Uma cidade chamada Dogville – Herbert Glauco de Souza

Herbert Glauco de Souza

Grace (a bela e competente Nicole Kidman), a personagem central do filme, está fugindo de um bando de gângsteres. Ela chega à isolada Dogville, onde é acolhida por Tom (o bom ator Paul Bettany), um morador da cidade, que intercede em seu favor junto à comunidade local: eles a ajudam a se esconder e, em troca, ela se compromete a prestar-lhes pequenos serviços. O problema é que os bandidos intensificam a busca de Grace, o que faz com que os habitantes da cidade supostamente se sintam ameaçados. Em nome dos riscos aos quais a cidade estaria exposta, seus “dóceis” moradores passam a exigir mais e mais serviços pessoais de Grace e acabam por escravizá-la, revelando os pequenos “monstros” neles embutidos.

Um dos grandes problemas trabalhados no filme diz respeito ao problema da aceitação. Refere-se à dificuldade de aceitar o diferente, o estranho, o novo. Nesse sentido, quando Grace chega àquela cidade em que residem apenas 16 adultos, com duas ruas e um cachorro, trajando roupas diferentes, trazendo do incógnito exterior sabe-se lá o quê, ela causa um impacto. A comunidade faz especulações e lhe dá duas semanas para lhe conhecer. As duas semanas passam, o caráter da moça é mostrado, é compreendido. No entanto, o novo é rechaçado. O preconceito mascara a realidade, forja pensamentos perversos e, principalmente, esconde os defeitos do preconceituoso, transferindo suas próprias falhas e fraquezas para outros, para “bodes expiatórios”. Nestes últimos, são revelados todos os desejos do preconceituoso. É isso que vejo acontecer com Grace, ao ser violentada várias vezes por homens da cidade, mesmo depois que as próprias mulheres do local tomam conhecimento do fato. Essa era uma forma de desviar a atenção e a tensão daqueles tempos tormentosos, jogando-as em alguém de fora.

Dogville (2003) é um típico e cada vez mais raro cinema de arte, em que teatro e sétima arte se confundem. O palco é o local onde o cenário do filme é criado, recheado por grandes diálogos, interpretações fortes e uma mensagem aguda. Dogville é uma cidadezinha entre as Montanhas Rochosas, nos Estados Unidos da América, e a trama do filme se desenrola no conturbado período da Grande Depressão Americana. As tomadas de câmera em Dogville como também a fotografia provocam o expectador, o impacto estético de Dogville é certeiro e inevitável até mesmo no mais insensível dos homens. Esse impacto estético é devido à força estética do filme, elaborado a dedos pelo seu criador. Lars Von Trier combina elementos que se contrastam e chocam o público, suave e agudo ao mesmo tempo. 

Lars Von Trier é o roteirista, diretor e idealizador de Dogville e o cenógrafo do filme. Baseando-se nas ideias do poeta e teatrólogo Bertolt Brecht, o dinamarquês Trier inova, choca e consegue retomar o bom cinema, aquele que está enfocado nas grandes atuações dos atores e numa mensagem reflexiva e forte.

Um dos primeiros signatários do manifesto denominado “Dogma 95” surgido em Copenhague em 1995, foi Lars Von Trier. O manifesto procurava contrariar algumas tendências do “cinema comercial” e recuperar um cinema que consideravam estar morto. O Dogma 95 opunha-se ao conceito de autor, de cinema individual e efeitos especiais.

O preconceito mascara a realidade, forja pensamentos perversos e, principalmente, esconde os defeitos do preconceituoso, transferindo suas próprias falhas e fraquezas para outros, para “bodes expiatórios”.

Grace (a bela e competente Nicole Kidman), a personagem central do filme, está fugindo de um bando de gângsteres. Ela chega à isolada Dogville, onde é acolhida por Tom (o bom ator Paul Bettany), um morador da cidade, que intercede em seu favor junto à comunidade local: eles a ajudam a se esconder e, em troca, ela se compromete a prestar-lhes pequenos serviços. O problema é que os bandidos intensificam a busca de Grace, o que faz com que os habitantes da cidade supostamente se sintam ameaçados. Em nome dos riscos aos quais a cidade estaria exposta, seus “dóceis” moradores passam a exigir mais e mais serviços pessoais de Grace e acabam por escravizá-la, revelando os pequenos “monstros” neles embutidos.

Um dos grandes problemas trabalhados no filme diz respeito ao problema da aceitação. Refere-se à dificuldade de aceitar o diferente, o estranho, o novo. Nesse sentido, quando Grace chega àquela cidade em que residem apenas 16 adultos, com duas ruas e um cachorro, trajando roupas diferentes, trazendo do incógnito exterior sabe-se lá o quê, ela causa um impacto. A comunidade faz especulações e lhe dá duas semanas para lhe conhecer. As duas semanas passam, o caráter da moça é mostrado, é compreendido. No entanto, o novo é rechaçado. O preconceito mascara a realidade, forja pensamentos perversos e, principalmente, esconde os defeitos do preconceituoso, transferindo suas próprias falhas e fraquezas para outros, para “bodes expiatórios”. Nestes últimos, são revelados todos os desejos do preconceituoso. É isso que vejo acontecer com Grace, ao ser violentada várias vezes por homens da cidade, mesmo depois que as próprias mulheres do local tomam conhecimento do fato. Essa era uma forma de desviar a atenção e a tensão daqueles tempos tormentosos, jogando-as em alguém de fora.

Dogville (2003) é um típico e cada vez mais raro cinema de arte, em que teatro e sétima arte se confundem. O palco é o local onde o cenário do filme é criado, recheado por grandes diálogos, interpretações fortes e uma mensagem aguda. Dogville é uma cidadezinha entre as Montanhas Rochosas, nos Estados Unidos da América, e a trama do filme se desenrola no conturbado período da Grande Depressão Americana. As tomadas de câmera em Dogville como também a fotografia provocam o expectador, o impacto estético de Dogville é certeiro e inevitável até mesmo no mais insensível dos homens. Esse impacto estético é devido à força estética do filme, elaborado a dedos pelo seu criador. Lars Von Trier combina elementos que se contrastam e chocam o público, suave e agudo ao mesmo tempo. 

Lars Von Trier é o roteirista, diretor e idealizador de Dogville e o cenógrafo do filme. Baseando-se nas ideias do poeta e teatrólogo Bertolt Brecht, o dinamarquês Trier inova, choca e consegue retomar o bom cinema, aquele que está enfocado nas grandes atuações dos atores e numa mensagem reflexiva e forte.

Um dos primeiros signatários do manifesto denominado “Dogma 95” surgido em Copenhague em 1995, foi Lars Von Trier. O manifesto procurava contrariar algumas tendências do “cinema comercial” e recuperar um cinema que consideravam estar morto. O Dogma 95 opunha-se ao conceito de autor, de cinema individual e efeitos especiais.

Professor Substituto da Universidade Federal de Ouro Preto e Doutorando em Educação pelo PPGE: Conhecimento e Inclusão Social da FaE/UFMG. E-mail: herbert.filadelfia@gmail.com

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