Os pensadores Comenius (1592-1670) e Rousseau (1712-1778) são dois grandes intelectuais que dedicaram atenção à educação. As propostas idealizadas por ambos são objeto de estudo nos cursos de formação de professores e não é sem motivo que isso acontece, afinal suas reflexões permanecem atemporais, pois falam sobre a importância da educação, como realizá-la e o resultado esperado.
Suas propostas permanecem relevantes, pois, um dos maiores desafios na sociedade contemporânea é identificar, qual o processo mais eficiente para formação das novas gerações? Os modelos de ensino são variados, utilizam metodologias que prometem conduzir crianças e jovens pelo caminho que leva ao mundo adulto, isto é, um lugar que remete à aquisição de responsabilidade, compromisso, amadurecimento, dedicação e orientado pela ética do trabalho.
As instituições de ensino aparecem com o papel de extrema importância para transmissão dos valores aceitos e reconhecidos. Realizar uma formação voltada para aquisição de habilidades, competências e atitudes, que significam a internalização de uma certa socialização, não é uma atividade simples, pois, as exigências tendem a não considerar o handcap dos indivíduos.
Articular dois autores, Comenius e Rousseau, com contexto de vida e propostas, embora, distantes devido ao período histórico, permite observar possíveis pontos de divergência e de aproximação que podem ser orientados para ajudar a entender o ambiente da formação, com o cuidado de não promover o anacronismo.
Comenius e Rousseau, na atualidade, ajudam a perceber o dilema que há sobre a decisão do tipo de formação. Suas ideias estão pautadas na condição da criança em relação ao aprendizado e, consequentemente, do “homem” durante sua sociabilidade.
Comenius entende que a criança é imaculada e necessita de todo o aprendizado para tornar-se plena em sua sociedade. Por isso, a educação é de suma importância para seu desenvolvimento tanto para o bem do seu convívio na e para com a coletividade, como também no seu desajuste no não cumprimento daquilo que pensamos ser moralidade.
Rousseau compreende que a criança é boa desde seu nascimento, uma natureza ‘divina’. A sociedade com suas instituições e sua cultura corrompem este indivíduo, dando-lhe outra natureza ou uma nova condição. Sua visão de educação é dividida em três maneiras de aprendizagem: a educação da natureza, a educação dos homens e a educação das coisas. Sua busca é pelo equilíbrio entre às três educações com ênfase na natureza, pois, é a que desenvolve nossas faculdades intrínsecas para o bom desempenho físico e psicológico.
A educação em Rousseau é pensada como um processo, a aprendizagem faz referência aos saberes que devem ser adquiridos. A ênfase está no desenvolvimento intelectual do indivíduo e envolve a figura do educador como protetor, preservando a criança e garantindo o desenvolvimento da inteligência de maneira não prematura ou impositiva. Seu objetivo é ensinar a criança a viver, aprendendo a gostar dos saberes de maneira livre. Em Comenius, o resultado esperado com a educação é a pansófia que deve permitir trilhar o caminho que leva a onisciência.
Os autores, embora divirjam no ponto de partida, desejam chegar ao mesmo ideal, a educação dos homens pode amparar o indivíduo em seu convívio na sociedade. Com Rousseau surge o questionamento que a educação adestra a natureza do homem e que rompe com sua essência transformando-o em cidadão. Comenius está ciente desta capacidade, reconhecendo que educação faz os homens, e almeja a modelagem do indivíduo por meio da disciplina.
O dilema da educação, o modelo de formação, atinge sua maior contestação: disciplinamento ou mediação? Qual a melhor maneira de desenvolver o homem e construir o cidadão que almejamos? Essa pergunta indica a presença de um debate que está presente na gestão escolar e na gestão da sala de aula em diferentes localidades.
As propostas entendem que o indivíduo requer aprendizado para se situar no meio social. Comenius com ênfase no disciplinamento e o Rousseau propõe maior liberdade para interação com aquilo que está à disposição da criança e do jovem para promoção do conhecimento. Nos escritos de ambos os pensadores, a instituição escolar é formadora e reformadora de valores.
Refletir sobre as duas propostas, permite identificar a necessidade de melhorar a condição do homem sem que seus interesses, sua natureza e sua condição sejam deformadas. O tipo ideal de indivíduo civilizado, é crítico, emancipado, autônomo e altruísta, qualidades que a educação incute através do conhecimento que pode torná-lo um cidadão.
Disciplina e mediação, polos que orientam as ações que afetam as gerações mais novas, interferindo na condição de homem e na situação de cidadão. Portanto, os clássicos da educação, Comenius e Rousseau, contribuem para o debate contemporâneo mesmo após séculos de transformações sociais.
Imagem de destaque: Galeria de imagens