Editorial do jornal Pensar a Educaçao em Pauta nº 292
Vivemos um momento de grandes desafios para a educação, não apenas pedagógicos ou da função da escola frente ao mundo, mas também para os pais e os alunos. À pergunta “qual é a crise da educação e como enfrentá-la?”, há uma infinidade de respostas possíveis, inclusive aquelas que propõem o fim da escola e a volta das mulheres ao lar para bem educar seus filhos e suas filhas.
As transformações do mundo atual nos propõem grandes questões éticas, dilemas políticos e desafios acerca do conhecimento e do conhecer. Do ponto de vista ético e político, precisamos voltar a refletir sobre o poder emancipador da educação e sua capacidade de formar cidadãos. Sobre o conhecimento e o conhecer, a legitimidade das experiências e dos modos de conhecer, e de aprender, estão na pauta do dia. Para cada um desses desafios, há uma reflexão generosa e profunda de Paulo Freire, nosso educador maior.
Na última década temos visto enormes avanços e recuos na área da educação e devemos refletir sobre a sua prática do ponto de vista dos desafios da sociedade contemporânea, das desigualdades sociais, dos desafios da implantação e do reconhecimento dos direitos humanos e da própria educação como um desses direitos. A precarização das escolas públicas e dos salários na educação, o foco na formação técnica e o desgaste das relações entre os profissionais da educação e destes com os gestores públicos tem provocado obstáculos para a formação de nossas crianças e jovens, seja na escola fundamental, média ou superior.
Diante de uma tal situação, as reflexões de Paulo Freire nos apontam que é preciso OUVIR e fazer circular a palavra. Ouvir as crianças, os jovens e as suas famílias, incentivar e valorizar a sua criatividade. Elaborar uma pedagogia da palavra e da escuta para criar as ações na educação de hoje que transformarão o presente e o futuro da humanidade.
A sabedoria freireana nos aponta que a sempre atualizada educação bancária – em que o ensino é lucro e se forma trabalhadores subordinados ao capital –não é capaz de produzir novos conhecimentos e pessoas livres e autônomas. O chamamento para todos nós é a consolidação de uma Escola Cidadã que possa ensinar para a vida, para as relações humanas solidárias e para o entendimento de que o meio ambiente que precisamos preservar somos NÓS, todas as espécies animais e vegetais que habitamos o planeta. Entre os tantos saberes em diálogo, em todos os níveis da educação, não se pode deixar de valorizar o ensinamento para o bem estar e o cuidado de todo mundo e com o mundo todo.
A construção de uma educação para alcançar outros mundos possíveis é o mote e a grande provocação para todos nós educadores e educadoras, profissionais ou não do ofício de ensinar. Se estamos preocupados com o presente e com o futuro, não menos importante é pensarmos sobre o nosso passado. Que história temos mobilizado? Quais presentes nosso passado compartilhado tem autorizado e que futuros ele tem acalentado?
Hoje, mais do que nunca as ideias, as sensibilidades e as práticas de Paulo Freire são atuais e necessárias. Como outrora, naquele momento em que Paulo Freire e seus companheiros e companheiras pretendiam criar um outro Brasil, o presente está grávido de futuros. E, se não agirmos, ele pode parir monstros que, mais uma vez, devorarão nossos melhores sonhos de uma vida melhor para todos e para todas. É por isso que o mundo precisa de pessoas e de profissionais preparados numa Pedagogia do Cuidado e da Esperança – aquela que escuta, que acolhe e que ensina a cuidar como um ato coletivo, empático e solidário. É por isso que o mundo precisa de Paulo Freire!