A Pesquisa em Educação e a Educação Básica

A importância da pesquisa para a elevação da qualidade da escola básica entrou, definitivamente, no rol de preocupação da comunidade acadêmica e científica brasileira. Não são poucas, hoje, as sociedades e grupos científicos das mais diversas áreas que vêm a público afirmar  a importância não apenas de se levar mais ciências para a escola básica mas também a necessidade de as políticas e as práticas educacionais serem baseadas em conhecimentos científicos.

Em que pese a enorme desconsideração que muitos dos cientistas brasileiros e, mesmo, de suas instituições ou grupos acadêmicos têm pela pesquisa e, logo, pelos pesquisadores da  educação e de ensino de ciências e matemática,  e o indesculpável desconhecimento que demonstram pelo que já se sabe sobre a área para a qual se voltam tardiamente, é louvável e muito desejável o interesse que tais colegas cientistas demonstram pela educação básica.

Na área acadêmica da educação, é amplamente sabido e divulgado que os conhecimentos produzidos pela  pesquisa é, ou deveria, ser uma das bases importantes da educação básica. Dada a complexidade do sistema educacional e suas várias dimensões, não mais deveria ser possível fazer a gestão e o planejamento da educação básica sem o concurso dos conhecimentos produzidos pela comunidade acadêmica. Do mesmo  modo, as práticas pedagógicas nas mais variadas etapas, áreas e disciplinas da educação básica teriam muito a ganhar – e têm ganhado – com a incorporação da produção científica da área.

Apesar de muitas vezes desconsideradas pelo senso comum, pelas mídias e, algumas vezes, pelos próprios cientistas e suas instituições acadêmicas, varias dimensões da educação básica tem se transformado brutalmente, e para melhor, pelo concurso da pesquisa realizada na área da educação. Em que pese o saudosismo de muita gente, é necessário afirmar que a escola básica atual, em várias de suas dimensões, é melhor do que a escola de “antigamente”. Pensemos, por exemplo, nos livros didáticos distribuídos às escolas brasileiras. Hoje eles são muitíssimo melhores do que há 20 ou 30 anos! São melhores em termos de conteúdo e de produção gráfica; abraçam e desenvolvem propostas pedagógicas muito mais interessantes para os alunos; são muito  menos racistas, sexistas e regionalistas do que antes. E qualquer pessoa menos desavisada sabe muito bem que essa melhoria resulta do investimento dos especialistas da área em pesquisas e na avaliação dos livros didáticos, uma das mais contínuas exitosas políticas para a área de educação estabelecidas nas últimas décadas.

O exemplo do livro didático poderia ser repetido para muitas outras áreas da educação básica, o que demonstra que há uma relação muito positiva entre a pesquisa acadêmica e a qualidade da educação. No entanto, sabemos que muito  mais poderia e precisa ser feito! Por um lado, há que se garantir  mais a presença dos pesquisadores nas definições das política educacionais – e os pesquisadores precisam estar dispostos a isso! Do mesmo modo, há que se garantir uma maior articulação entre as diversas comunidades acadêmicas interessadas  no tema da educação e, notadamente, na produção de conhecimentos e na formação de professores, visando a uma maior difusão de conhecimentos científicos no interior da escola, dimensão essa em que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) pode vir a ter um papel absolutamente central, desde que se descole um pouco das visões particulares deste ou daquele grupo (dessa ou daquela instituição) sobre o assunto.

No entanto, por outro lado, é preciso garantir aos profissionais da educação básica condições de trabalho e carreiras e salários que lhes permita interagir de maneira produtiva, crítica e criativa com os pesquisadores e com os conhecimentos por eles produzidos. Sobretudo, é preciso devolver aos professores da escola básica as condições e direito de autoria de suas aulas, de seus projetos, de seus materiais didáticos, enfim, de sua  vida profissional.

A permanecer as atuais  formas, por um lado,  de  remuneração, carreira e condições de trabalho, e, de outro, de elaboração e implementação das políticas de educação descoladas das (inexistentes) políticas de pesquisa, os conhecimentos acadêmicos sobre educação, por melhor que sejam e por mais receptivos que sejam os professores, impactarão muito pouco a escola básica  ou, no máximo, servirão como vitrines em ótimos projetos pilotos impossíveis de serem generalizados para as  quase 200 mil escolas brasileiras.

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