Marcelo Silva de Souza Ribeiro
Paulo Freire vive! Seu aniversário de quase um século (completou 99 anos no dia 19 de setembro) é uma lembrança de todo o seu legado, uma reanimação dos seus ensinamentos e mensagens profundas que deixou para a humanidade, sobretudo no que diz respeito ao amor pelo ser humano no sentido do desejar que esse ser seja “ser mais”, sempre mais e nos desdobramentos de suas potências.
Infelizmente, estamos vivendo reedições de um mundo fortemente polarizado (entre certos e errados, bem e mal etc.) com o reaparecimento de posições autoritárias, diria mesmo fascistas. Não é por menos que a obra de Paulo Freire e mesmo sua imagem estão sendo implacavelmente atacadas. Paulo Freire parece ser uma ameaça para às pessoas que querem um mundo dividido e que apostam na violência como solução.
Talvez a “presença” de Paulo Freire tenha muito mais a nos dar e a nos ensinar, do que nossos esforços em o defender.
Momentos como esses é comum encontrarmos desânimos, esmorecimentos e desacreditar em outros mundos possíveis, principalmente em relação aos que sempre estiveram na linha de frente para superar as desigualdades e as injustiças sociais.
É justamente por isso que comemorar o aniversário de Paulo Freire, o dia em que veio ao mundo e toda a sua passagem na terra, é necessário e salutar. Afinal, um dos principais presentes de Paulo Freire foi nos ensinar a esperançar. A própria vida do nosso patrono da educação foi duramente marcada por sofrimentos. Ele mesmo “caiu” algumas vezes, pensou em desistir e viveu as fraquezas, que são do humano. Contudo, soube se levantar, soube estar com o outro e elaborar ensinamentos da existência para continuar seu caminhar de luta, de alegria e do diálogo educativo.
No seu aniversário de quase um século, Paulo Freire, na memória e obra que carregamos tão prazerosamente dele, nos presenteia com algo essencial, vital, diria até. E esse presente é a esperança, o “esperançar”, para falar de modo mais preciso. Mais do que nunca precisamos atualizar a ação da esperança, que, ao ser plantada, planta no ser, ser no mundo e com o outro, a possibilidade de viver um mundo melhor, e ao fazer isso, um “ser mais” desabrocha. Em outras palavras, isso significa dizer que o esperançar é buscar forças para continuar seguindo no gesto humano do encontro com o outro, no aprender do diálogo, no desvelar novos horizontes, no rebelar formas de existir e que, como uma água insistindo em beijos e lambidas na pedra, a transforma.
A educação libertadora, dialógica em sua essência, ao tempo que sabe de sua capacidade acolhedora é também capaz de viver a autêntica indignação e agir com altivez quando necessário. Um mundo marcado por atos deliberados de violência e intolerância precisa, por vezes, de ações que façam acordar do transe em que muitos estão acometidos.
Paulo Freire nos traz, mais uma vez na comemoração do alto dos seus 99 anos, a lembrança do esperançar pela via da ação, do acreditar, do diálogo, do acolher, mas também do saber ser enérgico, até mesmo conosco mesmo. Precisamos ter compaixão para com a gente mesmo e nos permitir o cansaço… e descansar, mas precisamos também de um momento que devemos nos acordar, retomar a postura e seguir na luta. Com toda certeza… como diria o poeta Mario Quintana, outro grande brasileiro, “eles passarão e nós passarinho”.
Aprendemos mais uma vez com Paulo Freire, e novamente ele nos presenteia com a sua contagiante presença, presença que nos ensina a ter compaixão (conosco e como o outro), mas também a buscarmos forças para continuar na luta e vivermos o esperançar.
Paulo Freire vive na presença do esperançar!
Imagem de destaque: Mural da Escola Municipal Paulo Freire, do bairro Cidade Nova, Caxias do Sul. Foto: Claudia Velho/reprodução
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