Uma pequena história do cinema brasileiro – parte III

Alexandre Azevedo

Paralelamente à pornochanchada, surgiram obras dirigidas por cineastas que se destacaram por seus filmes autorais, como José Mujica Marins, o inesquecível Zé do Caixão, considerado o pai do gênero terror no Brasil, como é o caso de À meia noite levarei sua alma e Esta noite encarnarei em teu cadáver. Não podemos nos esquecer também dos filmes estrelados pelos Trapalhões (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias), totalizando 23 filmes, de 1978 a 1990, muitos deles dirigidos pelo cineasta croata, J.B. Tanko. Dentre eles, Os saltimbancos trapalhões (com músicas de Chico Buarque de Holanda); O cangaceiro trapalhão; Os vagabundos trapalhões; Os trapalhões e o mágico de Oróz; Os trapalhões no reino da fantasia e Os trapalhões no auto da Compadecida. Este último baseado na peça de Ariano Suassuna, que obteve sucesso também mais tarde com Guel Arraes, na direção de O auto da Compadecida, estrelado por Fernanda Montenegro no papel de Nossa Senhora, Selton Mello como Chicó e Matheus Nachtergaele, como o impagável João Grilo.

Na década de 90, o cinema nacional voltou a crescer, tanto em quantidade quanto em qualidade, propulsionado por incentivos de leis públicas, chegando alguns deles a participarem de grandes festivais de cinema como o Cannes, o Urso de Ouro7 e o Oscar. Dentre esses filmes, estão O quatrilho, dirigido por Fábio Barreto, inspirado no livro homônimo de José Clemente Pozenato, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1996, e Central do Brasil, de Walter Salles, tendo não só concorrido ao melhor filme estrangeiro na edição do Oscar de 1998, mas também a de melhor atriz, fazendo com que Fernanda Montenegro se tornasse a primeira mulher latino-americana a concorrer àquela premiação. Naquela ocasião, a vencedora foi Gwyneth Paltrow com Shakespeare Apaixonado. As outras concorrentes eram Cate Blanchett com Elizabeth; Meryl Streep com Um Amor Verdadeiro e Emily Watson com Hilary e Jackie.

Nos anos 2000, a comédia ganhou destaque nas telonas do país, como Minha mãe é uma peça, dirigido por André Pellenz, protagonizado pelo ator Paulo Gustavo, considerada a maior bilheteria do cinema brasileiro em 2013, e Os homens são de marte… E é pra lá que eu vou, dirigido por Marcus Baldini, sendo sucesso de bilheteria em 2014.

Tão importante quanto o chamado cinema de ficção é o cinema documental que, no Brasil, também tem o seu lugar de destaque, como Cabra marcado para morrer, sobre a vida de João Pedro Teixeira, líder camponês, assassinado por latifundiários da Paraíba, dois anos antes do golpe de 64. Dirigido por Eduardo Coutinho, esta obra-prima do cinema documental, fez com que o cineasta se tornasse o maior documentarista do país. Outros bons documentários brasileiros, segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a ABRACCINE, são Jogo de cena, de Eduardo Coutinho; Santiago, de João Moreira Salles; Serra das desordens, de Andrea Tonacci; Ilha das flores, de Jorge Furtado; Ônibus 174, de José Padilha, e Di, de Glauber Rocha, este sobre a vida e o enterro do grande pintor Di Cavalcanti, um dos participantes da Semana de Arte Moderna. Também merecem destaque nesse gênero os clássicos O poeta do Castelo, de Joaquim Pedro de Andrade, sobre o cotidiano do poeta Manuel Bandeira, e Fazendeiro do ar, do escritor Fernando Sabino e David Neves, sobre o poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, duas das grandes raridades do documentário brasileiro.

A importância da arte cinematográfica é tão grande que não à toa foi denominada de a sétima arte8 (as outras seis são: música, poesia, dança, pintura, escultura e arquitetura). Apesar de o Brasil não ter as mesmas condições financeiras que países como os Estados Unidos, com suas superproduções hollywoodianas, ele também produz ótimos filmes. Que tal agora escolher um deles? Bom filme!

 

Para saber mais
Na verdade, o cinematógrafo foi inventado por outro francês, Léon Bouly (1872-1932), três anos antes dos irmãos Lumière. Entretanto, perdeu o registro de patente.

Victor Lima Barreto (1906-1982), cineasta. Além de O cangaceiro, dirigiu, dentre outros, Fazenda velha; Painel; São Paulo em festa e A primeira missa.

Jeca Tatu surgiu na obra Urupês, de Monteiro Lobato. Símbolo do atraso e da miséria do sertanejo, ele influenciou Mazzaropi na criação do seu personagem Jeca.

Participaram do neorrealismo italiano cineastas como Roberto Rosselini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti.

Uma das principais características da Nouvelle vague era retratar o amor livre durante a época da revolução conhecida como Maio 68, um movimento político marcado por greves e passeatas estudantis.

Cada episódio do filme é dirigido por um cineasta: Marcos Farias, Miguel Borges, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman.

Urso de Ouro é o prêmio máximo do Festival de Berlim, um dos mais respeitados festivais do mundo.

O termo sétima arte foi cunhado pelo crítico de cinema italiano Ricciotto Canudo (1877-1923).


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