Maria Konopnicka: poesia para crianças

Alcione Nawroski*

 

Apresentar o livro de uma poetisa e escritora polonesa, ativista dos direitos das crianças e das mulheres em contexto brasileiro, requer uma contextualização um pouco mais apurada, que remete à chegada dos colonos imigrantes no sul do Brasil. Em 1911, Stanislaw Nawrockiestava, com 13 anos, embarcou com seu pai e seu irmão mais novo na estação férrea de Kutno, Polônia, até Frankfurt. Quando chegaram à Alemanha para tomar um trem maior até o embarque náutico na Holanda, ficaram sabendo, na fila, que iriam para a América do Sul porque suas mãos eram calejadas demais para embarcar para os Estados Unidos da América, que tinha preferência por artesãos e comerciantes. A família de Stanislaw era camponesa na Polônia, logo, viria a ser camponesa também no desejado eldorado. Mesmo procedendo do campo, Stanislaw passou pelos bancos escolares e, como herança, trouxe consigo um livro de literatura infantil, intitulado Poeziedladzieci (Poesia para crianças) de Maria Konopnicka.

 

Poesia Na polu. (No campo) Capa do Livro Poesia para crianças (1911). Fonte: Alfredo Nawroski (2015).

 

Destacamos aqui a tradução do polonês para o português-brasileiro da primeira estrofe intitulada Na Polu:

“No campo
Nesse nosso campo
Que tem muito centei
Vai ter bastante pão/Se Deus quiser”

(KONOPNICKA, 1911, p.60, tradução nossa).

 

A poesia de Konopnicka ficou popularmente conhecida por estar baseada no folclore e na expressividade das narrativas camponesas em um país, cujo nome “Polônia”, de acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2009), remete ao radical pole, que significa campo, planície, roça.

A autora simpatizava com as causas dos judeus, com o homem pobre do campo e, principalmente, com os emigrantes-trabalhadores. Suas obras eram altamente patrióticas e nacionalistas, evidenciavam perenemente a veneração pela terra que se planta. Seu patriotismo se estendeu a outros países, quando em 1908, compôs um poema sobre a execução de um patriota irlandês, nascido em Dublin, Robert Emmet, executado pelo Governo Britânico em 1803. Contudo, as obras patrióticas de Konopnicka alcançaram o Brasil em 1910, quando publicou o poema Pan Balcer w Brazylii (O senhor Balcer no Brasil), onde procurou retratar a vida do engenhoso ferreiro Sr.Balcer. A obra apresenta a vida de Jósef Balcerzak, que imigrou para o Brasil, mas, desiludido com a “Nova Polônia” ultramar, onde encontrou “um país maravilhoso, porém hostil” (SIEWIERSKI, 2000, p. 113), decidiu retornar ao seu país de origem.

Além das correspondências trocadas com Pan Balcer, a autora se aprofundou em leituras sobre o Brasil e a emigração, bem como na realização de extensas entrevistas com emigrantes para descrever, com sua sensibilidade artística na forma poética, a situação dos refugiados poloneses em um poema escrito em oitava-rima. Na obra, Konopnicka reuniu informações coletadas durante seis anos sobre os imigrantes poloneses no Brasil, além dos diálogos travados com o ferreiro Balcerzak e apontou o trágico destino, sofrimento e a humilhação destes emigrados.

A autora asseverou em suas emocionantes experiências trágicas as decepções e tragédias das famílias que haviam retornado do Atlântico sem meios de sobreviver, deprimidas, exauridas e, às vezes, agredidas por doenças. Ela descreve na poesia, a volta de camponeses a pé, desde o Porto de Marselha, na França até a Polônia, contornando esse trajeto com sentimentos de derrotas.

Pan Balcer w Brazyliié é um poema épico que busca exalar a alma patriótica do povo polonês como forma de recuperar o Estado que estava desaparecido do mapa por mais de um século. Assim, fez uso da sua proeza literária e escreveu a obra, na qual alertou o povo polonês do perigo da paixão pelo além-mar, conhecida como “febre brasileira” que, de certo modo, estava provocando o esvaziamento de campônios do seu país.

Maria Konopnicka, que também usava do pseudónimo Jan Sawa, morreu em 1910, mesmo ano da publicação do poema de Pan Balcer. Com monumentos e escolas espalhadas pelo país que levam seu nome, especialmente em Kalisz e Varsóvia, onde nasceu e viveu, a autora hoje é bastante lembrada pelo legado deixado na literatura infantil. Tamanho foi o legado que se estendeu ao Brasil por meio do livro “Poesia para Crianças” trazido na mala do imigrante Stanislaw Nawrockie que resistiu às políticas nacionalistas, permanecendo como chave de leiturada cultura polonesa para os seus netos.

Referencias:

HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Elaborado pelo Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

KONOPNICKA; M.;Poezie dla dzieci. Warzsawa: Nakladem Michala Arcta, 1911.

Marja Konopnicka (1842-1910). Disponível em: http://www.info.kalisz.pl/biograf/konopnic.htm. Acessado em 03 de outubro de 2017.

Siewierski, H.; História da literatura polonesa. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000.

* Doutora na linha de pesquisa Sociologia e História da Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC (e-mail: alcione.nawroski@ufsc.br)

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