Durante esta semana a cidade de Medellín, na Colômbia, recebeu um número significativo de historiadores e de historiadoras da educação, vindo de toda a América Latina e da Europa, os quais assumiram o encargo de discutir a memória e a história da educação no continente.
Na Universidade de Antioquia, onde se realizou o XII Congresso Ibero Americano de História da Educação Latino Americana, o controle de acesso ao Campus Universitário por meio de uma ostensiva segurança, contrastava com a vida política aparentemente agitada daqueles e daquelas que cotidianamente fazem a universidade: em todo o campus os coloridos painéis convivem com mensagens de intervenção política a favor e contra um conjunto muito expressivo de temas e problemas.
As intervenções no Congresso, assumidas por pesquisadores e pesquisadoras de diversas gerações, ao mesmo tempo em que punham em causa a própria ideia de América Latina, retomavam continuamente a perspectiva de que, seja como for, nosso destino parece estar intimamente ligado. Não por acaso, as preocupações dos congressistas faziam coro com aquela dos periódicos de circulação nacional e indagavam sobre os recentes e, às vezes, recentíssimos acontecimentos no Brasil. Interessante, a este respeito, é que a crise no Brasil parece ocupar mais espaço aqui do que a eleição americana em que Donald Trump parece mesmo granjear o apoio do Partido Republicano para a disputa da Casa Branca.
Num momento em que os desfechos da crise no Brasil e da eleição americana são absolutamente imprevisíveis, assim como igualmente preocupantes para as instituições e conquistas democráticas, é mais do que bem vinda a reflexão sobre os caminhos e descaminhos históricos que nos trouxeram até aqui. Nesse sentido, a história da educação, talvez mais do que a história da economia ou da política que se tornaram o modo principal de entender a história do continente, pode ser profundamente reveladora dos passados que autorizaram este nosso presente coletivo.
Em praticamente todos os países, mostram os historiadores, a educação pública foi sempre considerada de grande valor político e econômico, mas raramente foi considerada em sua dimensão cultural de diálogo com nossas raízes e tradições, preferindo-se, quase sempre, o diálogo, muita vezes subserviente, com aquilo que acontecia na Europa e nos EUA.
O esquecimento das tradições e epistemologias nativas anda de mãos dadas, em nosso continente, com as dificuldades estruturais de fazer uma escola dequalidade para todos. Os discursos e as promessas raramente foram capazes de se objetivar em políticas educacionais e, sobretudo, em orçamentos nacionais, capazes de acolher os professores em carreiras dignas e dar-lhes o retorno de um salário a altura de suas responsabilidades para com as novas gerações.
Doutra parte, as histórias contadas no Congresso demonstram que dessa nossa história comum, desse nosso passado compartilhado, podem vir fecundas formas de fazermos a educação. Ler, ouvir, falar e escrever estes outros que habitam nossos passados podem ser formas de reconstrução de laços partidos por estreitos nacionalismos e de tornarmos nuestra América Latina cada vez mais democrática e igualitária. Inclusive, mas não apenas, na e pela educação.