Dia do Professor, há sentido em comemorar?
Jardineira, missionária das letras, vocacionada para o ensino, mestra, trabalhadora, proletária do ensino, portadora das luzes, guardiã da memória, parteira do futuro, tia, mal casada,…professora. O léxico é grande para defini-la e só tem aumentado nos últimos anos. Mas, a par dessa riqueza vocabular, será que as profissionais da educação têm o que comemorar em seu dia?
O dia 15 de outubro é, tradicionalmente, dedicado à comemoração do dia do professor., ou melhor, do dia da professora, pois que estas são a maioria na profissão docente. A escolha do dia se deve à publicação, nessa data, em 1827, da primeira lei imperial brasileira sobre a temática da educação.
Ao longo dos últimos dois séculos não foram poucos aquelas que, por escolha ou por constrangimento, escolheram a docência como atuação profissional, fazendo do exercício da profissão uma forma de ganhar a manutenção e, em muitos casos, de atuação social e política. Somos, hoje, mais de 2 milhões de profissionais no Brasil, número este que não para de crescer.
Apesar de se constituir numa das principais ocupações no Brasil e de ser considerada uma profissão das mais importantes por todos os seguimentos sociais, a docência passa, hoje, por uma crise: não são muitos aquelas (menos ainda aqueles!) que escolhem ser professoras. Não por acaso, muitos vaticinam sobre o fim do magistério como profissão!
Há dificuldades a perder de vista: baixos salários, ausência de carreiras decentes, longas jornadas de trabalho, crise de autoridade diante dos alunos e comunidades, desprestígio social, cultural e intelectual, baixa autoestima, sentimento de engodo nas promessas feitas pelas administrações mais diversas. Diante disso, não é de se admirar que em nossa sociedade a docência é considerada uma ótima, importante, imprescindível profissão… desde que seja para a filha dos outros!!
Mas, não podemos esquecer que muitas (e, cada vez mais, muitos!) escolheram e continuam a escolher a profissão! São estas que nos interrogam cotidianamente sobre o futuro da escola, o futuro de nossa sociedade e, enfim, e especificamente, sobre o futuro das novas gerações. São estas que nos fazem interrogar sobre as nossas escolhas societárias e sobre nossas responsabilidades no presente.
Não sendo o salário, a carreira, o tempo livre, as condições de trabalho… os atrativos da profissão, o que mobiliza as professoras pela docência? Talvez seja importante considerar que há muito de indizível nesta profissão que articula ciência e arte e uma enorme gama de afeto. Se do indizível é difícil (mas não impossível) tratar, não podemos deixar de explicitar
Como responsáveis pela escola e pela educação das novas gerações, os problemas das professoras, sobretudo daquelas que atuam na escola básica pública brasileira não é um problema apenas delas; mas também não é um problema apenas do Estado brasileiro. É um problema societário que nossa gente não quis de fato enfrentar. Na sorte das professoras, não nos esqueçamos, jogamos também a sorte de todos nós! Bom será o dia que deixarmos de jogar com algo tão sério e assumirmos o compromisso societário com o nosso destino comum! E não nos esqueçamos que este destino passará, em algum momento, pelas mãos das professoras!
Se ao memorar com, ao re-memorar, cria-se a oportunidade para nos lembrarmos do nosso destino comum, talvez o haja sentido em comemorar apenas e tão somente porque há professoras! Se tal é verdade, não deveríamos nos esquecer nunca que o dia 15 de outubro é o DIA DO PROFESSOR!!!