Como foi amplamente noticiado nos meios acadêmicos, inclusive aqui no Pensar a Educação em Pauta, na semana passada foi entregue ao Presidente do CNPq, prof. Hernan Chaimovich Guralnik, uma proposta de C&TI para as ciências humanas, sociais e sociais aplicadas. Além do documento, orientador das estratégias e ações da Diretoria a ser criada no CNPq para a Grande Área, o GT, após ampla consulta às sociedades científicas, apresentou também uma lista de temas prioritários para a pesquisa.
Um dos aspectos que o documento aborda, com grande acerto, é a relação das ciências humanas e sociais com a questão da inovação. É justo que a sociedade espere que as ciências humanas e sociais contribuam para os processos de inovação e renovação sociais. E há, sem dúvida, um grande leque de possibilidades de uma colaboração das pesquisas dessas áreas com processos de inovação relacionados ao desenvolvimento científico e social brasileiro.
É justo que se diga, em relação a isso, que as ciências humanas e sociais não têm se furtado, ao longo das décadas, a colaborar com as organizações da sociedade civil e com o Estado no estabelecimento de políticas públicas e de ações as mais diversas. Tais iniciativas, pontuais ou globais, tiveram (e têm) um papel fundamental na diminuição das nossas vergonhosas desigualdades sociais, do nosso racismo velado ou explícito, de nossos diversos sexismos, de nosso déficit democrático, entre outros aspectos de central importância em nossa vida social.
É imperioso que se diga que boa parte de nossos pequenos avanços democráticos, sociais e, mesmo, econômicos das últimas décadas teriam sido impossíveis não fosse o concurso das pesquisas e das colaborações das ciências humanas e sociais. Ademais, na implementação de boa parte dessas ações comparecem não apenas os conhecimentos aí produzidos mas, também, e sobretudo, os profissionais formados em seus cursos de graduação e pós graduação.
Todavia, é importante frisar que a colaboração das ciências humanas e sociais ao desenvolvimento científico e social brasileiro se faz também pela crítica política, social e, inclusive, às próprias ciências, e pela afirmação e, às vezes, pela preservação de nossas tradições. As ciências humanas e sociais, sob pena de perderem seu potencial crítico e, dessa forma, boa parte de sua função social, não podem abdicar de realizar a crítica aos processos de inovação, inclusive científicos, que atentem contra a democracia, que aumentem as desigualdades, que não sejam inclusivos do ponto de vista social e cultural.
Cabe às ciências humanas e sociais, de modo muito especial, a crítica à ideia de que a tradição é necessariamente negativa e oposta à inovação. As tradições, assim como as inovações, sob a ótica das ciências humanas e sociais, são complexas e controversas e podem ser mobilizadas tanto para afirmar os nossos melhores valores, práticas e instituições quanto para negá-los todos.
Que as ciências humanas e sociais sejam compreendidas e fortalecidas como parceiras fundamentais das demais áreas na realização de suas potencialidades inovadoras. E que estas venham de mãos dadas com as nossas melhores tradições, inclusive quanto aos modos de produzir e de expressar os conhecimentos sobre o mundo, sobre a natureza, sobre as relações sociais e sobre os modos de bem viver!