvolvimento de seu filho. É preciso que os pais busquem saber sobre o que é trabalhado e quais os objetivos daquelas atividades que eles pouco valorizam. Uma folha rabiscada tem tanta intenção pedagógica, uma brincadeira de massinha, de montar brinquedos, de pintar, colorir, ou simplesmente o momento do parquinho, tudo isso traz questões fundamentais a serem desenvolvidas para que a criança cresça e continue a aprender desenvolvendo suas potencialidades.

Infelizmente, muitos pais procuram a escola infantil para questionar situações que nada dizem do trabalho pedagógico, parece que esquecem que somos professores. Temos muito trabalho a fazer e queremos mostrar tudo isso. Não somos babás de seus filhos, até mesmo porque não temos formação para ser! Nossa formação é outra. As babás precisam ter formações específicas que dizem do cuidado, da alimentação, da saúde e da proteção, que são tão importantes quanto a nossa formação, mas não é a mesma coisa. Não queiram confundir as bolas e cobrar que professores tenham demandas de babás. Não temos essas competências. Somos professores. O desrespeito começa quando não se valoriza um profissional dentro de suas qualificações. Tanto professores quanto babás, têm suas qualificações de devem ser respeitadas por tais.

Quando avançamos um pouco mais, o desrespeito começa a tomar outros caminhos. Alguns pais, acham-se pedagogos e querem palpitar em nosso trabalho. O que não falta são pais chegando à escola e querendo mudar as estratégias pedagógicas da professora porque seu filho não está feliz, ou, não está indo bem na escola. Outras vezes querem mudar o sistema avaliativo, a maneira como o professor corrige atividades e provas, enfim, se acham no direito de opinar onde não possuem a competência para tal. Nunca vi um médico aceitar de um paciente que lhe diga como proceder no tratamento, como fazer os exames, que medicação ministrar. Já pensou se as pessoas que pegam ônibus cismarem de dar opinião em como o motorista tem que dirigir? Cada um com sua visão sobre direção segura? Poderia dar mil exemplos apenas para dizer que a única profissão que quem não tem a formação e se acha no direito de opinar, é a do professor. Chega ser hilário bilhetes que recebemos de mães dizendo que não concordam com tal atividade, que era para ser de tal maneira, etc. Com que direito uma mãe que não tem a formação adequada, pode interferir no trabalho de quem estudou e estuda muito todos os dias? Se isso não é falta de respeito, não sei mais o que é.

Saltando dos pais para os filhos, vamos lá!

Quer desrespeito maior do que um professor está dando sua aula e o adolescente está no celular? Como vocês acham que um professor se sente? Ele está ali, se entregando, colocando tudo que sabe, tentando preparar da melhor maneira possível aquele aluno e o aluno como está? Nem aí para o professor! É como se o professor nem estivesse em sala de aula. Falta de educação, falta de respeito sim! 

E quando eles viram de lado ou para trás, como se estivesse numa resenha? O bate papo na cara do professor e, quando este pede pra prestar  atenção, lá vem caras e bocas. 

Na faculdade, melhora? Afinal, já são adultos! Não, não melhora. O desrespeito continua do mesmo jeito. Jovens entram e saem da sala sem, como dizia minha avó, “nem abanar o rabo”. É como se não tivesse ninguém na sala de aula, afinal, já estão na “facu” e fazem o que querem, já são “adultos”. E assim esse desrespeito vai invadindo o professor com uma audácia assustadora.

Nós professores, somos os maiores responsáveis pela formação de todo e qualquer profissional, porque será que ainda somos tão desrespeitados? 

Já passou da hora de pensar sobre questões cotidianas que desrespeitam o professor, não é possível que pais e alunos não conseguem enxergar o quanto um professor é fundamental para o país. O professor merece e precisa ser mais respeitado porque ele carrega consigo o sonho de milhões de pessoas, ele é responsável para que o conhecimento seja compreendido, refletido, questionado e analisado com criticidade e criatividade e, isso, nenhuma inteligência artificial será capaz de fazer nunca, porque a inteligência artificial não tem o dom de tocar na alma das pessoas e um bom e inesquecível professor, toca na alma.

O professor tem a magia de traduzir em palavras, sentimentos, em dizer com o olhar, o que palavras não conseguem gritar. Um professor ainda é e será eternamente aquela pessoa que sabe fazer o sonho acontecer.

Com afeto,

Jacqueline Caixeta

2 comentários em “Ainda é sobre respeito”

  1. Viviane Santos Alvim

    Os pais devem confiar nos professores para orientarem e inspirarem seus filhos, enquanto os professores devem confiar nos pais para apoiarem o aprendizado em casa, criarem um ambiente propício ao estudo e estarem presentes nas atividades escolares

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