Editorial do Jornal Pensar a Educação em Pauta Nº 178.
Está cada dia mais difícil ser professora no Brasil. Essa é a constatação que se depreende das notícias que envolvem as professoras e, sobretudo, de inúmeros depoimentos de docentes que vemos, ouvimos e lemos aqui e acolá. Ao que parece, à distância geracional entre alunos(as) e professoras, que sempre existiu e tensionou as relações no cotidiano escolar, vieram se somar outros fatores que dificultam a vida das professoras, dentre os quais se pode citar as cada vez mais rápidas transformações do/no mundo atual tornando obsoletos valores e relações até há pouco tidas como fundamentais. Também destacam-se as autorizações à violência como modo de “resolver” conflitos e diferenças no cotidiano escolar, e, sobretudo, a vergonhosa desigualdade que marca a sociedade brasileira e que se faz presente no interior das escolas das mais diversas e perversas formas à medida em que a escola incorporou um contingente expressivo de sujeitos que, antes, a ela não tinha acesso.
Soma-se a isso, as nossas dívidas históricas com a categoria, já que as más condições de trabalho, a ausência de carreiras atrativas e os baixos salários continuam sendo uma de nossas marcas quando se fala de docência no país.
Todos esses fatores estão a tornar a vida das professoras cada vez mais difícil e cansativa, levando as docentes à exaustão e, não poucas vezes, ao adoecimento. No entanto, como se não bastasse esses elementos que envolvem o conjunto de nossa experiência societária e sobre os quais a própria escola e as professoras têm pouco domínio, nos últimos anos as professoras tornaram-se alvo de investimento de grupos reacionários, cada vez mais raivosos em relação aos poucos passos que demos no combate à pobreza e ao reconhecimento e promoção de todas as diversidades que nos constituem.
As tentativas de amordaçar as professoras e esvaziar a escola de seus conteúdos formativos é um projeto que unifica vários grupos reacionários no país. Se é certo que os investimentos destes grupos não visam apenas as escolas, mas as artes, a cultura e a política de um modo geral, eles mantêm a escola e suas agentes principais, as professoras, sob a mais severa das vigilâncias.
Esse investimento pode, no entanto, se lido no seu contraponto: se estão tão preocupados com a ação da escola e das professoras é porque elas, de fato, parecem fazer a diferença na vida de milhões de crianças e adolescentes. Não fosse por isso, não teriam tanta atenção com educação escolar. É disso, também, que temos que tratar no dia das professoras! É de suas ações de resistência e de enfrentamento às dificuldades que temos que nos lembrar nesse Dia das Professoras e Professores brasileiros!
Como já se disse aqui, é preciso que valorizemos o trabalho diuturno que é realizada por quase dois milhões de professoras que, de norte a sul do país, se dirigem todos os dias às escolas para acolher às infâncias e adolescências brasileiras. É desse trabalho que se faz a educação; é desse investimento que se faz a escola pública, a mais republicana de nossas instituições.
Contra os investimentos de grupos reacionários que agridem a democracia, o espaço público e as instituições republicanas, as professoras têm demonstrado uma grande tenacidade para a luta. Nesses tempos sombrios, abrir as escolas e deixar entrar todas as contradições e potencialidades que marcam nossa sociedade é, por si só, um ato salutar, necessário e alvissareiro. É por isso também que precisamos saudar, neste 15 de outubro, todas as professoras e professores que, responsáveis pelo seu ofício, ousam enfrentar as adversidades e buscam se realizar pessoal e profissionalmente na docência. Felizmente não são casos exemplares ou singulares, mas sim formas coletivas e muito disseminadas de exercício da docência de norte ao sul do país.
Oxalá possamos, nos próximos anos, liberar os professores do patrulhamento reacionário, das ameaças de silenciamento e de exposição criminosa e deixá-los apenas e tão somente exercerem aquele ofício pelo qual são, societariamente, responsáveis: a colhida das infâncias e das adolescências do mundo no espaço público da escola!