Cláudia Maria Abreu Cruz
Durante a pandemia do Covid-19, as escolas foram fechadas e professores(as), às vezes resistentes ao uso da tecnologia, tiveram que se reinventar, assumindo o ensino remoto e à distância e, para isso, tiveram que trabalhar com inúmeros equipamentos digitais.
Neste novo cenário, o(a) professor(a) lançou mão de diversas ferramentas disponíveis na Internet. Desde as mais usadas como o Facebook, WhatsApp, Instagram, Youtube, blogs até as plataformas próprias de aprendizagem como Google Classroom, Moodle, entre outras.
Foi grande o desafio de ensinar neste formato e maior ainda foi o desafio dos(das) alunos(as) de aprender.
A conjuntura digital trouxe uma abundância de novidades, e muitos de nós fomos mergulhados neste universo. A escola aderiu a tendência, antecipando sua inserção na era digital.
Assim, a escola hoje se encontra no meio de uma realidade sobre a qual ainda se adapta e enfrenta escassez de recursos.
Neste contexto desafiador, se apresenta mais uma demanda, que é a multiplicação e circulação de informações que nem sempre são confiáveis.
As mídias digitais, em especial as redes sociais, nos sobrecarregam com mensagens de fontes não confiáveis, que acabam desinformando. O termo Fake News é novo e tem sido utilizado com frequência; entretanto, a prática de desinformação não é uma novidade da era digital.
De acordo com Opera Mundi, em 25 de agosto de 1835, no jornal New York Sun, muitos artigos foram publicados anunciando a descoberta de vida na Lua. A Farsa da Lua Cheia (The Great Moon Hoax), como ficou conhecida a série de artigos, dizia das evidências de formas de vida na Lua, inclusive de animais fantásticos como unicórnios, castores de duas pernas, humanoides dotados de asas, entre outras falsas informações. Posteriormente tais artigos foram desmentidos.
Destaco que, conforme portal, desde o dia em que o primeiro dos artigos da série foi publicado, as vendas do periódico dispararam e os leitores o aprovaram com forte entusiasmo. O problema era que nada do seu conteúdo tinha comprovação, ou seja, tudo era falso.
Dito isso, penso que a escola tem, além dos históricos desafios, mais um grande obstáculo para transpor, que é o de levar o(a) aluno(a) a compreender as faces da (des)informação, as causas e as consequências desse fenômeno contemporâneo de degradação informacional a que estamos todos expostos.
Acredito que a escola terá que promover, mais do que nunca, a prática habitual da leitura crítica, cuidadosa e reflexiva; instigar o hábito de questionar a informação e de não apenas consumi-la; avaliar o propósito e a qualidade das informações e utilizar de mecanismos básicos de checagem. E, é claro, trabalhar para que o(a) aluno(a) reflita sobre seu importante papel na luta contra a desinformação.
Ressalto que vale pensar que a escola terá que discutir também sobre o fato de que, com a inserção nas redes sociais, passamos a ser consumidores (as) e produtores (as) de informação e que as tecnologias para criar e publicar estão cada vez mais acessíveis a todos.
Outro aspecto que a escola terá que refletir é sobre como e o porquê das plataformas “selecionarem” o que vamos ver, oferecendo aquilo que nos emociona, acabando por influenciar o que acreditamos e o que, posteriormente, compartilhamos.
Sabemos que a escola é o espaço legítimo de formação de cidadãos(ãs) conscientes de seus direitos e deveres, informados, com papel importante na transformação da sociedade, uma vez que quanto mais a gente sabe, melhor a gente decide, melhor temos condição de escolher e de enxergar a realidade que nos cerca. Informados, somos também capazes de combater a desinformação, tomando para cada um de nós esta necessária tarefa.
Neste sentido, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), União Internacional de Telecomunicações (ITU) e Conselho da Europa, reconhecem a relevância da Internet e das novas tecnologias da informação e comunicação na sociedade como ferramentas habilitadoras do desenvolvimento humano, na perspectiva de obter acesso a informações que resultem na melhora da qualidade de vida, no exercício da cidadania, ampliando a participação na vida comunitária como garantia de efetivação de direitos humanos.
Ressalto que a pandemia do Covid, ainda em curso e com aumento recente de casos, pode novamente impactar o trabalho na escola.
O meu desejo é que a sociedade e o poder público reconheçam a importância da educação como um investimento e que o acesso de alunos (as) e professores(as) aos recursos digitais e à Internet de qualidade seja uma realidade breve em nosso país, gigante e desigual.
Sobre a autora
Pedagoga e professora aposentada que desenvolve trabalho voluntário na alfabetização de adultos. Idealizadora do Projeto Pedaços de Cor. Sugiro a leitura do texto A Escola e o Ensino de Leitura em: tempos de Fake News: Uma Proposta para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Para saber mais
Opera Mundi é um portal de notícias brasileiro segmentado, especializado na cobertura de temas internacionais, com foco em política, economia e cultura. Foi fundado em 2008 pelo jornalista Breno Altman, com uma linha editorial progressista. Disponível em: https://operamundi.uol.com.br/hoje-na-historia/37590/hoje-na-historia-1835-jornal-dos-eua-divulga-descoberta-de-vida-na-lua Acesso em: novembro de 2022.
O New York Sun, fundado em 1833 era um jornal em formato tabloide, de baixo preço e com estilo de jornalismo mais narrativo que tinha como alvo um público muito mais amplo.
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