Às ruas, cidadãos!

Dalvit Greiner

É complicado um chamamento desses em nossos tempos e nesse lugar. Fica-se incitado a ir às ruas, sem lenço nem documento. E com esse vírus rondando solto torna-se mais difícil tomar uma decisão.

Os franceses de 1789 disseram: às armas, cidadãos! Ou seja, chegaram naquele limite da política: usar armas para fazer valer a sua vontade. No caso, a vontade popular. E, para evitar as armas, o mundo contemporâneo reinventou a Democracia. Por isso, às ruas, cidadãos!

Nossa ação política não pode ser em redes sociais virtuais. Ela deve ser em redes sociais reais, na rua, na praça pública. O lugar do povo, como o céu é do condor, já nos convidava Castro Alves.

Mas, nada de desprezar as redes sociais virtuais. Claro que digo isso para quem tem condições materiais (celular, computador etc.) para estar nas redes. As redes são muito boas para propagar nossas ideias e realizar nossos chamamentos.

Assim, volto a lembrar o significado grego do idiota: aquele que não participa da pólis, da cidade e do convívio humano fora dos limites privados, ou seja, no espaço público. E aqui, também, cabe lembrar, a casa enquanto espaço privado é uma necessidade, porém torna-se uma prisão.

A convivência social é que nos salva dos nossos demônios. A maioria dos demônios são privados, quer dizer: cada um, cada uma tem os seus. Mas, em público eles não se manifestam e vão perdendo espaço em nossas vidas.

Nossos demônios públicos têm nome e endereço. Em geral, são pessoas que se aproveitam da política e da Democracia para se legitimarem no poder. Os liberais sabiam e sabem mexer com a nossa Liberdade, essa utopia no horizonte. Então, propagam para os quatro cantos que só eles entendem de Liberdade. 

Para os liberais, a Liberdade total, sem nenhuma responsabilidade em relação aos outros e ao planeta, é a sua meta. Os seus princípios estão nos seus interesses privados. Para as esquerdas (que definição difícil), a Liberdade é coletiva, na rua, no meio do povo, com solidariedade e responsabilidade. Nossos princípios estão nos nossos interesses públicos e coletivos.

A ideia democrática de maioria é momentânea. Mudar de opinião é saudável. Mudar de princípios é um problema. A opinião é momentânea, resultado da informação, verdadeira ou não. Os seus princípios fazem parte do seu caráter, da sua formação desde o berço. Não são imutáveis, mas tornam-se marca indelével de sua personalidade.

Dessa forma, é possível mudar sua opinião dentro de seus princípios. Mudar de princípios é converter-se a algo novo. É, praticamente, iniciar uma nova vida num abandono total da vida anterior. É muito comum na religião, porém, na política é muito difícil uma conversão.

Tanto as opiniões quanto os princípios devem ser considerados quando pensamos a Democracia. No domingo passado, dia 12 de setembro de 2021, quem esteve nas ruas foram as pessoas de princípio antidemocrático que mudaram de opinião. Há bem pouco tempo apoiaram vários atuais governantes – estaduais e federal – que estão no poder. Mudaram de opinião, mas não mudaram de princípios.

Por isso, é importante que mantenhamos nossos princípios democráticos. Tais princípios se fazem nos espaços coletivos, nas escolas, nas fábricas, nas associações. Nas ruas. Mesmo em tempo de pandemia, a rede social real tem que funcionar com segurança e tranquilidade.

Portanto, às ruas, cidadãos!


Imagem de destaque: A Liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *