Políticas científicas e desenvolvimento social

Na próxima semana, dos dias 13 a 19, a comunidade científica nacional estará mobilizada em torno da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Este ano, o tema da semana é Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social. Segundo seus organizadores a SNCT tem por objetivo “mobilizar a população, em especial crianças e jovens, em torno de temas e atividades de Ciência e Tecnologia”. É, sem dúvida, um nobre e importante objetivo que conta, para sua realização, com a adesão de milhares de pesquisadores, professores e alunos de todo o Brasil.

A relação entre as políticas científicas e o desenvolvimento nacional, no Brasil, vem pelo menos desde os anos 50 do século passado quando começaram a se estruturar as nossas primeiras instituições dedicadas especialmente ao tema do desenvolvimento científico nacional como o CNPq, a CAPES, o CBPE, dentre outras. Apostava-se, assim, no desenvolvimento científico como um dos pilares do desenvolvimento nacional.

De lá para cá, não há dúvida de que houve um acentuado crescimento de nossas instituições científicas e das agências de fomento nacionais, que passaram a contar, também, com a fundamental contribuição das agências estaduais de fomento à pesquisa. Mas também, de lá para cá houve acentuada captura das discussões sobre as políticas científicas pelo pensamento econômico e, por outro lado, pelos agentes acadêmicos detentores do poder de propor e dirigir as demandas do sistema. Nessa direção, desenvolvimento científico foi, não poucas vezes, entendido ora como um componente importante do desenvolvimento econômico, ora mais restritamente, como desenvolvimento da pesquisa acadêmica entre nós.

Nesse sentido, o tema escolhido para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia deste ano é bastante emblemático de uma tentativa  de mudança dos rumos das políticas de ciência e tecnologia no país.  A ideia força aqui é que o desenvolvimento científico e tecnológico não faz sentido se não tem como objetivo último o desenvolvimento social, entendido este como distribuição de renda, reforço à democracia, diminuição das desigualdades, dentre outros. Tal mudança, objetivada nos documentos que resultaram da IV Conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação realizada em 2010, ganha agora um reforço e maior publicidade na SNCT. 

A questão posta, no entanto, é se a comunidade acadêmica nacional está disposta a abrir mão de parte do imenso poder que tem hoje nas agências de fomento e incorporar novos parceiros  na definição e não apenas na execução da agenda e das políticas de ciência e tecnologia do país. 

De todo modo, a temática escolhida para a SNCT e a realização de milhares de atividades em torno dela é uma boa oportunidade para tornar mais densa a nossa cultura científica e para despertarmos as crianças e os jovens para a importância dos temas a ela relacionados. Quem sabe possa, também, ser uma oportunidade para que os cientistas de todas as áreas busquem também estabelecer relações menos desiguais entre  os conhecimentos científicos e os demais modos de conhecer produzidos historicamente pela população e, desse modo, possam ajudar a desmistificar a própria ciência e o lugar social do cientista.  Reconhecer e valorizar a diversidade de saberes  seria, sem dúvida, uma grande contribuição dos cientistas para o desenvolvimento social!

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