Sulciani Resende Campideli¹
A Hanseníase como tema pedagógico na Colônia Santa Izabel (Betim-MG).
Para quem pensa que educação em saúde se limita apenas aos aspectos biológicos no combate, prevenção e entendimento das patologias humanas, equivoca-se. O entendimento do processo de integração homem/doença/meio ambiente é indissociável. A compreensão da questão perpassa por inúmeras disciplinas que auxiliam os alunos, tanto do ensino fundamental, como do ensino médio. Exemplo disso é a hanseníase, doença para qual há tratamento na atualidade, mas cercada historicamente de estereótipos e preconceitos que precisam ser desfeitos. Assim, educar em saúde é falar em conhecimentos biológicos, históricos, sociológicos e filosóficos para se entender o processo de adoecimento, como ele se dá e como poder público e sociedade o enfrentam.
A Hanseníase é uma doença granulomatosa, proveniente de infecção pelo Mycobacterium leprae. Esse bacilo tem alta infectividade e baixa patogenicidade, propriedades que dependem da relação hospedeiro e grau de endemicidade do meio. O domicílio é apontado como espaço de riscos transmissão, embora existam outros relacionados ao ambiente social. Apresenta estabilização dos coeficientes no Brasil, mas ocorre em patamares altos nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste.
A eliminação dos bacilos são, as vias aéreas superiores e áreas da pele e/ou mucosas erosadas, de área tegumentar, genitálias. São eliminados pelo leite, suor, secreções vaginais, esperma, urina e fezes. Manifesta-se por máculas hipocrômicas, acrômicas, eritematosas ou eritemato-hipocrômicas. Inicia-se com uma ou duas manchas, nas nádegas, coxas e região deltoidiana. Há alteração da sensibilidade vasomotora e da sudorese por acometimento de filetes nervosos, com alopécia parcial.
As provas da picada e da histamina e o exame bacterioscópico são usadas para diagnóstico. A baciloscopia é um exame de fácil execução e baixo custo. Colhe-se o material raspado de tecido dérmico, nos lóbulos das orelhas, cotovelos e em lesão suspeita. A coloração é feita pelo método de Ziehl-Neelsen e apresenta-se o Índice Baciloscópico, numa escala de 0 a 6+. As drogas usadas são dapsona, clofazimina e a rifampicina. Os medicamentos adquiridos pelo Ministério da Saúde são repassados aos Estados.
A vigilância em saúde coleta, processa, analisa, interpreta, planeja os dados subsidiando informações, recomendações, intervenções e encaminhamentos. A vigilância epidemiológica organiza-se em todos os níveis de atenção da unidade básica à alta complexidade. Ela propicia o acompanhamento rotineiro das ações estratégicas para o controle.
A descoberta de casos é feita por detecção ativa ou investigação epidemiológica de contatos e exames de coletividade. A notificação em meio físico, magnético ou virtual é enviada ao órgão de vigilância epidemiológica superior, com cópia no prontuário da unidade onde o paciente foi diagnosticado. O profissional orienta e estimula no tratamento, assegurando a cura. E necessária, a educação contínua preventiva para diminuir o risco de contaminação, enfatizando às medidas de prevenção.
Um exemplo que marca a história de Minas Gerais é a construção dos leprosários, espaços segregados destinados ao isolamento de pessoas acometidas pela hanseníase, quando esta, não tinha, cura e apresentavam alta taxa de transmissão. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, mas precisamente entre os municípios de Mário Campos e Betim, foi fundada em 1921, a Colônia Santa Isabel destinada à segregação desses pacientes. Nos tempos atuais, a colônia se tornou um bairro comum, e patrimônio cultural que reconta uma história de preconceito que precisa ser revista, não somente no tratamento de patologias, mas principalmente na desconstrução de estereótipos.
A Colônia Santa Isabel atualmente é um espaço cultural que pode ser estudada por diferentes etapas de ensino, fundamental ou médio, e especialmente visitada com intuito de se aprender mais sobre o processo de segregação consolidado na sociedade e refletir esta e outras discussões historicamente concretizadas. Hoje temos relevantes reflexões acerca da construção/desconstrução de estereótipos, objetivando revitalizar os preceitos societários, nos quais todos os homens sejam tratados em seus direitos humanos como dignidade e liberdade.
Assim a visita pedagógica à colônia tem como meta, assuntos importantes para dentro e fora de classe, constituindo-se num projeto ético e transdisciplinar, entre os conteúdos de Artes, Biologia, Filosofia, Geografia, História e Sociologia com intuito de compreensão de espaços de apropriação das cidades em que são criados processos e formatos segregadores e excludentes.
Na população total de Betim – MG, com 444.784 habitantes em 2020, observa-se a existência de 11 novos casos em relação à 2019, devido às políticas de controle e vigilância epidemiológica eficazes do município. A intensificação da vigilância epidemiológica nas áreas endêmicas e manutenção de ações efetivas naquelas com estabilização, depende de mobilização social, vontade de gestores, compromisso político, motivação dos técnicos e controle social. As informações estatísticas existentes no Ministério da Saúde têm permitido a autores, estudos sobre tendências da endemia hansênica.
1 – Farmacêutica e Bioquímica com Especialização em Farmácia Hospitalar. E-mail: su-campi@hotmail.com
Para saber mais:
Dossiê de tombamento. Acesse aqui.
Dossiê Colônia de Santa Izabel. Acesse aqui.
A Via Sacra da Hanseníase de Veganin. Acesse aqui.
Colônia Santa Izabel: a lepra e o isolamento em Minas Gerais (1920-1960). Acesse aqui.
Estudo etnográfico sobre Hanseníase. Acesse aqui.
Patrimônios difíceis: monumentos em antigos leprosários. Acesse aqui.
Imagem de destaque: revistahcsm