O Romantismo Brasileiro – parte II

Alexandre Azevedo

A geração nacionalista ou indianista foi assim denominada porque os seus poetas, principalmente Gonçalves Dias, fizeram do índio um herói, símbolo de nossa nacionalidade, e da pátria o lugar ideal para se viver. Quem nunca leu ou ouviu a Canção do Exílio, do próprio Gonçalves Dias, a mais popular poesia de nossa literatura?: Minha terra tem palmeiras / Onde canta o Sabiá, / As aves, que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá. // Nosso céu tem mais estrelas, / Nossas várzeas têm mais flores, / Nossos bosques têm mais vida, / Nossa vida mais amores. // Em cismar, sozinho, à noite, / Mais prazer encontro eu lá; / Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá. // Minha terra tem primores, / Que tais não encontro eu cá; / Em cismar – sozinho, à noite – / Mais prazer encontro eu lá; / Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá. // Não permita Deus que eu morra, / Sem que eu volte para lá; / Sem que desfrute os primores / Que não encontro por cá; / Sem qu’inda aviste as palmeiras, / Onde canta o Sabiá. Essa geração vai do início do Romantismo (1836), com a publicação de Suspiros poéticos e saudade, de Gonçalves de Magalhães, ao surgimento da 2ª geração, em 1853, com a publicação da obra Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo. Por explorarem a morte como a libertação dos males da vida, o tal do escapismo, esta 2ª geração romântica caracterizou-se pelo pessimismo, pelo satanismo e pela morbidez, daí a denominação mal do século, como também se pode notar nesses versos de Lembranças de morrer, de Álvares de Azevedo, o conhecido Poeta da Morte: Quando em meu peito rebentar-se a fibra, / Que o espírito enlaça à dor vivente, / Não derramem por mim nem uma lágrima / Em pálpebra demente. // E nem desfolhem na matéria impura / A flor do vale que adormece ao vento: / Não quero que uma nota de alegria / Se cale por meu triste passamento. // Eu deixo a vida como deixa o tédio / Do deserto, o poento caminheiro / – Como as horas de um longo pesadelo / Que se desfaz ao dobre de um sineiro; // Como o desterro de minh’alma errante, / Onde o fogo insensato a consumia: / Só levo uma saudade – é desses tempos / Que amorosa ilusão embelecia (…). Seus poetas (além de Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela Junqueira Freire, Laurindo Rabelo e Aureliano Lessa) receberam forte influência do poeta inglês Lord Byron. Em 1870, com a publicação de Espumas flutuantes, teve início a geração de Castro Alves. Conhecida como condoreira, esta geração recebeu tal nome porque os seus representantes exploraram o ideal de liberdade, tendo como símbolo o pássaro condor (o pássaro dos Andes, o que voa mais alto, isto é, em total liberdade). Mas condoreira também é a poesia grandiloquente, hiperbólica (exagerada), rica em figuras de linguagem, fazendo-se tão alta como que a imitar o voo do condor. Mesmo com toda essa pompa, a poesia condoreira tinha um cunho social, o de denunciar a escravidão. E não foi à toa que Castro Alves também ficou conhecido como o “poeta social” ou “O poeta dos escravos”. Enquanto os poetas da 2ª geração eram influenciados por Byron, os poetas desta geração receberam influência do poeta e prosador Victor Hugo, um dos mais importantes escritores da França de todos os tempos, autor de clássicos como Os miseráveis e Nossa Senhora de Paris. Condoreira, social ou Hugoana, a 3ª geração perdurou até 1881, quando surgiu entre nós a chamada Época Realista.  E foi justamente como poeta de cunho social que Castro Alves se popularizou. Excelente declamador, o poeta era visto constantemente em saraus e palcos de teatro a recitar seus poemas condoreiros em prol da abolição dos escravos. Para demonstrar todo o seu inconformismo social, Castro Alves retirava do universo os seus elementos grandiosos (céus, firmamentos, mares, oceanos, tufões, furacões, astros, estrelas, etc.), tornando-se o mais hiperbólico (exagerado) poeta da Literatura Brasileira, como pode ser comprovado nesses versos de Navio negreiro: Era um sonho dantesco… o tombadilho / Que das luzernas avermelha o brilho / Em sangue a se banhar. / Tinir de ferros… estalar de açoite… / Legiões de homens negros como a noite, / Horrendos a dançar… // Negras mulheres, suspendendo às tetas / Magras crianças, cujas bocas pretas / Rega o sangue das mães: / Outras moças, mas nuas e espantadas, / No turbilhão de espectros arrastadas, / Em ânsia e mágoa vãs! // E ri-se a orquestra irônica, estridente… / E da ronda fantástica a serpente / Faz doudas espirais … / Se o velho arqueja, se no chão resvala, / Ouvem-se gritos… o chicote estala. / E voam mais e mais… // Presa nos elos de uma só cadeia, / A multidão faminta cambaleia, / E chora e dança ali! / Um de raiva delira, outro enlouquece, / Outro, que martírios embrutece, / Cantando, geme e ri! (…).

 

Para saber mais
ALVES, Castro. Os escravos. Princípios: São Paulo, 2020.

AZEVEDO, Álvares. Lira dos vinte anos. Martin Claret: São Paulo, 2017.

DIAS, Gonçalves. Primeiros cantos. Autêntica: Belo Horizonte, s/d.


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