Rita Rangel
O Novo Ensino Médio pretende atender às necessidades e às expectativas dos jovens, fortalecendo seus papéis de protagonistas enquanto participam ativamente do processo de aprendizagem, já que têm autonomia para escolher as áreas em que desejam aprofundar seus conhecimentos. Além disso, as práticas pedagógicas se organizarão tendo como premissa a aprendizagem, considerando a perspectiva de quem aprende, e não somente de quem ensina.
Impactos e desafios para os alunos
A partir deste contexto, os estudantes desenvolverão novas estratégias de aprendizagem, além de expandir as habilidades ligadas aos eixos estruturantes dos itinerários formativos – investigação científica; mediação e intervenção sociocultural; processos criativos; bem como empreendedorismo –, cujos papéis são proporcionar novas experiências educativas conectadas à realidade, a fim de colaborar para as formações pessoal, profissional e cidadã.
Neste sentido, aprimorarão o autoconhecimento, a autorreflexão e o senso crítico, para que possam encontrar seus caminhos, vocações e habilidades para a efetivação de seus projetos, como a capacidade de acessar, atualizar e produzir conhecimentos ao longo da vida, de criar e inovar, de questionar, intervir e ser agente de transformações sociais, culturais e ambientais.
Impactos e desafios para os docentes
Para os docentes, os desafios englobam a mudança de perspectiva sobre o ensino e a adaptação às novas abordagens, que passam a enxergá-lo não somente como aluno, mas como um ser integral preparado para lidar com todas as vertentes da sociedade com participação ativa no processo de aprendizagem. Com isso, professores agora assumem um papel de mediadores, que é mais desafiador do que ser apenas um vetor responsável pelas informações.
Nesse processo, cabe ao professor pensar e estudar a forma como ele pode contribuir para que desenvolva experiências sólidas de aprendizagem e, para isso, é imprescindível que haja conexão entre o objeto de estudo e o que acontece na vida, de forma que a experiência escolar tenha cada vez mais sentido.
Impactos e desafios para as instituições de ensino
Neste cenário, as escolas terão autonomia para definir quais os itinerários formativos irão ofertar. A partir disso, um dos principais desafios, além da transição de uma prática pedagógica predominantemente transmissiva para uma abordagem ativa de aprendizagem, e sua reorganização estrutural, é envolver toda comunidade escolar nos processos de tomada de decisão. Mudanças são complexas e exigem clareza de onde se quer chegar, senso de interdependência e ambiente de confiança para que sejam efetivas e gerem os resultados esperados.
Um exemplo disso pode ser o envolvimento dos próprios estudantes no assunto em questão, por meio de assembleias e outros fóruns de discussão. Dessa forma, é possível fazer com que atuem tomando decisões e respondendo por elas responsavelmente, apoiados pela equipe pedagógica – professores, coordenadores e orientadores educacionais.
Por outro lado, é fundamental que as instituições capacitem seu corpo docente, no qual muitos professores terão que tomar consciência sobre seus modelos mentais, pois deixam para trás seus papéis expositivos e de supostos detentores do saber e assumem o de mediadores, de fato, da aprendizagem. Com isso, o planejamento de uma aula como tradicionalmente conhecemos – o adulto fala e os estudantes escutam, sai de cena e dá espaço para o desenho de experiências de aprendizagem, com intencionalidade pedagógica, que aguçam a criatividade, a autonomia, a criticidade, a responsabilidade, a capacidade de resolver problemas e o desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais de todos os envolvidos.
Para as redes de ensino que já iniciaram o processo de atualização, cabe ampliar vivências e experiências, integralizar os eixos estruturantes e alinhar o projeto pedagógico em toda a Educação Básica. Um exemplo disso é uma prática coerente com a concepção de uma criança potente, que a encoraje em suas investigações e descobertas sobre o mundo, contribuindo para que desenvolva e amadureça suas hipóteses, por meio da interação com seus pares e adultos num espaço pedagogicamente organizado. No Ensino Fundamental, o engajamento dos estudantes em projetos de trabalho e a vivência de metodologias ativas criam oportunidades desde então para que desenvolvam o papel de estudante investigativo, potencializando ainda mais a experiência dos itinerários formativos quando chegam ao Ensino Médio.
Apesar dos desafios existentes frente à nova resolução do Ensino Médio, as expectativas são positivas com relação aos ganhos para a educação brasileira. A proposta da nova reforma, alinhada às demandas do século XXI, chega para trazer mais sentido para a vida dos estudantes, uma vez que o ato de aprender se configure como uma experiência pessoal, organizada, ativa e investigativa.
Sobre a autora
Rita Rangel é Gestora Pedagógica da rede de colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição à uma proposta educacional disruptiva e alinhada às principais tendências do mercado de educação.
Imagem de destaque: Galeria de Imagens