O Direito à Educação não se reduz ao Direito à Escola!

À guisa de despedida!

Tendo sido lançado em abril de 2013 como Boletim Pensar a Educação em Pauta, este jornal passou a abrir com um Editorial a partir da edição número 14, de 01 de agosto do mesmo ano. Naquele momento nascia um Editorial e, com ele, um Editorialista! De lá para cá, foram 358 edições e, portanto, editoriais escritos. Exceto o segundo semestre de 2018, quando estava fora do Brasil, atuei como editorialista. Agora me despeço da função.

Acompanhar o debate público sobre a educação, escolher um tema, buscar informações, escrever um texto que, ao mesmo tempo, espelhasse a visão do Jornal e fosse compreensível a uma pessoa não especialista da área, nem sempre foram tarefas fáceis. Não foram poucas as vezes que buscamos ajuda junto a pessoas do Programa Pensar a Educação Pensar o Brasil – 1822/2022 ou fora dele, assim como não foram poucas as vezes que a Coordenação do Programa foi convocada a debater as posições expressas no Editorial.

Nos mais de 300 Editoriais que escrevi para o Jornal, busquei expressar uma postura crítica sobre a realidade brasileira, tendo sempre no horizonte a defesa de que uma educação pública, laica, inclusiva, gratuita, democrática, diversa e de qualidade socialmente referenciada é um direito de todas as pessoas. Doutra sorte, busquei sempre reforçar uma posição, que é a do Pensar a Educação, de que é necessária a participação das/dos profissionais da educação básica e do ensino superior no debate público sobre os rumos da educação.

Disputar os sentidos da educação e, ao mesmo tempo, não aprisioná-la na gramática ou nas redes discursivas que insistem em reduzi-la à sua forma escolarizada, sempre foi um desafio. Dizer para sujeitos altamente escolarizados que a escola é importante, mas que não é toda a educação e nem pode tudo, nem sempre foi tranquilo. O desafio ainda hoje permanece: como reforçar o lugar social da escola na formação das novas gerações e, ao mesmo tempo, a ideia de que o direito à educação não pode ser reduzido ao direito à escola?

Se se observar no tempo, o próprio Jornal cresceu operando com a ideia de que os lugares e as formas de educação são múltiplos e que, portanto, o debate sobre a educação tem que se articular aos debates sobre a cultura, à literatura, ao cinema, às artes plásticas, a assistência, à moradia, aos direitos humanos como um todo. O direito à educação é o direito a todos estes direitos e a muito mais! Por isso, nada do que é humano pode ficar de fora de um jornal que se quer parte de um projeto político-cultural emancipador! E foi isso que tentamos expressar nos Editoriais.

Passados todos estes anos, deixo a função não apenas com a sensação do dever cumprido, mas com a alegria de saber que o Jornal se consolidou e é, hoje, um espaço de sociabilidade e de debates de profissionais da educação e áreas afins de todo o país. É uma experiência longeva e única no Brasil mantida coletivamente por dezenas de articulistas e, sobretudo, dezenas de milhares de leitores.

Os agradecimentos são muitos e a centenas de pessoas, às quais é impossível nomear. Mas não é possível deixar de mencionar a Isabella Brandão Lara, criadora do Boletim, às editoras e ao editor que comigo trabalharam ao longo do tempo – Priscilla Bahiense, Yolanda Assunção e João Victor Oliveira-, à Equipe do Pensar a Educação, às/aos articulistas que acreditaram e acreditam na proposta, as parcerias institucionais que ajudam na manutenção do Jornal e, é claro, às leitoras e aos leitores que nos gratificam com suas leituras e atenções.

Finalmente, neste momento em que deixo as funções de Editorialista do Jornal e me despeço formalmente das atividades do novo Programa Pensar a Educação Pensar o Brasil, agora sem as datas limites que o caracterizou até aqui, deixo uma saudação especial ao Tarcísio Mauro Vago, companheiro dessa longa travessia iniciada em 2006, e à Libéria Neves, nova Coordenadora Geral do Programa que, muito mais do que consegui até agora, saberá conduzir as ações e invenções para caminhos sempre mais criativos e comprometidos com os sonhos que sonhamos juntos.

Belo Horizonte, 16 de dezembro de 2022
Luciano Mendes de Faria Filho
Editorialista


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