Por mais Tamires

Jacqueline Caixeta

Num jogo de handebol, Tamires Araújo carrega no colo a adversária até ao banco. O mundo assistiu e aplaudiu isso! Lindo demais!

Fico pensando nas escolas, será que estamos dando conta de ensinar esse tipo de atitude? Será que crianças e adolescentes, tão bombardeados de tantos conteúdos, provas, trabalhos, estão encontrando tempo para viverem a empatia e solidariedade?

Ser solidário, empático e respeitoso, mesmo diante das adversidades que a vida nos convida a saborear, é algo que pode e deve ser aprendido dentro dos muros da escola. 

Atividades de competições existem e vão continuar existindo. O mundo é competitivo, você, querendo ou não, em determinada época da sua vida, vai ter que provar que é melhor que alguém, seja para passar em um concurso, seja para conseguir um emprego numa entrevista e prova seletiva, seja para conquistar uma medalha. Enfim, a competição sempre vai existir, e não há nada de ruim nisso. O que não podemos deixar é de ensinar que, para ganhar, eu não preciso passar por cima do outro. Eu não preciso ser canalha e usar de contra valores para burlar meus adversários.

Precisamos ensinar nossas crianças e adolescentes que as competições devem ser saudáveis e pautadas em valores. Pra ganhar, alguém vai ter que perder e isso é fato, no entanto, há diversas maneiras de lidar com a vitória e a derrota. Você pode aprender a perder e fazer disso um desafio para lutar e conquistar o que quer, se esforçando mais, mas também pode se achar um derrotado e desistir. Isso vai depender de como lhe ensinaram a competir na vida.

Nem sempre a vitória ou derrota dizem de você. Muitas vezes elas se referem ao seu propósito daquela conquista, mas, do que você é e como se enxerga no mundo, isso é só com você. Como você lida com seu oponente é muito mais importante do que a quantidade de vezes que o venceu ou foi derrotado por ele. O esporte tem a delícia de dizer sobre coisas que vão além de capacidades físicas, e é sobre isso que as escolas precisam ficar atentas.

Muitas escolas têm o hábito de, em jogos esportivos, dar medalhas de participação para todos os participantes com o argumento de que a criança que joga e não ganha medalha fica muito frustrada. Ora bolas, o que estão ensinando com isso? Qual o objetivo de se dar uma medalha para alguém participar de algo? A criança não pode se frustrar? Quando então ela irá aprender que, na vida, não será sempre que irá ganhar? É perdendo que se aprende a ganhar! É perdendo que aquela criança vai saber que não deu tudo de si, ou mesmo que tenha dado, alguém foi melhor e que ser melhor ou pior em um esporte vai depender de suas condições físicas e de seu esforço. Será que dar medalha só para não se frustrar é mesmo algo educativo? Quando é que essa criança vai aprender a lidar com as vitórias e derrotas de sua vida? É justo fazer com que ela cresça achando que será sempre premiada por simplesmente participar? 

Os jogos escolares estão aí para nos oportunizar trabalhar tantas coisas com nossos alunos! Parar um jogo e ajudar um colega que se machucou, abraçar o amigo que perdeu, comemorar sua vitória sem precisar zoar, ofendendo e diminuindo o que perdeu, saber reconhecer que o outro foi melhor, ter atitudes de empatia e respeito com seus adversários devem ser o principal objetivo de todo e qualquer jogo esportivo.

Escolas que não ensinam a perder e fazem de conta que o importante é participar não estão contribuindo em nada com a formação de atletas de verdade, assim como também não estão contribuindo com a formação de pessoas que estarão prontas para entrar num mundo competitivo, que irão ganhar ou perder sempre. A vida não pode ser “maquiada”, ela deve ser como é. É muita sacanagem eu não preparar meu aluno para o mundo como ele é. Até quando irei fazer de conta que todos terão medalhas por simplesmente viverem? Não é assim que funciona, não é assim que devemos educar.

Devemos nos voltar para aproveitar momentos esportivos para ensinar a ganhar, perder e respeitar o outro. Podemos dizer aos nossos alunos que  mais importante do que ganhar ou perder é como eu lido com ambos os resultados. Que a frustração existe e é necessária para o aprendizado. Que ser empático e parar um jogo para ajudar um colega que esteja em uma situação delicada diz muito mais da gente do que dos nossos resultados. O esporte, dentro das escolas, precisa criar mais Tamires para o mundo!

Com afeto,

Jacqueline Caixeta

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