O debate social e político no ritmo das redes sociais

Daniel Machado da Conceição

A saturação de informações é uma nova realidade que tende a influenciar como encaramos as esferas social e política, que ganham aceleração no ritmo das redes sociais. Em meados dos anos 2000, redes sociais como Orkut e Facebook surgem agregando a possibilidade de novos vínculos, permitindo a formação de um espaço no ambiente virtual que aproxima pessoas, não estando mais limitadas pela distância ou barreiras fronteiriças.

O Orkut foi a rede social que deu início ao processo. Nela se publicavam fotografias (imagens) e breves comentários, muito semelhante aos fóruns de discussão. O Facebook, por sua vez, explorava outras ferramentas virtuais como o reconhecido “curtir” e, rapidamente, se popularizou. 

Em 2010 e 2014, o Facebook foi uma arena virtual na qual o debate social e, principalmente, político encontrou um campo fértil. As postagens nos perfis virtuais foram somadas a grupos ou comunidades de interesse. Empresas e veículos de comunicação começaram a produzir material para ser publicado e compartilhado nesse ambiente. Temas ligados à política ganharam magnitude e uma arena de disputa. No entanto, não podemos esquecer que em 2010 o acesso à internet não estava disseminado e se restringia a um grupo populacional mais abastado, muito diferente da realidade nas eleições majoritárias em 2014 e 2018. 

Em 2014, a popularização do acesso à internet através dos dispositivos móveis como smartphones viabilizou o alcance das redes sociais como um dos principais veículos para o debate público. Muitas das manifestações populares como Não é só 20 centavos, megaeventos, corrupção e impeachment, foram potencializadas ao utilizar esses aplicativos, uma imagem de protagonismo dos usuários que inocentemente no ambiente virtual não percebiam a influência da mídia tradicional orientando os temas e pautas. 

As manifestações populares somadas a uma série de outros eventos relacionados foram compartilhados e debatidos na arena virtual, a comoção e oportunismo culminou com o golpe contra a democracia brasileira, iniciado em 2015 e finalizado com o processo administrativo em 2016.

As redes sociais, Orkut, em menor escala, e Facebook, se consolidaram como uma arena desregulamentada, o que potencializou embates pró e contra determinadas pautas. A sua facilidade ou popularização orientadas a vidência ocuparam espaços e tempos antes dedicados, sem a mesma condescendência, em uma sala de espera ou em conversações aleatórias em meio às muitas filas de espera, aguardando atendimento. O ritmo das postagens nesses aplicativos é muito mais lenta, pois, algumas publicações envolvem textos jornalísticos ou similares, exigindo leitura, uma certa ponderação e possibilitando comentários. Ações pautadas dentro de um ritmo que estrutura a maneira de como nos mantemos informados. 

Os dispositivos móveis, especificamente, os seus aplicativos dinamizaram a circulação de informação e a maneira como nos relacionamos com ela. No momento atual, redes sociais como Instagram e Twitter aceleraram ainda mais esse processo que se reduziu a mensagens rápidas com imagens, vídeos e escrita limitada a um determinado número de caracteres. Isso faz com que a frequência das postagens seja muito maior, em ritmo alucinado, pois, cada comentário pode gerar uma nova postagem na linha do tempo do perfil virtual. 

Não há espaço para discussão, ou melhor, para argumentação, restando apenas a oportunidade para comentários de apoio, ofensas ou xingamentos. Infelizmente, não conseguimos mais acompanhar de maneira diletante as postagens, isto é, no campo político as propostas e decisões governamentais ou da chamada oposição. 

Os usuários precisam definir os seus interesses e preferências, sendo alimentados com informações rasas e superficiais. Esse ritmo frenético foi levado para o campo político, aceleramos o volume e ampliamos as informações, o efeito é um vertiginoso looping, ao ritmo do Instagram e Twitter. 

As chamadas fake news são consequências nefastas desse processo que está atravessado por manipulação e disseminação da desinformação. Steve Bannon é um personagem no mundo globalizado que anteviu esse processo e criou estratégias para aproveitar a saturação de informações, filtrando e direcionando para estratos sociais específicos e com resultados para ele positivos, pois, a sua estratégia contribuiu para vencer eleições majoritárias nos Estados Unidos da América e no Brasil.

A saturação das informações que se multiplicam em seguidas postagens, não incentivam a argumentação e debate. Na verdade, procuram romper com essa lógica, pois, a arena virtual mede a aceitação de uma proposta através da repercussão ou comoção dos “seguidores”, quantificado em “curtidas” e “likes”. Quando não foi aceita ou apoiada, basta realizar uma nova postagem. Inclusive, a postagem seguinte pode negar a anterior, afirmando ser uma brincadeira, mesmo ao dar uma guinada na perspectiva. 

Esse vertiginoso looping de mensagens com posicionamentos e proposições que mudam ao ritmo de uma publicação, gera angústia, incerteza, insegurança e apreensão, já em outros desprezo e desinteresse que não contribui em nada para pensarmos uma mudança para avançarmos no debate público de grandes questões nacionais.

O ritmo das redes sociais parece representar a frenética velocidade presente na sociedade contemporânea. As relações, opiniões e contatos tornam-se fluidas, mediadas por um falso protagonismo carregado de incongruências em razão da ingenuidade ou de uma pérfida falta de conhecimento.


Imagem de destaque: Pxfuel

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