Precisamos dos poetas para dar coerência aos sonhos

Luciano Andrade Ribeiro

A assertiva que dá título a este artigo é do dramaturgo, poeta e romancista italiano Luigi Pirandello (1936). Ela sintetiza uma das constatações mais óbvias para a formação humana: precisamos da arte para não morrer de realidade. Viver só com o real é tóxico e são necessárias janelas ficcionais para que enxerguemos e respiremos melhor.

Enxergar com olhos poéticos exige treinamento. A escritora Adélia Prado já confessou sofrimento com essa falta de olhar: “De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo”. Mas cabe ao condutor das aprendizagens, o professor, a responsabilidade por despertar o espanto diante do real e, assim, produzir bonitezas do olhar.

Palavras, palavras… cada uma com seu som e significado. Mas todas dotadas de um poder magnífico de constituir enunciado. Por isso, o poder criador da linguagem está na literatura, no cinema, no teatro, na música, nas artes plásticas, no jeito de enxergar o mundo. A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala do que nunca existiu. Com ela, damos existência a novos mundos, a outras realidades.

Oportunizar ao educando ferramentas para descobrir como essas outras realidades são construídas é tarefa honrosa e precípua para o educador. Com isso, um novo e lindo modo de organização de linguagem se consolida e prova que mostrar que outras maneiras de ser são possíveis, que outros universos podem existir.

Uma frase atribuída a Freud – mas sem confirmação de autoria – traz boa percepção sobre esse contexto quando afirma que “não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais, somos também o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos. Somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos, sem querer”. Vem da arte essa pulsão revolucionária do olhar.

O Grupo Galpão, patrimônio cultural do Brasil sediado em Belo Horizonte, tem por hábito transpor belíssimos textos para o teatro e, com isso, empodera o espectador a construir seus silêncios por meio palavra. Na peça Gigantes da Montanha, dirigida por Gabriel Vilella (2013), cujo texto é do dramaturgo italiano que cede palavras para o título destas linhas, um irrecusável convite para a imaginação é entregue:

“Estar aqui é como estar nas bordas da vida.
A um comando, as bordas se separam. Entra o invisível, propagam-se fantasmas, surge o que é comum no sonho.
Está tudo aqui: o sonho, a música, a oração, o amor…
Todo o infinito que há nos homens vocês encontrarão aqui: dentro e ao redor desta vila.
Imaginai…”

Está aí um dos mais significativos papéis da linguagem, o de criar realidades. A linguagem tem o poder de construir sonhos, de dar existência a utopias e, assim, apoderar-se das consciências e pôr em marcha mudanças. Sejamos operadores dessa transformação humana!

Referências

PIRANDELLO, Luigi. Os Gigantes da Montanha. Peça inacabada. 1936

PRADO, Adélia. Paixão. In: Poesia Reunida. São Paulo: Editora Siciliano.1991


Imagem de destaque: Apresentação da adaptação de “Os Gigantes da Montanha” de Pirandello pelo “Grupo Galpão” em Caetité, Bahia, 2019. Foto: André Koehne and Fábio Alves (Direcom-PMC)

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